sexta-feira, 20 de abril de 2012

Mais tempo

Não, não vou reclamar do tempo, da vida que corre, da pressa para fazer tudo, desde trabalhar até encontrar com os amigos. Não vou falar de uma agenda espremida, dos minutos contados e dessas coisas que a gente jura que são indissociáveis da vida nos tempos modernos. Vou falar é de quando a gente resolve fazer escolhas mais curtidas, mais esticadas, de quando a gente se dá mais tempo.

A proposta é ser razoável com a agenda. Alguns centavos a mais e minutos a menos? Isso é inconcebível no modo de vida a que aspiro agora. Melhor ficar mais tempo na cama, curtir os lençóis – e se tiver um cheirinho Zen Perfumado, melhor – mesmo que seja só por um ou dois da semana apenas. Já vale!

E se a saudade manda definir uma tarde da semana só para ir ver uma pessoa especial? O que pode impedir? O trabalho? Sempre haverá o fim de semana.

Deixar de fazer a caminhada, ficar com unhas mal-cuidadas, cabelos com raiz branca, não passar a camisa e sair desalinhada, não tomar aquele suco, porque leva tempo pra fazer, não ler aquele livro grossão... E por falta de quê? De tempo. Ah, vai lá, dá um tempo pra você!

Vou dizer uma coisa: Tempo é vida. Viva!

domingo, 1 de abril de 2012

Um deslize e outro

O dicionário esclarece: deslize é ato ou efeito de deslizar, é escorregar brandamente, ir resvalando, derivar suavemente. Depois completa: desvio do dever, descuido, lapso, engano involuntário. De um jeito ou de outro, ando deslizando. 

Primeiro, vamos falar do deslize como engano. Não é premeditado, não há a intenção e, quando a gente nota, já falou o que não queria, já foi mais ríspida do que pretendia. Acontece. Fazer o quê? Depois de uma resposta mal dada, só resta o silêncio constrangido e, depois, um pedido de desculpa. Dizem que quem nunca comeu melado, quando come se lambuza. A moça que nunca se atentou para o que desejava de fato e aceitava oferecimentos pelo gesto de carinho, agora, percebe que pode dizer não. E diz. Só precisa aprender a não se lambuzar com as palavras. Hei de achar o tom exato, que fica entre o respeito e o carinho.

Ah, mas vamos ao deslizar que mais me interessa, o deslizar que é escorregar brandamente. Vivi esta experiência no fim de semana. Começouna sexta-feira. Cheguei em casa e uma caixa enorme estava sobre a mesa. Pensei que podia ser um presente para mim. Mas, aí, caí na real, porque não era meu aniversário, ninguém ficou de me enviar nada, não comprei pela internet... Como seria para mim? Usei a lógica para não me frustrar. Mas, então, ouvi as palavras mágicas: "chegou para você." Ah, que alegria, que emoção de noite de Natal, que festa de criança no meu íntimo. Depois de resistir, com medo de ser um trote, abri a caixa e descobri um par de patins. Quase chorei de alegria. Todo mundo merece uma surpresa destas numa sexta-feira. O Rogério fez isso por mim. Foi lindo.

É neste ponto da história que entra o outro deslize. No sábado, fomos para um local ideal, um cantinho discreto próximo à pista de caminhada da Barragem Santa Lúcia. Ali, preservando-me dos olhares curiosos, calcei os patins e... Tchbum! Não foi possível nem ficar em pé, fui ao chão com as pernas para o ar – e que pernas! Levantei-me rápido, sentei-me no banco com esforço e ia ficando, queria desistir, esquecer o vexame. Dizia-me que não seria capaz de me equilibrar sobre aquela coisa. Mas, aí, pensei no Rogério e resolvi tentar mais uma vez, e outra e... Consegui! 

Agora, é com a satisfação de quem já fica de pé e sai deslizando que afirmo: como é bom aprender uma coisa nova. Aos 47 anos, sou mais aprendiz do que nunca. Aula de Yoga, patins e – o mais importante – estou aprendendo a comer melado sem me lambuzar. Isso significa respeitar o meu querer, sendo amorosa comigo e com o mundo. Eu chego lá.

O que eu mais quero é deslizar suavemente pela vida. Porque gostei da experiência. Obrigada, amore, pelopresente maravilhoso!