segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Desafio I - Pra que te quero?

O convite era tão tentador quanto o meu desejo de algo novo. Então, aceitei e acalentei lá no íntimo uma esperança de milagre. Ao longo de cinco meses, paguei a parcela devida como quem paga o dízimo. Pensei com humor que queria garantir o meu lugar no céu – e, aqui, céu era paz de espírito, clareza, compreensão dos caminhos e força nos descaminhos. Eu queria o tipo de experiência que costuma tornar a vida uma aventura mais digna, quiçá mais bonita. O convite era minha oportunidade.

Eu disse sim e reservei o meu lugar entre as quase 300 pessoas que se vestiriam de branco e circulariam nos intervalos pelo espaço preparado com esmero e que somava mais um trunfo: estar à beira da Lagoa da Pampulha. A cada dois anos, a ABAKY – Associação Brasileira dos Amigos da Kundalini Yoga promove o Tantra, um encontro que reúne praticantes de kundalini yoga de todo o Brasil. Ao dizer sim, eu não sabia exatamente o que esperar. Prática de yoga, meditação, palestras? Eu não sabia, mas também não questionei. Apenas confiei na intuição de algo bom.

Uma semana antes, já podia sentir alguns efeitos da minha participação. Primeiro, percebi desconforto. Quem é que gosta de arriscar-se em algo novo, quando há o aconchego dos hábitos costumeiros? Depois, percebi que a razão não deixava dúvidas, afirmando como senhora de longa estrada: eu consigo.
 
Mas não foi só a razão que orientou minha escolha e os meus passos. Foi também a intuição, aquele sentimento vago que sussurra como advinho: "vai valer a pena".

Na noite anterior, pensei mais de uma dezena de vezes no que podia esperar. No íntimo, eu me perguntava: por que inventei isso? Pra quê? Será mesmo que vai valer a pena?

Sem resposta clara, corpo e mente agitavam-se. Dormi mal, acordei diversas vezes e, se mantinha firme o propósito de ir, também permanecia a pergunta: pra quê? Respirar fundo, tocar o desejo mais íntimo e calar a mente foi o meu primeiro desafio. Venci calada a noite e a dúvida.

No sábado de manhã, vesti-me em paz. Percebi uma certa leveza nos meus gestos e era eu colocando o solene no ritual de preparo.

Foi com firmeza de propósito que cheguei e que cumprimentei a minha professora. Ao receber o  sorriso de boas-vindas, ao olhar em volta e ver beleza e paz no cenário, entendi que ali era o meu lugar.

Pra quê? Não precisava mais saber. Eu já estava vivendo algo bom e diferente. Será assim também com a vida?