segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Dias amargos

Jiló na sopa, conserva de jurubeba, chá de boldo ou de carqueja... De vez em quando, o amargo dá o sabor do dia. Algumas pessoas gostam muito, juntam o útil ao desagradável e ainda fazem cara boa. Há quem usa o amargo para transformar a comida insossa em um algo mais palatável. Claro, depois de uma jurubeba, até arroz sem tempero fica bom. E há quem nem mesmo experimente. Jamais faria parte deste grupo. Posso até fazer careta e engolir rápido, mas experimento. Por vezes, até gosto, como no caso do jiló cozido inteiro dentro da sopa.

Jiló dentro de uma sopa de legumes é uma surpresa, ele intensifica o sabor dos outros ingredientes. Não fica tão amargo, chega quase a ficar adocicado, mas faz a cenoura aparecer, a batata ganhar graça, a abóbora brilhar e a batata doce se superar. Precisa ser cozido inteiro. Colocar só um pedaço atrapalharia toda a receita. Aí, sim, ficaria amargo.

Acho que tem a ver com a vida também. Nos dias amargos, tentar viver pela metade é a pior estratégia. Melhor entrar por inteiro na tristeza, na decepção, na frustração, para entender melhor, para poder sair mais forte, para saber que, no final das contas, a vida tem disso e que, apesar dos pesares, vale a pena ser saboreada às colheradas.

A vida não é sopa, mas pode ser gostosa, inclusive com os seus amargos.