terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Tenho 50 anos

Hoje eu posso dizer: tenho 50 anos e fiquei mais boba. Não no sentido de ignorante, mas como disse Clarice Lispector: "O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver." Então, estou mais boba para viver melhor a vida. Ocorre que, sendo boba, a dor do outro me dói mais, viver mesmices não me incomoda mais, comer me alenta menos e me engorda mais, chorar não me constrange mais, não gostar de descutir política não me envergonha mais, praticar yoga me interessa mais, meditar me agrada mais – e isso é relevante, porque me agrada mais do que uma noite de balada, ou de farra, ou seja lá o que se diz hoje quando se quer dizer "chutar a lata".

Sim, prefiro mil vezes dormir mais cedo e, logo nas primeiras horas da manhã, entoar: "Ong Namo Guru Dev Namo" e, depois de alguns minutos de prática, me sentir revitalizada para mais um dia de trabalho; prefiro andar sozinha do que mal acompanhada – e sei distinguir a companhia; prefiro a simplicidade de um sorriso do que elogio forçado – e sei ver a dobra dos lábios; prefiro me calar do que falar. Ponto.

Dito isso, confesso ainda: não me sinto mais esperta ao completar 50 anos. Sinto-me mais perto. E isso é o que me interessa. Mais perto de quem eu gosto, mais perto de quem eu sou de fato, mais perto do que eu quero fazer, mais perto de quem me importa, mais perto de quem se importa comigo, mais perto da resposta.

E a pergunta é esta: O que é a vida afinal?

Ora, o que é viver a vida, senão dar lugar às descobertas?

Hoje, por exemplo, tenho rugas, mas ando descobrindo que a elasticidade da pele não se compara com a largueza da alma.

Sou mesmo uma grande boba.