quinta-feira, 24 de abril de 2014

Lentamente

Acordo e, depois do copo d'água, do colchonete no chão, sento-me em easy pose e, cheia de boas intenções, pratico yoga e medito. É o meu momento de coração calmo e começa com cheiro de café vindo da cozinha, cheiro de menta – resquícios do creme dental – e um resto de sono, feito de fragmentos de sonhos vindo à tona, bocejos e alguma moleza. Há tempos inclui esse ritual no meu dia.

Às vezes, uma pessoa mais íntima me questiona: "Mas tem que ser todo dia? Não dá para ser mais flexível com a disciplina?" Raramente dá. Da mesma maneira que como quando tenho fome, tomo banho e me visto com o esmero possível, da mesma forma que durmo, escovo os dentes, corto as unhas, da mesma forma que ando ou corro para cuidar do corpo, preciso de um start mais zen para o meu dia. Só pra ver e fazer a vida de outro jeito.

Interessante notar que, depois de dois anos, nada parece diferente em mim, na minha personalidade, no meu jeito de me relacionar com o mundo, nada parece diferente com os meus desejos e sonhos. Então, por que continuo? Por que medito, canto, me estico, me esforço? Por que insisto nas poses mais difíceis? Por que busco ir além dos meus limites?

Mantenho o ritual, porque percebi que mudar e evoluir é suave como o vento. Ninguém dá notícias, ninguém vê o trabalho, mas uma mudança se processa. Lentamente, como água que corre todos os dias pelo mesmo curso e vai arredondando as pedras, eliminando arestas, uma grande mudança se processa. Ninguém sabe, ninguém viu, ninguém se dá conta, até que se percebe que a pedra mudou.
 Na minha prática cotidiana, tento ver a pedra que sou. Respirar, aquietar-me, confiar na prática e no tempo é como ver a água passar e perceber que aquele barulhinho que ela faz é um convite:

"Vamos mudar mais um pouco hoje?".

E hoje é todo dia que começa. Por isso insisto.