sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Sou grata

Comecei a praticar Kundalini Yoga sabendo que traria algo novo para a minha vida. Talvez mais disposição física, mais vitalidade ou flexibilidade. Talvez um pouco mais de calma e tranquilidade. Eu não sabia que tudo isso seria apenas a parte visível de uma prática que vai muito mais fundo e, por isso, nos eleva.

Desde a primeira aula, a que cheguei muito adiantada, fui acolhida com um carinho que não imaginava encontrar. Gostei da sala ampla, da luz que se infiltrava pelas janelas, da vista para a montanha, do cheiro de flor, da acolhida, da possibilidade de ficar ali deitada sozinha. Enquanto esperava, pensei no que queria para mim daquele investimento que faria. Fiz isso pelo hábito de inventar conversas quando o medo do desconhecido me acerca.

Tinha medo de não conseguir me dobrar e desdobrar como nas fotos via nas revistas e nos sites de Yoga. Tinha medo de não gostar e frustrar minhas expectativas. Tinha medo do novo simplesmente. Aí, a aula começou e fui convidada a sentar-me em easy pose, fechar os olhos, inspirar e expirar lentamente. Aí, ouvi um som que repercurtiu suavemente e despertou algo bom em mim. Lembrança antiga, sentimento puro, outra vibração, energia? Foi a soma disso tudo. Gostei.

A aula seguiu sem sobressaltos ou poses que eu não pudesse sustentar. Foi simples. Foi respiração. Foi inspiração. Foi o início de um despertar para a percepção do corpo, do momento, do movimento. Foi o primeiro passo para a consciência individual que ainda busco e que me encanta a cada pequeno achado da prática diária.

Logo nas primeiras aulas, meus objetivos mudaram. Fui encontrando, não o que buscava, mas o que precisava. Encontrei respostas para perguntas que ainda não formulara. Sim, isso é possível. É possível dar saltos de percepção, de autoconhecimento, de crescimento e, antes mesmo de perguntar, encontrar uma resposta. Então, aprendi que não se tratava de uma experiência que se atem aos aspectos físicos, tratava-se de uma sintonia entre corpo, mente, espírito. É nisso que eu acredito.

Na minha primeira prática estendida, me desafiei a praticar o Sat Kryia 31 minutos por 40 dias. Era apenas uma iniciante e, logo nos primeiros minutos, achei aquilo um absurdo. Os braços estendidos sobre a cabeça ficavam dormentes, as pernas dobradas incomodavam, o som poderia incomodar os vizinhos... Inventei problemas, mas fui além. Aos poucos, fui me sentindo tão bem, que foi impossível interromper a Sadhana. De alguma maneira, fiquei mais forte.

Foi assim, encarando desafios e somando ganhos que participei das aulas e eventos que se destinam a aprofundar mais a Consciência Individual, de Grupo e Universal. A cada evento, sentia-me mais envolvida e, estranhamente, mais protegida. Pensava que o sentimento de proteção viesse de fora, do espaço, da proximidade com aquelas pessoas, até interromper as aulas por alguns meses e continuar sentido-me protegida. Foi quando descobri que paz e segurança vem de dentro e tem a ver com a sintonia com algo mais elevado, com o Ser Superior ou Mestre Interno.

Em três anos de prática, como qualquer pessoa, tive problemas de toda ordem, menores e maiores, mais sofridos ou menos. A grande diferença foi a forma como passei a encará-los. Não havia negação, não havia aceitação passiva, havia superação. Dei saltos no escuro e confiei que era o melhor para mim. Ainda dou e ainda acredito que sou amparada. Muitas vezes, tive que escolher perder, confiando que era o melhor. Ganhei muito com isso, apesar da dor de dizer adeus, apesar do sofrido processo de desapego.

Mas o que isso tudo tem a ver com a Yoga? Muito. Meditar, fortalecer o ponto do umbigo (que nos sustenta e nos faz mais capazes para enfrentar os desafios), manter poses desafiadoras, respirar de diferentes modos ou entoar mantras são práticas capazes de estimular e relaxar, de proporcionar saúde, trazer tranquilidade e muito mais.

Em 2014, deixei de frequentar as aulas, mas mantive a prática em casa. Não é a mesma coisa, mas, ainda assim, traz ganhos reais e perceptíveis.

A Kundalini Yoga está trazendo o melhor de mim para o mundo. Sou grata por isso.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Mudando a receita

Não sigo receitas. Pelo menos não integralmente. Sempre prometo a mim mesma seguir fielmente o disposto, desde a lista de ingredientes ao modo de preparo, mas não adianta. Quase sem perceber, vou  acrescentando um pitada disso, retirando uma dose daquilo. Poucas vezes dá errado e isso serve de incentivo, quando me pergunto, por exemplo, se uma dose de cachaça pode substituir o vinho no risoto de carne de sol.

Às vezes, mudo a receita apenas para ousar o diferente. Mas não é sempre. A maioria das vezes, mudo por curiosidade, mudo por vocação. Sendo redatora, desenvolvi o hábito de buscar um modo diferente de dizer a mesma coisa, de escrever a mesma mensagem de fim de ano todos os anos e, por profissão, descobri que sempre há um jeito de mudar, seja por uma vírgula ou um ponto.

Na cozinha, a vírgula pode ser a pitada de canela na almôndega, o ponto pode ser um raminho de tomilho no cogumelo fresco. Não tenho medo de ousar. Já errei, mas para tudo há conserto, ou pelo menos, um jeito de ocultar o erro. Um dia, fiz um bolo de morango e resolvi inclui-los na massa. Imaginei um bolo cor-de-rosa, lindo. Ficou marrom e feio. E daí? Bastou cortar o bolo em duas camadas, colocar recheio de ganache, umedecer com chocolate ao leite, cobrir com chantily e morangos e pronto: Ficou uma beleza. E gostoso.

Pois bem, chegando ao final do ano, eu me pergunto: Como vai ser 2015? A resposta é: Não sei, não faço a menor ideia, só sei que vou mudar mais um pouco a receita. Talvez eu acrescente uma boa dose de perdão, quando o coração quiser seguir leve. Talvez eu experimente amor no lugar da raiva para o afeto ficar no ponto. Talvez eu mude mais, incluindo riso, alegria e gratidão, ao invés de irritação. Espero gostar da minha nova receita e saborear a vida em colheradas.