segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Sonhando acordada

Passo por ruas que outros passaram. Olho o céu e vejo a mesma esperança que outros olhos buscaram. No curso da vida, muda-se o cenário, construimos novas edificações e nos convencemos do ineditismo do agora. Enquanto sigo, noto que o musgo do muro expõe o tempo e a fragilidade do cimento. Ele envelhece. Nós envelhecemos. Ele fica. Nós passamos.

E passo apressada. Atravesso a avenida alheia a quem vai ao meu lado. No entanto, seguimos juntos na história. Pensando em quem vai e em quem já foi, percebo que o agora é feito de presente e passado. Sou eu, você e todos que passaram, deixando rastros. Livros, filhos e árvores espiam a eternidade. Mas passam.

Então, o que fica? "Fragmentos de estranha civilização"? Sim, ficam e ficam ideais, sentimentos do mundo, o desejo de seguir. Seguimos todos os dias para o trabalho, para casa, para as férias conquistadas, para a padaria, seguimos para a caminhada diária, como se a estrada nos levasse a algum canto importante, quando o movimento que realmente conta é para dentro. Porque a eternidade é o que sonhamos.