Primeiro, venci o medo. Depois, a dúvida. Não bastasse isso, venci o comodismo, a câimbra, a dormência nos pés e braços, a pressa de alguns dias, as dores nos pés e a ansiedade para chegar ao fim. Venci, porque entendi que não adiantava ter pressa e desistir não era uma opção.
Então, aprendi a ir devagar, dia após dia, minuto a minuto, sem olhar para o relógio, sem pensar em sacrifício, concentrando-me apenas no movimento, que era um pulsar sem tempo. Nele, cada respiração e cada minuto representaram muito. Como tudo o que é conquistado com determinação e afinco, o aprendizado foi valioso. No total, somaram-se 21 dias, 31 minutos de prática por dia, mais de 10 horas no total. Sem falar nos 31 minutos de relaxamento. Do que falo? Falo da prática de Sat Kriya.
Mera aprendiz em começo de uma trajetória, ao ouvir, numa aula de Kundalini Yoga, a sugestão de praticar Sat Kriya por 31 minutos, durante 21 dias, ousei acreditar na minha capacidade de manter a disciplina e ser rigorosa com o meu propósito. Todos os dias, acordei muito mais cedo do que o costume, sentei-me sobre os calcanhares, com os joelhos dobrados e os braços estendidos para o alto e ali fiquei, respirando e repetindo compassadamente: SAT NAM. SAT NAM. SAT NAM... Deste modo, fui até o fim.
Mas preciso contar que li no livro O barão nas árvores, de Ítalo Calvino, uma frase da qual me lembro sempre que encaro um desafio e fico tentada a contar pro mundo. Dizia assim:
"As tarefas que se baseiam numa tenacidade interior devem permanecer mudas e obscura; por pouco que alguém as anuncie ou delas se vanglorie, tudo parece supérfluo, sem sentido ou até mesquinho. Assim, tão logo meu irmão pronunciou aquelas palavras, arrependeu-se de tê-las dito, e não lhe importava mais nada, e teve vontade de descer e acabar com aquilo..."
Cosme, o personagem referido, havia dito: "Sabe que ainda não desci das árvores desde aquele dia?" Ele estava conseguindo, mas falar sobre isso transformou a aventura em algo corriqueiro. Eu entendo isso. Colocar em palavras minha atitude foi simplificá-la. No meio do meu percurso, parei de falar para os amigos. Foi melhor assim.
Agora acabou e escrevo apenas para confidenciar: "se eu consigo, você também." E devo dizer algo mais. Depois de tudo, eu acho que consigo muito mais do que penso. Mas é melhor me calar. O ego pode escutar e ele atrapalha muito.