terça-feira, 28 de abril de 2015

Tempo ao tempo

Não tenho tanto tempo quanto imaginava. Acordo e tento colocar equilibrio e um certo vagar nos gestos diários, mas percebo que as horas passam rápido, os dias somam semanas, os meses avançam e lá se vai mais um ano. Não, essa constatação não me deprime. A correria de todos os dias ensina tanto, a disposição para fazer é tão grande, os encontros tão importantes, que o medo do curso da vida fala baixo.

Nessa de observar o tempo, esbarrei com uma percepção que desmente a música que embalou meus sonhos e minha juventude: não, não temos todo o tempo do mundo. Daí, decidi que não dá mais para viver de mentirinha ou brincar de esconde-esconde. Isso tem que ficar nos jogos da infância, na insensatez dos 20 ou nos percalços dos 40. Agora, viver pede leveza, comprometimento, força, clareza e integridade. É esta minha sintonia agora.

A lista não envolve seriedade. Saber que não tenho todo o tempo do mundo me deu vontade de rir. Rir do sofrer desnecessário, rir da mágoa recente e mais ainda da ausência de mágoa antiga, rir dos desacertos, das falas infelizes, das frases mal feitas, rir da sentença injusta e rir das conclusões absurdas. Porém, esse rir, às vezes, é no íntimo, lá, onde a leveza insuspeita habita em mim. E há outro porém: continuo sem vontade de rir da desgraça alheia, de videocacetadas, de piada preconceituosa, de falta de educação ou de respeito. Isso, para mim, nunca vai ter graça.

E se tem uma descoberta importante, é que o tempo muitas vezes vai rimar com sofrimento. Quando tudo parece bem, ele desponta e enche o peito. Só mesmo lágrimas para afrouxarem o nó. Então, às vezes, sim, eu choro. Depois, sigo firme, forte e com um sorriso que serve de isca para a alegria dos novos dias.

Uma amiga comentou outro dia que, aos 15 ou 20 anos, quem perde um amor ou um grande afeto se permite sofrer por anos... Isso não acontece mais comigo. Simplesmente, porque, já disse, não temos todo o tempo do mundo. Vale sofrer, vale chorar, só não vale parar. O comprometimento é seguir.

Claro, há dias em que duvido que eu possa seguir. É quando a dor é grande. Mas – quer saber? – se vivi grandes dores nos últimos anos, também vivi grandes alegrias. Coloco o meu foco nisso e vou percebendo que tanto a dor quanto a alegria lançam luzes sobre o caminho, revelando o finito e o infinito. Ando com essa clareza.

Também lastimei minhas perdas, amaldiçoei tristezas, mas, depois, fechei os olhos, olhei para dentro, entendi que a essência não se altera e que a sintonia mais certa é a do amor. Sem ele, não há perdão, não há entendimento, não há crescimento. Eu amo. Tu amas. Andamos juntos.

Termino dizendo que cada um tem os talentos, crenças e potencial para descobertas e escolhas únicas. Essas foram as minhas e tinham a ver com a minha essência. A outra palavra é integridade.

No ritmo acelerado desses dias, só para esnobar, dei tempo ao tempo.

sexta-feira, 24 de abril de 2015