sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Longe e perto

Longe é o mau-entendido. Perto é confidência de amigo. Longe é mágoa. Perto é perdão. Longe é sofrimento. Perto é compreensão. Longe é ansiedade. Perto é pausa. Longe é berro, grito, alarde. Perto é sussuro, fala mansa, cantiga de ninar, voz de criança. Longe é meio chato. Perto é simpático. Longe é obstáculo. Perto é conquista. Longe é estrada. Perto é porta de entrada. Longe é vazio. Perto é ser pleno. Longe é passado. Perto é agora mesmo. Longe é saudade. Perto é presença.

Longe são as férias, a longa estrada, o mar vastíssimo, o lado de fora. Longe é a onda efêmera, é o mergulho, são as pegadas na praia. Longe é o sol se pondo, o tempo passando, a noite chegando, a despedida, a palavra fim na agenda.

Perto é a volta, o trabalho curtido, a cama costumeira, o chuveiro, a água morna, o chão e o teto, a rotina, a caminhada diária. Perto é pão, manteiga, pão de queijo, prato feito, sorriso conhecido, é "bom dia, amigo!". Perto é abraço com legenda: "Há quanto tempo, querida..." Perto é gostar de estar.

Viajar é bom por muitos motivos, inclusive para ver a vida de longe e, vendo, valorizar o que está perto. Aprendi, indo longe, a medir os meus passos, as minhas escolhas, os meus afetos, o que está no coração, assim, bem perto.

Longe é ida. Perto é chegada. Sinto-me bem-vinda e abro os braços.