segunda-feira, 16 de março de 2015

Visão otimista

Pangloss, no livro Cândido, de Voltaire, afirma: "Está demonstrado que as coisas não podem ser de outro modo, pois, tendo um fim, tudo concorre necessariamente para o melhor fim". Otimista? Sim. Fazer o quê?

A minha escolha, hoje, é manter uma percepção clara do que deve estar acima de tudo. Não abro mão de pensar positivo, de querer o bem maior e de acreditar na força das pessoas boas e justas.

Será que essa vibração muda alguma coisa? Tenho certeza que sim. Mudou o meu dia.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Passageiro

Tem dia que acontece. É sem aviso, nem mesmo uma intuição na véspera indica o que virá. Mas vem. Ao abrir os olhos, a primeira suspeita: não há aquele ânimo costumeiro. O corpo se encolhe, as mãos puxam novamente o lençol e o rosto procura o abrigo-esconderijo do travesseiro. Nenhuma vontade de sair. Mas hoje eu não podia aquietar-me, não podia esperar, em deliciosa sonolência, o vazio ser preenchido com algo mais risível. Então, sem vontade, vou.

Debaixo do chuveiro, a primeira surpresa: o prazer de sentir a água não é ignorado, ela lava o corpo e o perfume sossega a alma. Deixo-me levar pelo aroma delicado do sabonete líquido reservado para os piores dias. A espuma desce, a água acalma.

Nenhuma palavra de bom dia. Tudo bem. Silêncio é bom. Café com leite no ponto certo, queijo fresco e com pouco sal, pão australiano com cheiro de mel, manteiga... Quem pode perder o apetite com uma mesa dessas? Nada de dieta, nada de colesterol alto, saúde boa... E dá-lhe mais uma fatia deliciosamente coberta de manteiga

Faço tudo rápido no trabalho. E dá certo. Na cozinha, não me animo a cantar. Devia ouvir um mantra, mas me esqueço, embalada pelo ritmo louco do fogo, forno, óleo na panela, alho, carne ao vinho, aroma que vem e me leva. Cozinhar me absorve e eu vou testando pitadas diferentes no mesmo prato. Vira outro. Na estufa, acaba rápido. Sim, deu tudo certo.

Olho para a minha roupa ao voltar para casa. Tão sem enfeites, tão sem cor, tão preto e branco, e eu sem batom, sem cacho de cabelo no rosto, sem brinco... Desarrumada não é a palavra. Talvez simplória. Mas o espelho revela outra coisa: a pele limpa tem um brilho bonito. Brilho. Hoje sou eu e não a roupa. Estranho, não era bem isso que eu imaginava.

O dia ainda não acabou e sei que seguirá o curso imprevisível do cotidiano. Sei que problemas se resolvem, que a vida passa, que nada é trágico e que dias como esses destinam-se a ficar esquecidos em algum canto da memória, que não é claro, nem escuro. Esta quarta será apenas mais um dia em que venci a preguiça e o tédio. E, à noite, vou comer pipoca, ler um livro de poemas e colocar palavras mais bonitas no diário imaginário.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Vida que se leva

A vida pode ser leve. Ou pesada. A vida pode ser por inteiro. Ou só de fachada. A vida pode ser curtida. Ou só levada. E as opções não estão do lado de fora, começam do lado de dentro. É abrindo o coração que a vida fica leve. É abrindo os olhos que ela fica inteira. É abrindo os braços que ela fica mais curtida.

Abrir o coração é fazer o que se gosta, é estar com quem se ama, é saber que tem hora para parar e apenas escutar o bater ritmado da vida, que fala tanto sobre o que somos, sobre os nossos sonhos e amores. Abrir o coração é meditação.

Abrir os olhos é olhar em volta, entender as esquinas dos fatos, ver a beleza exposta, enxergar um outro mundo, o mundo do outro e o outro lado do mundo, que também é nosso. Abrir os olhos é comunhão.

Abrir os braços é acolher o que vem, é acolher quem vem. Abrir os braços é liberar quem e o que vai. Abrir os braços é dançar de mãos vazias e com a alma leve. Abrir os braços é libertação.

Medito. Danço. Encontro. Às vezes, me entristeço, mas permaneço fiel à crença de que a vida não é só isso. É tudo isso. Agora, é só abrir um sorriso. Pronto.