segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Feliz 2013

Ser feliz é no plural, porque ser feliz é soma de tudo o que é grande e, sobretudo, do que é pequeno. Pequenas coisas do dia a dia, como uma disposição inédita para a caminhada, que soma ao sol na medida exata, que se soma à alegria de uma encontro inesperado, que se soma a voltar mais leve, que se soma a um banho longo e Zen Perfumado, que se soma a uma roupa confortável, que se soma a um gostoso café da manhã, que se soma a um bom trabalho. Eu vivo tanto isso que, ao final de mais um ano, tudo o que eu peço é mais disposição para a caminhada. E agradeço por essa felicidade.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Vida que passa

Um ano passa rápido. Uma gripe também passa.
O fim de semana passa rápido e a segunda-feira parece que se arrasta.
Mas não, segundas-feiras passam bem rápido. Quando você vê, já é terça.
E a terça-feira vai passar em 24 horas,
o que é muito rápido, porque um terço desse tempo, você vai passar dormindo.
Aliás, é assim que o sono passa e a noite acaba.
É rápido, como os ponteiros dos segundos.
Só é lento quando a gente prende a respiração num mergulho.

Adulto passa rápido, criança é tempo lento.
Bebês engatinham e, se querem colo, o percurso fica longo.
Bebês pesam, depois crescem e passam.
E toda mãe acha que foi rápido.

Gastar é rápido. Pagar é lento.
É como penitência, como cólica ou dor de dente,
lento como a noite de insônia e o arrependimento.
O consolo é lembrar que passa. 

A Terra gira rápido. O tempo também é rápido e deixa um rastro. Outras histórias.
Que podem ser rápidas, como contos, ou longas epopeias.
É preciso passar as páginas para entender a versão do tempo.
Cada ano que passa correndo é uma história que se escreve lentamente.

Galinha chocando, árvore crescendo, goiaba amadurecendo, rio manso,
boi no pasto, tudo parece parado, enquanto, na verdade, passa acelerado.
Ter saudade parece que não passa.
Aí, basta o tempo de um abraço.

Há tanto se passando agora mesmo: a primavera lá fora, a água na torneira,
o sol se pondo, o ônibus cheio, a moça na sala, o menino no quintal, um pássaro,
a nuvem lá no alto... Da janela, vejo a vida passando.
E lá se vai mais um dia, mais um mês, o ano todo.

Curtir é desacelerar.
É o que eu desejo para você no ano que está chegando.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Esse não saber

"Tentei descobrir na alma alguma coisa mais profunda do que não saber nada sobre as coisas profundas. Consegui não descobrir."
Manoel de Barros

Melhor do que ler Manoel de Barros é ler e concordar.  Zen assim.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Vazio

Agora, escrevo com a convicção de quem decreta uma sentença: gostaria de ter menos crenças. Frase escrita, a intenção esbarra nas convenções, nos padrões, na moral e nos bons costumes. Os hábitos, então, levantam-se como barreiras intransponíveis. Esvaziar-me não é fácil. Eis aí outra crença. Noto que acredito demais. Mas não sou a única.

Fui a um aniversário no início do mês e recebi de lembrancinha um papel colorido e bonito com a delicadeza de uma frase que a aniversariante escreveu à mão. A mesa estava cheia delas, mas a minha foi essa:

"O maior dia da vida será aquele em que você não puder encontrar em si mesmo coisa alguma para jogar fora. O dia em que perceber que tudo já foi jogado fora e que existe somente puro vazio. Nesse vazio, você encontrará a si mesmo."
Osho

Andréa, não joguei fora o papelzinho que você me deu. Está aqui comigo e olho para ele, enquanto penso no que poderia jogar fora agora...

- Quero jogar fora a intolerância, o medo do futuro, a procrastinação.

Só isso é desapego para um ano inteiro. E o papelzinho eu levo comigo.



quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Casa e cabelo

Quando minha amiga B usou a metáfora da casa para exemplificar o sentimento de desconforto típico de alguns momentos de mudança, a informação encaixou-se muito bem junto às minhas crenças. E ficou bem guardada até ontem, quando, numa conversa confidente com outra amiga querida, tirei a metáfora dos meus guardados e demonstrei, num misto de consolo, estímulo e afeto, que a casa – que era ela – estava em construção.

A metáfora é boa. Disse a minha amiga B que uma casa em construção pode ser confundida com uma casa em processo de demolição. Basta que se olhe superficialmente, de longe, sem se adentrar, sem perceber as diferenças em cada cômodo.

Quem tem o carinho de olhar de perto, verá que há uma grande diferença. Uma pessoa em processo de mudança, que está saindo da zona de conforto e se arriscando a ser maior, só pode ser confundida com uma pessoa destroçada e vencida por quem não tem o cuidado de se aproximar e reparar bem.

Mas isso não é o que mais importa. O meu foco é outro, é a casa. Digo, é a pessoa, o sujeito da evolução. Porque não são os outros que acordam e duvidam da obra, é quem se dispõe a mudar.  Porque, quando tudo começa a sair do lugar, há desconforto, tristeza, incerteza, dúvida e é preciso acreditar que tudo será passageiro. É preciso aguentar se ver mais feio, mais irritado, mais impaciente, mais calado, mais chato. É preciso acreditar que o processo fará enorme diferença, como ser mais feliz, mais seguro de si, mais qualquer coisa que se queira.

É muito simples e não é fácil. Por isso, persistir é o que diferencia os que avançam e terminam sua construção, e abrem as portas e janelas para quem quiser ver, e iluminam os cantos escuros, e jogam fora os entulhos, e ainda finalizam com o esmero de um corte de cabelo ou com o capricho de uma roupa nova.

A minha amiga pintou os cabelos. E eu vi uma bela casa.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Viver sem explicação

Continuo andando. Continuo investindo. Continuo acreditando. Continuo refletindo. Continuo amando. Continuo dividida: dentro e fora, feia e bonita, perfeita e imperfeita. Continuo inteiramente viva.

Não cheguei a nenhuma conclusão, não desvendei os segredos mais banais, não criei uma grande obra. Suspeito que o meu viver não seja conclusivo, não tenha segredos, não seja questão de uma obra pronta. Dia após dia, investigo uma possibilidade, a de que viver é estar a caminho.

Então, sigo. Só espero que o rumo seja, cada vez mais, do coração. Sem explicação.

E vai uma trilha inspiradora: Eu quero o amanhã!

Clique para ouvir

sábado, 17 de novembro de 2012

Aprender com amor

Crescer é processo doloroso. Aprender é difícil. Os caminhos da vida são tortuosos. Deus escreve certo por linhas tortas. Você também acreditou nisso? Vivo juntando informação daqui e dali para traçar o meu caminho rumo a algo maior, para colocar-me no mundo de uma maneira melhor, para ser mais o que eu for. Assim, o discernimento pode vir em gotas, nas palavras do credo, nas linhas que leio, no ar que respiro, na easy pose, no tom de um mantra bom. Aí, cada insight diferente confronta minhas crenças – como aquelas do início – e fico um pouco perdida, para depois achar o que combina mais comigo.

Aconteceu isso. Estava sentada ereta, pernas cruzadas, olhos focados na mulher à minha frente e, de vez em quando, nas pessoas que me rodeavam. Havia calma e vontade quase tangíveis. O ar respirado trazia essa sensação para dentro e enchia o peito. O corpo inteiro respondia com interesse e relaxamento. Depois, expirava gratidão. Assim, outro sentimento bom exalava-se pela sala. Estar ali era como uma benção e eu estava preparada para receber. Então, a voz soou clara como uma dádiva e a informação emitida integrou um novo arsenal de crença: "Aprender pode ser com amor."

Uma gota quando cai num lago projeta círculos que vão crescendo, expandindo-se, envolvendo o lago todo no movimento. Aquelas palavras cairam como gotas, expandiram-se, moveram resistências, encaixaram-se num canto do peito. Aí, entendi que eu já sabia, mas tinha me esquecido. Porque existir exige estratégias e fingir que não se sabe é uma delas. Talvez, em algum tempo, tenha sido um desrespeito saber. Percebi que a gente esquece para se proteger. A contradição é que o fingimento vira crença e crença é considerada verdade.

Mas nós temos escolha. Crescer pode ser processo doloroso, se houver resistência a se ser pleno. Aprender pode ser difícil, se a gente confundir informação com conhecimento. Os caminhos da vida podem ser tortuosos, se escolhermos seguir um rumo diferente do nosso querer. Só o que eu tenho a acrescentar é que o amor começa do lado de dentro e ilumina o lado de fora.

Fecho os olhos, ouço a minha respiração, sinto a generosidade no ar, sinto a vida e começo a enxergar outras verdades em mim. Ela me inspira. Mas cada um tem a sua. Acredite ou não acredite. Você pode. Vale lembrar que:

"Não violência também é respeitar seus próprios limites".

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Um toque

Li, pensei, copiei.

“Existem apenas dois erros a serem cometidos em uma jornada: não ir até o final e não começar.” 
(Buda)
 
Vou indo...

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Em sintonia

Uma música para inspirar um novo dia.

http://www.lauralopes.art.br/#musicas

Emoção de verdade

Emoção de verdade foi quando eu me vi na essência e duas lágrimas escorreram-me pela face, porque era bonita e comovente aquela imagem. Emoção de verdade foi olhar as pessoas e reconhecer na beleza de cada uma delas a intenção do meu olhar. Emoção de verdade foi compartilhar.

Passo a passo

Já tive pressa. Hoje tenho mais. O que difere a mulher da menina é a certeza dos meus passos. Nem maiores nem menores do que posso. Vou vivendo assim e respirando profundamente. Como aprendi na aula de kundalini yoga que frequento, lenta e profundamente respiro meu momento presente. E acordo mais feliz a cada dia.

Saudades do futuro

Uma imagem insuspeita e eis que o pensamento surpreende indo mais longe. Foi assim: olhei a foto e voltei ao passado. A foto e a frase exata despertaram um sentimento guardado. Vendo os jovens trabalhando, imaginei os desejos de criação, os esboços do sucesso, os sonhos inacabados, tão típicos de quando se tem tempo, de quando se tem uma vida pela frente. Então, me deu saudades. Não tive saudades da juventude. Não, sou do tipo que escolhe olhar pra frente. Estou bem na minha idade, no meu momento e vejo a estrada adiante sem ansiedade. A saudade que senti foi somente de um sentimento e nem era dos melhores. Naquela época, o viver era expectante e havia promessas no ar.

Mas não era só disso que se fazia o futuro, não era só de promessas, era de possibilidades concretas. Hoje também é. Então, por que a saudade? Inexplicavelmente, senti saudades da incerteza e a resgatei para os meus dias. Deve ser sinal de maturidade. Viver sabiamente é não ter respostas.

Num tropeço que poderia ficar por isso mesmo, eu me vi num caminho novo e sem certeza do rumo certo. E a saudade passou. E no lugar da ansiedade, veio a calma de cada passo. Nostalgia assim faz bem.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

De silêncio e som

Música inspira. Música que carrega lembranças inspira e emociona. Música que sintoniza o melhor da gente inspira, emociona e motiva. Música que toca a alma inspira, emociona, motiva e eleva. Sem mais palavras.
https://www.youtube.com/watch?v=EIebdBRAcl0&feature=fvwrel

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

É primavera!

Umas coisas a gente muda, outras eterniza. Obra-prima é uma delas. Vai aí mais um trecho das Quatro Estações, de Vivaldi, para dar boas-vindas à primavera. Vale ouvir nem que seja um pouquinho.

http://youtu.be/rzPRSMSza6c
Por aqui, as árvores estão cheias de flores. O chão também, formando um dos tapetes mais bacanas que há. E eu fui lá pisar.

Acredito

Assistia ao videozinho meio desligada. Ouvia, anotava algumas palavras e não processava nada. É assim quando pesquiso assunto que não me interessa tanto, mas que será útil em algum trabalho. Então, anotei a frase:

"Quando mudamos aquilo que acreditamos, mudamos o que fazemos."
(Do vídeo "Quem mexeu no meu queijo")

Parei. Depois da atenção, a constatação: disso eu já sei. Mudar crenças leva, necessariamente, a mudanças de atitude.

E foi assim que aconteceu. Num domingo qualquer, trabalhando sem querer, sem nenhum planejamento, sem pensar sobre, sem programar o melhor dia, a melhor semana, resolvi que era hora de mudar. Não deu nem tempo de assustar.

Depois que decidi, vasculhei o meu desejo. Na raiz, achei insatisfação. Fez muito sentido, porque acredito que estar insatisfeita é o primeiro indício de movimento. Indo mais fundo na imaginária gaveta, encontrei sinceridade, afeto e antigas crenças – todas elas no prazo de validade. Acredito que, vasculhando, dei o passo preciso, definitivo para o começo.

Acredito em ideias que carregam novas atitudes:
Acredito que preciso de menos coisas para viver do que acho que preciso.
Que é bom andar mais leve pela vida.
Acredito que afeto nunca basta e para dar tem de sobra.
Sem esquecer que tambem é bom ter espaço para receber.
Acredito que é preciso ter tempo pra gente.
O tempo dos outros vem depois.
E pode virar festa sem convite.
Pois amizade boa acolhe o inesperado.
Acredito que trabalhar muito é perda de tempo.
Cobrar menos do que vale é desvalorizar o talento.
Cobrar o justo e trabalhar menos é escolha inteligente.
Acredito que fim de semana é para compartilhar e curtir.
Diferente do dia útil, que exige comprometimento.
Acredito que o computador não vira lixo em dois anos.
Nem o celular, nem o i-pod, nem o sapato amarelo, nem o tricot mais largo.
Roupa boa e que a gente gosta dura a vida toda.
Alimentação saudável é escolha inteligente.
Quebrar a regra também.
A verdade é libertadora.
Mentirinha para não ferir funciona até para o espelho.
Acredito que escrever é comprometer.

E você, acredita no quê?



terça-feira, 18 de setembro de 2012

Gotas inspiradoras

Ontem foi chá. Hoje também. Deu certo? Pode acreditar que sim. Não fui tomada por uma alegria arrebatadora, de quando tudo dá certo na vida. O bem-estar começa é com quietude e sossego. Aos poucos, as reclamações cessam, os pensamentos inglórios se calam e o silêncio se instala. Nessa coisa parada, algo se move, a vontade mais íntima de ir além. A gente vai, porque isso é o que de fato nos move na vida, a vontade secreta de seguir. Então, fui e cumpri meus compromissos com tranquilidade, mais calada e totalmente motivada. Isso faz muita diferença.

Hoje, já renovada, busco inspiração e a velha alegria criativa. Então, a ajuda é um bom floral: bougainville e calêndula, aristolóquia e, claro, rosmarinus (o bom amigo alecrim).
Se as gotas vão me inspirar? Talvez sim, talvez não. Mas só gastarei uns poucos reais e alguns segundos para tentar. Eu tento.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Em dias assim, chá de alecrim

Não é só porque é segunda-feira. Tem dia que a gente acorda assim, assim. Há um certo desânimo no ar, falta de vontade, alguma melancolia e uma incapacidade de ver sentido nos maiores esforços da vida. Otimista que sou, não paro no cinza. Vou logo buscar minhas ajudas. Hoje, o eleito foi o chá de alecrim. Uma xícara, depois outra, espero ser só alegria no final do dia.
O que dizem por aí:
Quem já tomou o chá de alecrim, sabe dos seus efeitos benfasejos! Quem nunca o tomou, não sabe o que está perdendo. Então, se você decidir, prepare um chá, sirva-se e verá quão suave é o seu gosto, o aroma é agradável e, a cada gole que se bebe, sente-se um bem-estar generalizado. Essa sensação de bem-estar vai se espalhando pelo corpo o que resulta em uma enorme quietude interior. A gente fica com uma impressão de que essa planta tem uma capacidade de nos transmitir o bom-humor, e, consequentemente, alegria.
 Fonte: http://pt.shvoong.com/medicine-and-health/investigative-medicine/1773643-ch%C3%A1-alecrim-seus-benef%C3%ADcios/#ixzz26jgN7mBz

Estou tomando pra ver.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A palavra que não vem

Palavras têm força. Sabem disso os incautos que falam pelos cotovelos e, quando se tocam, contrariaram até mesmo as suas crenças. Como quem acredita na bondade e numa palavra fere a quem mais ama.

Palavras têm força e sabem disso também os monges budistas que afirmam que pensamentos geram palavras, palavras geram atitudes, atitudes geram hábitos e os hábitos formam a personalidade.

Lido com as palavras. O dia todo e aqui também. Lindo ofício e, por exercê-lo, é de supor-me uma exímia domadora de verbetes. Não sou. Menos em escrever, mais na hora da conversa, sou exímia em me perder e, confesso, nada é mais irritante do que não conseguir chegar a uma conclusão. Pior, nada é mais irritante do que não conseguir expressar aquilo que me vai na mente ou no coração.

E a grande contradição do mundo é que silenciar piora a interpretação. O mundo quer ruído e eu digo: pior para o mundo.

Eu admiro das palavras. Tanto, que gostaria de embalar as minhas preferidas de tal modo que até a fala mais banal soasse como um poema. Gostaria de escolher as palavras mais bonitas para comunicar as minhas crenças. Mas sou uma aprendiz da comunicação.

Vivendo, vou percebendo que não basta ter palavras, é preciso ter acuidade, tranquilidade, sabedoria e algo mais para tornar os discursos menos vazios, egocêntricos ou pretensiosos. Desconfio que esse algo é amor.

E enquanto o poema de vida não vem, homenageio o talento alheio.

Ai, Palavras
Ai, palavras, ai palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai palavras,
sois o vento, ides no vento,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova!
Ai, palavras, ai palavras,
que estranha potência, a vossa!
Todo o sentido da vida
principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois audácia,
calúnia, fúria, derrota…
A liberdade das almas,
ai! com letras se elabora…
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil como o vidro
e mais que o são poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam…

(Cecília Meireles)

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Simples inspiração

"Sempre que houver alternativas, tenha cuidado. Não opte pelo conveniente, pelo confortável, pelo respeitável, pelo socialmente aceitável, pelo honroso. Opte pelo que faz o seu coração vibrar. Opte pelo que gostaria de fazer, apesar de todas as consequências."
(Osho)


Pode não ser simples deixar a vida simplesmente fluir, mas é a escolha certa. E quando penso nisso, vem uma lista enorme de atitudes que tantas vezes considerei corretas, mas que tinham muito pouco coração e presença. Então, fica a pergunta: Por que não pode ser simples?

Respiro fundo e penso num mundo em que viver é mais simples. Assim: comer quando se tem vontade e fome. Dormir se der sono. Ir se quiser, ficar se for melhor. Desistir dos desinteressantes, gente que confunde com negócio o que é amizade. Parar para olhar se a curiosidade pedir e seguir, se cansar de admirar. Correr se tiver pressa de chegar. Dar meia volta se o convite é ruim. Vestir a roupa de festa. Esquecer da festa e ir passear. Depois, lembrar de se redimir. Tomar chá amargo porque e remédio, mas recusar amarguras na vida, porque essas não curam. Agarrar a chance de ser original com unhas e dentes. E pintar as unhas de vermelho. Ou de preto, já que humor tem o direito de mudar. Quando mudar para melhor, sorrir com gosto. E só rir se tiver graça. Aí, vale o riso solto, gargalhada, até um certo escândalo. Escândalo deste tipo, não do outro, pois ninguém merece desajuste exposto. Se for para expor, que seja o amor. Sem medo de ser piegas, declarar o amor pelas pessoas e coisas.

Eu disse coisas? Então que fique claro: falo de flores, de arte, de recordações, de fotos, de um canto especial e de outros encantos. Não, dinheiro não entra na lista das coisas amorosas. A ele, vale declarar interesse. Afinal, um tanto bom é bem-vindo.

Sei que as escolhas e o viver podem ser simples. Outro dia, a menina parou para ver um mergulhão engolindo a piaba. O homem ao seu lado seguiu em passo acelerado. Que insólito, depois ele é que é o esperto.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Cultivo meu jardim

Jardim da casa de Monet

Eu, que apenas cultivo algumas flores em vasos espalhados pela casa, ando admirando os jardins das velhas moradias do meu bairro. Penso na alegria de chegar em casa e passar por um corredor estreito e ir notando aquele emaranhado de folhas, flores, galhos. Imagino os cheiros, as cores, a umidade. Se chegar em casa já tem sua poesia, chegar assim pode ser elevado a outra categoria de arte.

Não falo dos jardins modernos, dos pequenos espaços nas entradas dos grandes prédios, onde se vê um gramado modesto e, no meio dele, uns cactus. Não falo desses ensaios paisagísticos que até tem sua beleza, mas que não têm a poesia de flor em festa. Quando paro para olhar e aspirar, é sempre um jardim confuso, a que se chega depois de subir uns quatro degraus e que, ao chegar, o olhar se perde numa desorientação alegre. Veja o jardim de Monet, como não se inspirar? Haja tempo para olhar.

Falo de um jardim assim, antigo, moldado no tempo, que vai se completando com mudas vindas de não se sabe quantas mãos amigas. Essa é outra beleza que se soma e vem com o gesto. Jardim bonito tem tanta informação em meio a luz e sombra que a gente não se acostuma, tem sempre que parar para crer. Num canto tem jasmim, no outro margaridas, orquídeas, hortênsias ou roseiras. Alguns encantam mais e instigam furtos, porque dão frutos. Já vi pé de amora, de pintanga e até de jabuticaba. É desse tipo de jardim que eu gosto.

Mas a onda agora é ser verde. Só. Então, os jardins exibem arecas, bambus, bromélias, pândanos, dracenas. Fecho os olhos e revejo jardins e canteiros de outros tempos. Onde foram parar os gerânios perfumados? E os beijos de colorida singeleza? Por que não se plantam mais hortênsias? E os cantos com o verde úmido das avencas e samambaias? Só resistem nos jardins das casas mais antigas.

Eu não tenho um jardim e não terei. Mas, pensando bem, acho que, ao meu modo, cultivo um jardim e o faço com os cuidados e a sensibilidade de quem lida com arte.

Aí estão as orquídeas e a flor-de-maio que hoje enfeitam minha casa.



quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Um conto zen

"Certa vez, um sábio varria o chão, quando um monge perguntou: 
– Sendo vós o sábio e santo Mestre, dizei-me como se acumula tanto pó em seu quintal?
Disse o Mestre:
– Ele vem de fora."

O entendimento vem de dentro.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Rotina pra ganhar

Sair fora dela é importante, mas nada como voltar à rotina. É assim que a gente mede os esforços, a disciplina e as conquistas. Estou de volta às aulas. De yoga, que fique claro. Em breve, terei outras histórias pra contar. Já engatei a quarta no trabalho e acelero rumo aos meses mais produtivos do ano. Tem mudança à vista, novos encontros, outros ganhos.

Neste reinício, faço uma pausa para comemorar as conquistas da minha disciplina e determinação nos sete primeiros meses do ano. Andei demais, mudei meu visual e minhas escolhas, somei talento para conquistar alguns prêmios, investi firme numa maior qualidade de vida, em mais saúde e bem-estar, estive mais com a família, me comprometi, até me casei... Sou mais feliz do que era antes. Tem ganho maior? Tem coisa melhor?

Tem: um recomeço. Convido você a recomeçar comigo em pleno mês de agosto. Vamos lá?


segunda-feira, 30 de julho de 2012

Celebração floral

Nasceram e ouso pedir, como pediu Drumond no poema: "façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu... Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio." Novas flores brotaram na minha casa. É ocasião para festejo. Exagero? Não, é assim mesmo que eu vejo a importância do florescer na vida. É ocasião digna de celebração e festa. Nasceu uma flor. E outras. E mais uma, espelhando a beleza que o olhar capta e a emoção planta do lado de dentro. Daqui a pouco eu invento umas cores, um jeito diferente e até um perfume.

E se vale uma sugestão, é esta: As flores duram pouco. Vejam as flores enquanto é tempo!
 

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Aprender e cair

Por que eu pensava que andar de patins seria difícil, se nem havia tentado? Deve ser porque envolvia o risco de cair e, além de doer, isso seria ridículo. Mas, afinal, dói mais cair ou pagar mico? Outra questão se coloca: quem quer passar pela vergonha de tentar e não conseguir?

Não posso, que vergonha, que medo, que ridículo...  São crenças limitantes, mas tudo muda na hora em que se resolve calçar os patins e arriscar. O ganho é tão maior do que a vergonha que a gente se pergunta: por que não fiz isso antes? 

Quero saber quais são os patins que ainda não ousei calçar. Quero ir além do medo de cair.

domingo, 22 de julho de 2012

Flower Power

A lista é enorme. Tem flor para tudo o que é desconforto, mal-estar e perturbação. E a descrição dos benefícios promete soluções como eu nem ousava imaginar. Leio e acredito. Tudo é tão perfeito, o mundo pode ser mais lindo. É quase como olhar flores dispostas numa banca perfumada e colorida. Saio escolhendo aquelas que mais têm a ver com o meu momento. Leio e escolho, olho e me encanto e quero para minha vida algomais do que promessas.

Então é isto: existe um poder maior das flores nas nossas vidas que vai muito além da botânica, muito além de perfumar ou enfeitar. Esse poder consiste em tratar do corpo e da alma e, desde que Edward Bach catalogou 38 estados negativos da mente e criou uma essência floral ou de planta para cada um, muitas gotas rolaram. Sei do que falo. Já fui dos florais de Bach aos de Minas, passando pelos Californianos e sempre com a mesma convicção: se não faz bem, mal também não faz. Pode ser mera autossugestão. Mas e daí? Isso também é funcionar.

Olha que lindo: "O composto atua como catalisador da paz e da harmonia, afia a intuição, traz das profundezas do ser as energias de motivação interna..." E olha que flores são elas: Rosa Nina, Amarília, Zanzibar, Gatheia e Melmalva.

"Visando o autoconhecimento e o estímulo da criatividade dos pensadores, artistas e escritores, auxilia na potencialização das energias critivas, no desenvolvimento da sutileza e da fertilidade criativa, trazendo clareza e leveza..." E lá está a Rosa Nina de novo. Começo a gostar dela. E penso que quero ela no buquê que vou fazer.

É ler e se encantar. Mas não é assim tão leviano quanto minha prosopopeia faz parecer. A gente séria de plantão ficaria revoltada. Mas sejamos zen humorados. Tem muita informação na internet e pelo mundo afora, tem profissionais especializados e muito bem-intencionados. Eu, aqui, só falo de mim. E vou continuar achando a maior graça. Nos dois belos sentidos da palavra.

E só pra constar: a Rosa Nina pode esperar. Ainda vou de rosmarinus officinalis.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Agulhas

Penso que há milênios o homem usa esta técnica para amenizar dores, curar doenças e aliviar mal-estar. Penso que é conhecimento que venceu o tempo por merecimento. Penso que sim, que deve fazer algum efeito. No entanto, falando francamente, tem hora que não sei o que vou fazer nas sessões de acupuntura.

Claro, a gente vive correndo nesses dias que passam rápido e ficar esticada, quieta, sem poder se  mexer por causa das agulhas espetadas pelo corpo inteiro parece mesmo algo sem sentido. Haja paciência para aguentar a dor inicial da agulhada e, depois, para aguentar ficar bem zen...

Mas eu aguento. E confesso que não sei se a gastrite, que começava a me incomodar, sumiu por causa da yoga, da acupuntura ou por causa das minhas escolhas mais saudáveis na vida. Ou será que é tudo isso junto? Não sei. Por isso, paro por aqui e vou para a próxima sessão de agulhadas.


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Vencer e calar

Primeiro, venci o medo. Depois, a dúvida. Não bastasse isso, venci o comodismo, a câimbra, a dormência nos pés e braços, a pressa de alguns dias, as dores nos pés e a ansiedade para chegar ao fim. Venci, porque entendi que não adiantava ter pressa e desistir não era uma opção.

Então, aprendi a ir devagar, dia após dia, minuto a minuto, sem olhar para o relógio, sem pensar em sacrifício, concentrando-me apenas no movimento, que era um pulsar sem tempo. Nele, cada respiração e cada minuto representaram muito. Como tudo o que é conquistado com determinação e afinco, o aprendizado foi valioso. No total, somaram-se 21 dias, 31 minutos de prática por dia, mais de 10 horas no total. Sem falar nos 31 minutos de relaxamento. Do que falo? Falo da prática de Sat Kriya.

Mera aprendiz em começo de uma trajetória, ao ouvir, numa aula de Kundalini Yoga, a sugestão de praticar Sat Kriya por 31 minutos, durante 21 dias, ousei acreditar na minha capacidade de manter a disciplina e ser rigorosa com o meu propósito. Todos os dias, acordei muito mais cedo do que o costume, sentei-me sobre os calcanhares, com os joelhos dobrados e os braços estendidos para o alto e ali fiquei, respirando e repetindo compassadamente: SAT NAM. SAT NAM. SAT NAM... Deste modo, fui até o fim.

Mas preciso contar que li no livro O barão nas árvores, de Ítalo Calvino, uma frase da qual me lembro sempre que encaro um desafio e fico tentada a contar pro mundo. Dizia assim:

"As tarefas que se baseiam numa tenacidade interior devem permanecer mudas e obscura; por pouco que alguém as anuncie ou delas se vanglorie, tudo parece supérfluo, sem sentido ou até mesquinho. Assim, tão logo meu irmão pronunciou aquelas palavras, arrependeu-se de tê-las dito, e não lhe importava mais nada, e teve vontade de descer e acabar com aquilo..."

Cosme, o personagem referido, havia dito: "Sabe que ainda não desci das árvores desde aquele dia?" Ele estava conseguindo, mas falar sobre isso transformou a aventura em algo corriqueiro. Eu entendo isso. Colocar em palavras minha atitude foi simplificá-la. No meio do meu percurso, parei de falar para os amigos. Foi melhor assim.

Agora acabou e escrevo apenas para confidenciar: "se eu consigo, você também." E devo dizer algo mais. Depois de tudo, eu acho que consigo muito mais do que penso. Mas é melhor me calar. O ego pode escutar e ele atrapalha muito.

sábado, 30 de junho de 2012

O som da estação

Ia já ficando assim, sem trilha. Mas, tal qual o outono, aqui, o inverno chega com Vivaldi. É pra gente ouvir, viajar e pensar se combina mesmo com a estação.

Clique para ouvir. É belíssimo.
http://youtu.be/bgAUjj5Kt6Y

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Inverno austral

O inverno chegou e quem é zen de verdade ou até quem é zen esforçado – entre os quais, eu me incluo – não pode deixar de reverenciar o fato. O inverno chegou e eu vi. Vi pelos brotos que despontaram na minha orquídea, vi pelos ipês cor-de-rosa nas ruas da cidade, vi pela árvore de flores escarlates. E fiquei feliz. O inverno é a minha primavera. E não é só pelas flores que eu digo, inverno e estação boa, é disposição, elegância, amadurecimento e apetite.

Algo sutil acontece no inverno e eu começo a perceber a sutileza. Ao contrário das árvores frutíferas – que são podadas nesta época – no inverno, a gente cresce. Deve ser porque ficamos mais quietos, mais introspectos. No inverno, as pessoas não hibernam, mas vão para dentro, e é aí que as grandes mudanças acontecem. Começa com um olhar bem de perto, que enxerga o que há de errado e de certo. Depois, há mais tempo e vontade de tentar algo diferente. As promessas de início de ano, não são nada se comparadas ao que se processa a partir do dia 21 de junho. Repara bem, repara que a mudança acontece.

Na minha fantasia, eu invento que o inverno é um senhor de barbas longas e que cheira a patchouli. Inverno é madeira de lei, é castanha e tem casca dura. Inverno é o tempo que não passa e a gente tem menos pressa de seguir. O inverno tem olhar manso, mas, rigoroso, exige disciplina e cuidado.

Chá, chocolate quente, pés frios, pão assando, cobertor, lenha, fogo, mãos que se esfregam, cachecol, quentão, a roupa bonita, caldo, torrada, tudo isso entra em cena, quando o inverno chega.

E o inverno chegou. Quero seguir assim, parando para ver os ipês floridos. Lindos. E dizer mais do que isso é perda de tempo. Ipê é beleza de calar. Quero ver a orquídea cheia de brotos florescer, porque há uma graça maior em ver as flores da planta que a gente cuidou. Eu verei. Há também uma árvore de flores escarlates, que é um espetáculo de sedução na Barragem Santa Lúcia. Ela fica numa curva e sua beleza é um psiu que convida o caminhante a olhar. Quase todo mundo tropeça, porque estica a vista e erra o passo. É assim, que eu vou andar, reparando que há beleza em volta.

É inverno no hemisfério sul, é o chamado inverno austral. Mas eu vou mudar isso, o meu inverno será um outro astral.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Preciosidade

Preciosa é a oportunidade de rever crenças, quando todo o aprendido parece pouco e precisamos ir além, vasculhando outros cantos, inventando outros modos, escolhendo outras palavras.

Preciosa é a oportunidade de incrementar o vocabulário, abandonando as gírias leves que boiam na profundeza da alma.

Preciosa é a oportunidade de ver a si mesmo maior do que o corpo e a mente, pelo acréscimo do intangível como fé e sentimento.

Preciosa é a oportunidade de sentir e deixar o fino fio tecer alegria, tristeza, dor, frustração, medo, angústia, felicidade, saudade, gratidão e outros bordados da vida.

Preciosa é a oportunidade de convivência, é viver com. Mãe, irmãos, amigo, amiga, velhos conhecidos, a vizinha com quem nos simpatizamos e até a manicure que tira cutícula de leve. Todo mundo conta.

Preciosa é a oportunidade de andar junto, é acreditar no outro, é dizer sim às alianças. Falo de mim e dele, mas também de mim e de ti.

Porque precioso é o encontro.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Uma certa humanidade

Pensei num coração pulsando numa cadência precisa e o som ecoando em cada célula do corpo. Afetado pela frequência do som, o núcleo celular passava a vibrar como um coração pulsante, vivo, preciso. Pensei na semelhança circular do núcleo com um planeta girando no espaço. Preciso também, sem nunca perder a rota. Um planeta ligado a outros e outros e outros por um laço invisível chamado energia ou força. Foi assim que eu inventei o grande organismo a que dei o nome de universo. E foi aí que eu pensei que tudo o que é grande demais está muito próximo do que é absurdamente pequeno.

Pensei que dentro e fora, longe e perto, passado e futuro, tudo está ligado por um laço invisível chamado energia ou força. Foi assim que eu inventei uma realidade a que dei o nome de tempo. E foi aí que eu pensei que tudo o que foi está próximo demais do que é. O passado habita o presente.

Pensei que eu carrego o pavor do homem das cavernas, o medo do homem da Idade Média, a tristeza do homem que foi à guerra e a insensatez do homem moderno. Pensei que os sonhos do mundo estão registrados no DNA que me dá forma. O que é do outro é meu, quando imagino que orbitamos num universo e num tempo únicos, ligados por uma energia ou força, como um grande organismo. E foi aí que eu compreendi o sentido da palavra humanidade.

Pensei que dá para entender porque eu me importo com o homem de grandes unhas sujas que fumava uma ponta de cigarro e segurava uma bíblia junto ao peito, enquanto tomava sol, deitado no banco da praça. Dá para entender porque eu não me esqueço do rapaz estendido na calçada da Praça Sete com a calça suja de tinta, o que denunciava a profissão de pintor de parede, babando feito criança e cheirando a cachaça. Dá para entender porque sinto que o que esses homens estão vivendo tem a ver comigo e porque me pergunto: o que eu posso fazer para mudar isso? Dá para entender, se eu usar a palavra humanidade, cujo sentido acabei de apreender.

Na imaginação, pensei em voar e descobri que podia. Conquistei uma leveza cheia de cores belas, como as asas de uma borboleta. Fios luminosos saiam do meu umbigo e me ligavam ao que foi e ao que será, ao tudo e ao nada, ao grande e ao pequeno, ao mundo e à célula. Voando, ouvi o coração batendo mais forte e o som ecoando dentro de mim. De repende, o som do gongo me fez saltar alguns centímetros no colchonete e quase sair do estado meditativo. Agora, sim, meu coração pulsava forte e eu me sentia mais viva e mais inteira, sentia o mundo em mim.

O que passa pela mente de uma pessoa que medita é um mistério que sempre me intrigou. Se você também já quis saber, agora sabe o que eu pensei durante um relaxamento ao som de um gongo na aula de kundalini yoga. 

Feche os olhos... Inspire.... Expire.... Relaxe, ponha as mãos no peito e ouça o coração do mundo. Ele está bem aí, do lado esquerdo.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Escolho isto e não aquilo

Ainda criança, lendo um poema de Cecília Meireles, descobri que viver é questão de escolha. Ou isto ou aquilo: "Ou se tem chuva e não se tem sol ou se tem sol e não se tem chuva! Ou se calça a luva e não se põe o anel, ou se põe o anel e não se calça a luva." Fiquei aturdida. Eu teria que escolher sempre.

Sim, as escolhas acercam-se de mim o tempo todo. Da hora em que acordo até a hora de dormir, só o que faço são escolhas. Até quando não escolho nada, trata-se de uma escolha, considerando as possibilidades de tudo. Não é diferente com você.

Agora, mesmo, escolhi um começo assim, porque eu precisava de uma certa cumplicidade para seguir. Mas ler também é uma questão de escolha. No final, tudo não passa de variações sobre o mesmo tema.

Dito isso, prossigo com a confidência: se desde criança sei que devo escolher, nos últimos meses, minhas escolhas refletem o desejo de mudar alguns hábitos, que, talvez, tenham nascido lá nos tempos de menina.

Isso significa que estou escolhendo um novo modo de vida. Parece simples, mas não é. Mudança de hábito beira à tortura. Só quero um pouco mais em paz, de saúde e equilíbrio, mas, para isso, preciso escolher o novo o tempo todo. Isso implica perder o conforto, o poder e até o controle. E a menina às vezes faz birra.

Hoje mesmo, deitada num colchonete, com as pernas para cima, as mãos segurando os pés, o corpo todo lutando para se equilíbriar e o rosto pegando fogo, eu me perguntei: "O que o prazer tem a ver com isso?" Eu estava na aula de yoga e a professora havia dito que o tema do dia seria prazer. Diante do sacrifício, questionei, mas não desisti.

Então, ouvi a frase reveladora: "Enfrentem o desafio e não a si mesmas". Mudou tudo. Entendi que valia a pena esforçar-me, porque eu merecia ultrapassar aquele limite. Prosseguir foi minha escolha inteligente.

Enfrentar desafios – como fazer novas escolhas – dá medo, cansa, mas depois de vencer uma batalha, o prazer é imenso. Não tem nada a ver com o prazer de comer um bom pedaço de brownie, tem a ver com crescimento, com descoberta e com compromisso.

Na aula de hoje, aprendi que a felicidade tem a ver com escolhas, mas, sobretudo, com compromisso. Adeus, Cecília Meireles! Bem-vinda, Kundalini Yoga!


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Outras palavras

Não podemos esquecer que a Sônia era Maria: 
"... uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta". Uma legítima representante deste sexo sofrido: a mulher e mãe brasileira, "... que ri quando deve chorar e não vive, apenas aguenta." Diante desses acontecimentos e outros "... é preciso ter manha, é preciso ter graça, é preciso ter sonho sempre".
Não podemos perder "... a estranha mania de ter fé na vida."
Hudson

Compartilho esta lembrança que o Hudson, meu cunhado e que também conviveu com a Sônia, me enviou. As palavras me emocionaram muito por retratarem com poesia e pertinência a realidade da nossa querida amiga.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Para Sônia

Comprei peras para você. Foi sem motivo nenhum, só pela vontade de agradar mesmo. No momento em que as vi formando uma pequena montanha de sabor, lembrei-me do dia em que você me perguntou se podia comer uma pera que amadurecia esquecida na fruteira da sala. "É claro que pode" – eu disse. Naquele dia, você pegou a pera como quem pega algo precioso, lavou e mordeu com gosto. O sumo escorreu um pouco pelo queixo e você riu antes de limpá-lo com as costas da mão. Foi tão infantil aquele gesto. Deve ser por isso que, quando vi as peras expostas no supermercado, quis comprar logo meia dúzia. Uma só não bastava para o apetite, nem para a satisfação de vê-la, pelo menos por um minuto, esquecendo-se dos seus problemas.

E problemas você tinha vários. O engraçado é que era capaz de deixá-los de lado e vir perguntar dos probleminhas da gente, como se a minha dor de cabeça, pequeno sintoma de TPM, fosse mais importante do que a paz que você não tinha.

E por que você não tinha paz, eu queria te dar peras, não rosas. Claro que você teria sensibilidade para admirar belas rosas perfumadas, mas eu sempre soube que a vida para você se limitava ao essencial e até os seus supérfluos, como o franguinho no almoço de domingo, olhando assim, era tão essencial. As suas orações, as músicas evangélicas que você ouvia enquanto passava roupa, tudo era essencial. E se eu dizia que você estava chique com aqueles fones de ouvido, se brincava que a tecnologia resolveu nosso impasse sobre a sintonia do rádio, era porque enxergava o quanto é chique manter os olhos – e os ouvidos – voltados para algo além do chão comezinho. É, Sônia, o chão que você pisava era mais do que comezinho, comum ou modesto, era cruel.

E por que o seu chão era cruel, você estava sofrendo tanto nos últimos dias. Ao longo de 18 anos, eu descobri que você tinha forças para superar tudo e eu sabia que você iria superar o mal que te cercava. Deve ser por isso que eu quis te oferecer peras maduras e doces. Porque um gesto de carinho faz bem quando se tem tão pouco. Principalmente, quando se tem tão pouca paz.

E por que você nem mesmo tinha paz, eu lhe comprei não uma, mas seis peras. Você teria gostado. Você gostava de receber e não tinha vergonha de levar, também não tinha vergonha de pedir. Pedia mesmo, sem vacilar. Eu reclamava, mas você sabia que era brincando, não sabia, Sônia? Você sabia que eu ria com sinceridade e carinho quando dizia: "Você é uma pidona." Era com satisfação que eu dava aquele pouco que eu tinha para oferecer a você que merecia muito mais da vida. E muito mais eu te daria. Porque você não pedia por pedir, pedir era apenas mais uma das suas estratégias de sobrevivência.

E por que você sobrevivia em meio aos desafios e tristezas, quando eu te perguntei, na última semana, o que você andava pedindo a Deus, você respondeu: "– Eu só peço que Jesus me dê forças para aguentar, se o pior acontecer." O pior aconteceu, mas não foi com sua filha, foi com você. Agora, eu me pergunto, será que Jesus te deu forças? Já que ele não fez a bala parar, será que ele te deu forças para ir encontrar a paz que você nunca teve?

Eu comprei peras para você e não pude entregar. Você veio na quarta-feira e eu não estava em casa. Mas eu deixei um par de tênis no quartinho, naquele lugarzinho de sempre, onde eu colocava os presentes. Esses, você levou. Certamente iriam parar em outros pés, porque é como você dizia, "infelizmente, não calçamos o mesmo número". Eu só não entendi porque fiquei tão irritada por ter me esquecido de falar das peras. Rogério me consolou: "Na quarta que vem ela leva, as peras vão aguentar bem na geladeira." Mas eu não parava de reclamar, quis ligar para a casa onde você estaria na quinta-feira e dizer pra você vir buscá-las, como se fosse essencial você comer uma pera. Hoje eu sei que não era. O essencial era o carinho.

E porque essencial é o carinho, eu fiquei triste. Eu intuia que você precisava demais disso. Você não precisava de roupa nova, nem do sabonete "estragado", nem de mais uma palavra de consolo, nem mesmo das peras. De alguma maneira, eu intuia que você só precisava de força e carinho.

E por que eu intuia que você precisava, não me esquecia das tais peras. Era como se fosse falta muito grave ter me esquecido. Hoje eu sei que eu só queria demonstrar minha gratidão. Andamos juntas por tantos anos... Você foi solidária, fiel, participativa, amiga. Eu dizia que você era quase da família. Quase? Não, se eu falo da grande família que construimos, você faz parte dela.

E por que você faz parte da minha família do coração, é com alegria que eu me lembro de você dizendo: "Pra você, eu não deixo de trabalhar nunca."

Aquele delinquente que entrou na sua casa e apontou a arma para você não sabia nada disso, não sabia da sua bondade, da sua luta, da sua angústia, dos seus medos, das suas escolhas, das faltas, da capacidade de perdoar quando todos em volta viam culpa. Aquele rapaz não sabia que se eu tinha comprado peras para você, é porque você merecia mais do que um tiro, você merecia amor, respeito e carinho. Eu sabia.

As peras estão na geladeira. Mas, agora, você não vem.
 

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Outonos

Olho pela janela e vejo a mesma paisagem, agora, diferente. Há algo mais do que a tonalidade cinza, algo mais do que a névoa que sutiliza o recorte dos prédios. Há o mistério das estações.

O outono chegou com sua bagagem e, a cada dia, vai mostrando uns tons envelhecidos, tons de guardados, como se tivessem esperado calmamente o verão colorir a tela e, já desbotado, sair de cena. Vai mostrando que tem cor e sopra. A brisa que me toca traz um friozinho também. O outono arrepia a pele.

Olho para dentro e vejo a cozinha. Sobre o fogão, imagino uma velha chaleira – o outuno não combina com o novo, isso é coisa primaveril. Na chaleira, imagino chocolate quente, café com leite, qualquer bebida que aqueça, somando líquido, calor e as lembranças mais antigas, mais amigas. O outono tem gosto e textura. O outono é fofo como um bolo saindo do forno na casa da avó da gente.

Outono combina com o Tchekov que estou lendo. Tende um pouco para o sombrio, mas soma elegância e originalidade indiscutível. Passo as páginas e respiro fundo. Obsorvo a literatura e o romance que me circunda. É a vida real, é outono. Os hábitos mudam.

A Terra girou. O tempo passou. Agora, o outono desfila lá fora e dentro de mim. E eu que nem havia pensado que estreio o outono da vida também! O susto passa como a folha que o vento leva. É bom saber que eu passei o tempo. Não foi só o tempo que passou para mim.

Ouço Vivaldi e convido você a ouvir também. Porque é outono.

Outono (Mov 1) Vivaldi (www.sheetmusic-violin.blogspot.com)

domingo, 6 de maio de 2012

De olhar e vê

O homem falou com um preguiçoso e simpático sotaque de nordestino e com a sabedoria dos anos vividos. Segundo ele, nós, os estrangeiros que chegávamos à pequena comunidade, a enxergávamos melhor do que qualquer um deles.

– "Quem vê de fora, vê maior." – Disse Sr. Pedro.

A simplicidade da fala, do homem e do momento fez com que as palavras entrassem sem filtros e ecoassem para além daquela sala.

Nas minhas meditações, que também podem ser chamadas de devaneios, já vasculhei as diferenças entre olhar e entendimento. Vejo minhas mãos, mas meu olhar não capta a eloquência do gesto. Quando as estendo e as coloco diante do rosto, movimentando-as como quem procura sustentar um mundo de ideias, se paro para perceber, tudo muda. Ou sou espectadora ou a atriz em cena.

Vejo os meus pés, mas não percebo a trajetória. E se paro para olhar os passos dados, só o que vejo são pegadas, que são assim, como lembranças do vivido. Pegadas evocam o movimento de quem agora jaz paralisado; pegadas são registros que se apagam, não são pés nem passos. E que importância tem isso, se até mesmo os pés um dia passam? A trajetória só é plenamente conhecida por quem desvenda a história do início ao fim, exercício vedado a quem vive o momento.

Nas conversas alheias, nossos maiores conflitos são facilmente resolvidos. É próprio do humano enxergar caminhos onde quem sofre enxerga abismo. Quem vê de perto dificilmente tanspõe com tanta facilidade o desafio.

Mas, ajustando o foco e sob lentes microscópicas, constatamos a verdade inequívoca: quanto mais o homem se aprofunda nos mistérios, quanto mais de perto observa, mais distante fica do entendimento. A epiderme, as células, os átomos, a ligação do todo... A incerteza se amplia no aprofudamento.

Essa era a minha meditação e o meu pensamento. Então, um dia, Sr. Pedro vem com a sabedoria do simples revelar que ver de fora é ver maior. Talvez a vida não seja mesmo para ser vista por dentro e muito de perto. Talvez ater-nos às nossas mãos e pés seja limitar demais o olhar.

Distanciar-se do próprio umbigo, ampliar o olhar, ir lá fora, ver o outro, tudo isso é ver maior, é ampliar o conhecimento.


sexta-feira, 20 de abril de 2012

Mais tempo

Não, não vou reclamar do tempo, da vida que corre, da pressa para fazer tudo, desde trabalhar até encontrar com os amigos. Não vou falar de uma agenda espremida, dos minutos contados e dessas coisas que a gente jura que são indissociáveis da vida nos tempos modernos. Vou falar é de quando a gente resolve fazer escolhas mais curtidas, mais esticadas, de quando a gente se dá mais tempo.

A proposta é ser razoável com a agenda. Alguns centavos a mais e minutos a menos? Isso é inconcebível no modo de vida a que aspiro agora. Melhor ficar mais tempo na cama, curtir os lençóis – e se tiver um cheirinho Zen Perfumado, melhor – mesmo que seja só por um ou dois da semana apenas. Já vale!

E se a saudade manda definir uma tarde da semana só para ir ver uma pessoa especial? O que pode impedir? O trabalho? Sempre haverá o fim de semana.

Deixar de fazer a caminhada, ficar com unhas mal-cuidadas, cabelos com raiz branca, não passar a camisa e sair desalinhada, não tomar aquele suco, porque leva tempo pra fazer, não ler aquele livro grossão... E por falta de quê? De tempo. Ah, vai lá, dá um tempo pra você!

Vou dizer uma coisa: Tempo é vida. Viva!

domingo, 1 de abril de 2012

Um deslize e outro

O dicionário esclarece: deslize é ato ou efeito de deslizar, é escorregar brandamente, ir resvalando, derivar suavemente. Depois completa: desvio do dever, descuido, lapso, engano involuntário. De um jeito ou de outro, ando deslizando. 

Primeiro, vamos falar do deslize como engano. Não é premeditado, não há a intenção e, quando a gente nota, já falou o que não queria, já foi mais ríspida do que pretendia. Acontece. Fazer o quê? Depois de uma resposta mal dada, só resta o silêncio constrangido e, depois, um pedido de desculpa. Dizem que quem nunca comeu melado, quando come se lambuza. A moça que nunca se atentou para o que desejava de fato e aceitava oferecimentos pelo gesto de carinho, agora, percebe que pode dizer não. E diz. Só precisa aprender a não se lambuzar com as palavras. Hei de achar o tom exato, que fica entre o respeito e o carinho.

Ah, mas vamos ao deslizar que mais me interessa, o deslizar que é escorregar brandamente. Vivi esta experiência no fim de semana. Começouna sexta-feira. Cheguei em casa e uma caixa enorme estava sobre a mesa. Pensei que podia ser um presente para mim. Mas, aí, caí na real, porque não era meu aniversário, ninguém ficou de me enviar nada, não comprei pela internet... Como seria para mim? Usei a lógica para não me frustrar. Mas, então, ouvi as palavras mágicas: "chegou para você." Ah, que alegria, que emoção de noite de Natal, que festa de criança no meu íntimo. Depois de resistir, com medo de ser um trote, abri a caixa e descobri um par de patins. Quase chorei de alegria. Todo mundo merece uma surpresa destas numa sexta-feira. O Rogério fez isso por mim. Foi lindo.

É neste ponto da história que entra o outro deslize. No sábado, fomos para um local ideal, um cantinho discreto próximo à pista de caminhada da Barragem Santa Lúcia. Ali, preservando-me dos olhares curiosos, calcei os patins e... Tchbum! Não foi possível nem ficar em pé, fui ao chão com as pernas para o ar – e que pernas! Levantei-me rápido, sentei-me no banco com esforço e ia ficando, queria desistir, esquecer o vexame. Dizia-me que não seria capaz de me equilibrar sobre aquela coisa. Mas, aí, pensei no Rogério e resolvi tentar mais uma vez, e outra e... Consegui! 

Agora, é com a satisfação de quem já fica de pé e sai deslizando que afirmo: como é bom aprender uma coisa nova. Aos 47 anos, sou mais aprendiz do que nunca. Aula de Yoga, patins e – o mais importante – estou aprendendo a comer melado sem me lambuzar. Isso significa respeitar o meu querer, sendo amorosa comigo e com o mundo. Eu chego lá.

O que eu mais quero é deslizar suavemente pela vida. Porque gostei da experiência. Obrigada, amore, pelopresente maravilhoso!

sexta-feira, 30 de março de 2012

Fio de história

Minha avó tinha os cabelos longos, bem longos mesmo e ela os penteava com esmero. Eu gostava de observá-la e, hoje, eu penso que ela penteava os cabelos como quem penteia lembranças. Depois, enrolava-os num coque na altura da nuca, colocava os óculos, puxava os fios que ficavam no pente e os enrolava como um novelo antes de jogar fora.

O ritual todo era meticuloso. Primeiro, desembaraçar pensamentos. Depois, pentear lembranças. Em seguida, enrolar como quem preserva e enfeita a memória. Por fim, descartar o que não precisa ficar na história.

Outro dia, enquanto lia um livro, distraidamente, comecei a desembaraçar, pentear e enrolar os cabelos. Quero dizer, outra história. No final, com os fios soltos, joguei fora a melancolia, porque esta não merece fazer parte da memória. O gesto trouxe minha avó para a cena e eu me senti amada.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Ida e volta

Ia muito tranquila para minha aula de Yoga. Estava com tempo, mas resolvi encurtar o caminho, passando por uma rua desconhecida e que eu acreditava terminar exatamente onde eu ia. Foi um erro. Acabei voltando ao ponto de partida. Tempo, gasolina e humor perdidos. Somados a isso, sete minutos de atraso. Falha gravíssima para quem pretendia chegar na hora.

Ainda do lado de fora, ouvi as vozes entoando o mantra. Fiquei com raiva por estar perdendo um momento que considero precioso. Ao sentar-me, a respiração estava alterada pela pressa e raiva. Respirei fundo e passou.

Depois de escrever o texto anterior, percebi o que eu precisava aprender. Claro, porque nada, absolutamente nada acontece por acaso. Quis encurtar o caminho e foi algo preciptado, assim como queria encurtar o tempo de aprendizado. Ainda bem que tive o insight de que o que precisa ser andado, precisa ser andado. E se for com alegria, melhor.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Pensa que e fácil?

Pensa que é fácil deitar-se, esticar as pernas e elevá-las bem retas a um ângulo de 90º? Pensa que é fácil repetir, repetir e, já na terceira vez, perceber que os músculos não obedecem como antes? Pensa que é fácil esquecer a frustração e seguir para outra repetição e, de novo, perceber que também não dá conta como a moça lá na frente? Ah, como é difícil começar algo novo... Porém, se não é fácil, um fato é incontestável: quem diz isso é o ego.

Estou nessa. Terceira aula de Kundalini Yoga e a sensação de que vou levar meses para dominar a arte de respirar, mover-me e me integrar com a leveza que vejo e desejo. Mas quem mandou eu querer a perfeição num estalar de dedos – ou de vértebras? O ego.

Calar o ego que quer capricho não é fácil. Mas também não é difícil. A incoerência se deve ao fato de que os ganhos são imediatos. Apesar da sensação de estar desajustada, o prazer do pós-movimento é tão mágico que anima e a gente quer mais, vai lá, tenta e – alegria, alegria – faz!

Então, eu estava lá, sintonizada com a busca da perfeição e pensando que iria treinar em casa, repetir, repetir, até conseguir o movimento perfeito. Já ia embarcar nesse plano, quando um insight calou o ego. Veio lá de dentro uma vontade louca de dançar, de rir, de não ligar pra nada, uma vontade que, por si só, já era o prazer da dança, do riso, da liberdade do recomeço. Senti a alegria de rever uma querida amiga de infância. E era eu mesma. Descobri onde me reencontrar, descobri que a energia criadora da infância está em algum lugar. Ali, até o ego é meu amigo.

É assim: a aula começa com um mantra, segue por uma sequência de posturas (que aqui eu chamei de repetições), há uma pausa entre cada uma delas, para que sejam percebidas as respostas do corpo. Depois, faz-se um relaxamento, seguido de meditação e do mantra final. É de se esperar que, em determinado momento, as respostas venham de profundezas inatingíveis pela mente acelerada.

E eu estava ali, respirando, repetindo, barriga para fora, barriga para dentro, olhos fechados, coluna ereta, respiração lenta e profunda, tudo e nada, claro e escuro, respiração do fogo, pensamentos que vem, sentimentos que vão, aprendiz que se cala, sabedoria silenciosa, música, vento... Eu estava entregue. Era de se esperar que novas respostas viessem. Interessante é que vieram como brincadeira.

Agora, deixo-me ser para aprender num ritmo novo, passo a passo. E com alguns tropeços. É boa a sensação de estar mais íntima de mim.

Pensando bem: Pensa que é fácil!

quarta-feira, 21 de março de 2012

Voltando para casa - O começo

A voz soa tranquila: "Perceba sua respiração, sinta o ar fluindo para dentro e para fora... Não interfira, apenas perceba." Lanço-me nessas profundezas de alvéolo inflado. É um passeio escuro, os olhos estão fechados e guardam os últimos resquícios da luz amarelada da sala. Há um cheiro suave de jasmim vindo do lado de fora e o vento está fresco neste final de tarde. Porque eu sou dada a viagens mais elevadas, penso que o ar perfumado e quase úmido refrigera minha alma. Depois, penso que o momento podia esticar-se nesse prazer de vazio escuro. Imagino luzes alongando-se a partir de uma esfera azulada que já não é mais Terra nem nada. Há apenas o escuro fresco, o perfume e a sala.

A sensatez exclama: "fixe sua atenção no ponto entre os olhos." Sim, eu posso. Faço mais, esqueço o jasmim e não expiro pela boca. Tem que ser pelo nariz. A boca viciada em puxar o ar com avidez, enquanto o corpo estirava-se na piscina, tem que se acostumar com o novo ritmo. Essa não é uma atividade física. A sensação boa se espalha pelo corpo. É fácil sair daqui. De lá.

A luz acende-se. A moça fala o que são mantras. A intuição me diz que eu já conheço. De onde? De outros tempos? De conversas alheias? De especulações cibernéticas? Ouço com atenção o que ela diz: "Man é mente. Tra é percepção." Não, Man é mente. Tra é liberação. Também não. A mente me trai e eu esqueço. Mas o som permanece intacto, a sensação produzida é vívida. O som vibra na cabeça e gera bem-estar. Não há lá fora, a mente integra tudo e segue as ondas vibratórias, dança num espaço inexistente, flutua sem concluir, sem investigar, sem controlar. É bom perder-me nesse canto.

O começo é tímido, as palavras se sustentam num dó lamentável, mas o som impulsiona. Em alguns segundos, ouço uma voz conhecida soar numa potência estranha. É a minha voz. "De onde veio, como venceu o medo do ridículo, como eu ouso cantar tão alto?" A sensação é boa e não há medo. "Psiu, eu canto!" – sou eu ensinando para a mente. Eu entoou: "ONG NAMO GURU DEV NAMO". O mantra que precede a prática de Kundalini Yoga tem um sentido de saudação reverente à infinitude dentro de mim. Então, acerco-me da grandeza verdadeira com humildade, sinto-me pertencente a algo intangível e, no entanto, tão real que conforta, acolhe e alimenta. Vejo um filho voltando para casa.

A sensação de voltar para casa é apenas o começo. Eu me reconheço na essência do que sou. Não há espelho capaz de me revelar como me percebo na postura simples, no simples respirar e ao entoar o mantra. O mundo deixa de ter espelhos, porque tudo é uma coisa só.

Fico aqui, com a vibração do mantra movimentando a energia dentro e fora de mim. Quero compatilhar o caminho que estou descobrindo nas aulas de Kundalini Yoga, mas vou devagar. Expira... Inspira. Na semana que vem tem mais.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Pra ver a mudança passar

Os sonhos, os planos, os arremedos de ambos, os esboços de histórias diferentes, as inspirações que vêm de toda parte e aquela vontade mais íntima e forte, tão importante que a gente não conta, só de medo de não dar certo, só de medo de agouro, mau olhado ou inveja. Todo mundo tem esse arsenal secreto de vida pretendida. Eu também. E como acontece com todo mundo também, poucas vezes parei para vasculhar minhas gavetas, essas existenciais e verificar o que ainda estava intacto lá e o que já havia brotado para o lado de fora.

Felizmente, acontece de, um dia, virarmos uma esquina qualquer e nos depararmos com alguém que não vemos há muito tempo e essa pessoa comentar, nessa conversa de esbarrões do tempo, justamente sobre o aspecto que você mais lutou para que viesse à tona. É quando a vida diz sim aos esforços, e quando a alegria sorri para fora.

Tristemente, o mais comum de se ver e ouvir é a tentativa alheia de não mudar o script. Ocorre quando a gente já andou quilômetros, venceu o medo, expurgou a culpa, permaneceu no palco com determinação e talento, já estreia outra fala, está intimamente se preparando para os aplausos e vem alguém trazer de volta a cena antiga, a cara antiga, o script antigo. Isso é triste.

Para essa gente que olha, mas não vê, para essa gente que se esquece que os papéis mudam durante o espetáculo que se chama vida, para essa gente que esqueceu a sensibilidade em outra gaveta existencial, – que não é a que falei antes –, para essa gente que não traz a percepção amorosa pra fora por nada, eu tenho algo a dizer: Mude pra ver. Ou, no mínimo, não diga nada, se não tem nada de bom pra dizer!

É, hoje eu não estou nada zen mesmo. Ou será que estou? A semana está tão inspiradora, estreei na aula de kundalini Yoga, chove lá fora agora, acabei de meditar e, saindo de um estágio muito sutil de percepção e consciência, resolvi ser mais eu do jeito que estou agora. E é assim: brotando pra fora.

Fica aí uma frase boa de Chico Buarque:
"Tem gente que tem medo de mudança. Eu tenho medo de que as coisas nunca mudem."


quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Estamos no palco

Hoje, vasculhando meus arquivos, encontrei palavras esquecidas, como o texto abaixo, que escrevi há algum tempo e que continua valendo. Gosto de me sentir assim, como descrevi. Por isso, pra vocês e pra mim, vou me repetir.

"Outro dia, recebi um e-mail sobre alguns homens que fizeram valer a própria história. Pelo menos foi assim que interpretei. Vi desfilar pelo power point a face e algumas frases elogiosas e verdadeiras sobre Gandhi, John Lennon, Vinícius de Morais, Chico Buarque e outros de igual calibre. Gostei. Afinal, esse tipo de mensagem é sempre inspiradora.

Mas aquele não era um dia qualquer. Eu estava a um passo do meu abismo de imperfeição, pronta para mergulhar num mar de frustração. Qual o sentido da vida era a minha questão mais simples e me comparar com esses “heróis”, como foram chamados, seria a atitude, no mínimo, mais injusta. Diante de tantos feitos e obras magnânimos, o que dizer da minha obra cotidiana?

Mas fui além do drama e me mantive no palco. Qual o sentido da vida? Respondo: é viver. O que dizer da minha obra cotidiana? Muito. Ou apenas isto: estamos todos ligados. Não existe um fazer que não se complete com o do outro. A música só acontece se é ouvida, a poesia só acontece se é lida. Indo ao fundo do coração e não do poço, descobri que a grandeza do herói é o espelho da nossa busca e concordância.

Esse pensamento liberta. Posso ser os papéis que represento. Sou, mas cada dia me reinvento. Ser Iêda é minha obra. Por ela e por todas as lindas obras que conheço, eu decreto que não existe apenas um palco. A história contada nos leva a crer que apenas um palco interessa. Não é assim. Milhões de cortinas se abrem todos os dias, nos milhões de palcos espalhados pelo mundo, a cada ação que se desenrola. E quantas provavéis estrelas são negligenciadas pela história?

Acendam-se os refletores! Está na hora da gente brilhar. Gente, gente de verdade, gente que quer comer, gente que ama, gente que luta pelo outro, gente que sobrevive, gente que estende a mão, gente que cura, gente que planta, gente que quer colher, gente que sabe dizer não. Eu acredito nessa gente boa e heróica espalhada pelo mundo afora, eu acredito na construção solidária de outro cenário, eu acredito em um novo modo de assistir ao espetáculo. No organismo vivo que é o mundo, serei uma célula a atuar sozinha? Claro que não. Somos muitos, somos milhões. Só que a história quase sempre se atém aos nossos porões e estampa o interesse desimportante pelas grandes tragédias, grandes feitos, grandes amores. Poucas vezes, o amor plebeu conta, a massa do pão conta, a flor que brota conta; poucas vezes, a gente conta.

Concluo para mim mesma, esperando que o meu grito possa ser ouvido por muitos: heróis são todos os que reafirmam a vida. Quanto àqueles homens do e-mail que eu recebi, eles são como astros que passam de tempos em tempos, deixando um rastro de poesia, amor e verdade. Isso acontece, sim, de vez em quando, e é um fenômeno que serve para revelar a beleza que não se percebe, para refletir a nossa própria alma e grandeza.

Quem sabe, um dia, o mundo não precise mais de heróis nem de astros, porque enxergaremos o valor de cada vida, a importância de cada ser, a vitória nossa de cada dia. Amém!" (Iêda Ferreira, fevereiro de 2004)
 A orquídea que eu cultivei deu flores. Isso me faz pensar nos valores que cultivo, nos amores, no talento, no esforço...

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Conselho alheio

O texto foi postado por uma amiga querida no Facebook e eu passo adiante.

Um repórter perguntou à Cora Coralina o que é viver bem. Ela lhe disse:

"Eu não tenho medo dos anos e não penso em velhice. E digo pra você, não pense. Nunca diga estou envelhecendo, estou ficando velha. Eu não digo. Eu não digo que estou velha, e não digo que estou ouvindo pouco. É claro que quando preciso de ajuda, eu digo que preciso. 

Procuro sempre ler e estar atualizada com os fatos e isso me ajuda a vencer as dificuldades da vida. O melhor roteiro é ler e praticar o que lê. 

O bom é produzir sempre e não dormir de dia. Também não diga pra você que está ficando esquecida, porque assim você fica mais. Nunca digo que estou doente, digo sempre: estou ótima. Eu não digo nunca que estou cansada. Nada de palavra negativa. Quanto mais você diz estar ficando cansada e esquecida, mais esquecida fica. Você vai se convencendo daquilo e convence os outros. Então silêncio! 

Sei que tenho muitos anos. Sei que venho do século passado, e que trago comigo todas as idades, mas não sei se sou velha, não. Você acha que eu sou? Posso dizer que eu sou a terra e nada mais quero ser. Filha dessa abençoada terra de Goiás. Convoco os velhos como eu, ou mais velhos que eu, para exercerem seus direitos. 

Sei que alguém vai ter que me enterrar, mas eu não vou fazer isso comigo. Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias minha própria personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes. 

 O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade. Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça. Digo o que penso, com esperança. Penso no que faço, com fé. Faço o que devo fazer, com amor. Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende. 

Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir."

Cora Coralina

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Outro conselho pra completar

De novo aquele assunto. É que fiquei ligada e questionando as vezes em que eu e outras pessoas – que conheço muito bem – perdemos a chance de crescer. O motivo é simples: falta de atenção ao que é dito com o interesse sincero de nos ver melhor. Aí, li este texto sobre feedback, gostei, achei pertinente e copiei. Como sou boa gente, deixo o link da fonte. É só clicar.

"Mais do que dar feedbacks, a gente devia mesmo é aprender a recebê-los. Como a nossa cultura é cheia de colocar panos quentes nas coisas, a maioria das pessoas não está preparada para receber críticas. Elas sempre interpretam como um ataque pessoal e desperdiçam uma maravilhosa oportunidade de crescer por causa do choque. 

Eu também fazia exatamente assim: ao menor sinal de crítica, me armava toda. Buscava, desesperadamente, explicar porque tinha feito assim e não assado. Ora, enquanto a sua cabeça fica rodando que nem uma louca procurando desculpas e se justificando, você não escuta o que está sendo dito. Fica literalmente surda, não aproveita nada mesmo. Então, ao receber um feedback, feche a boca e preste bem atenção em tudo. Só depois filtre e assimile o que lhe convier.

Ah, mas cuidado. Sabe aquela sua amiga que vive dando opiniões que você não pediu sobre a sua pele (está oleosa demais), a sua saia (não ficou legal porque você engordou), seu sapato (não está mais se usando)? Atenção: isso não é feedback. Ataques de sinceridade incontrolável que não contribuem para o crescimento de ninguém, só servem para torpedear a auto-estima da vítima. Ignore."

Então, cuidado como que fala e mais ainda com o que ouve.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O anjo passou por aqui

Há tempos, carrego uma foto comigo. Nela, a menina vestida de anjo sobe as ladeiras da cidade de Ouro Preto numa procissão da Semana Santa. Olhando-a, o meu olhar elege a fantasia para sobrepor-se à realidade. A cena torna-se mais tênue. O branco das asas abre-se como leque de opções mais leves.
Um anjo anda à minha frente leve na imagem, leve no passo, leve na minha intenção de sublimar o cansaço. Ou as ladeiras. Aí, a mente devaneia e ladeira é alusão aos desafios que enfrento. "Dai asas à imaginação!" – pede o meu coração. E eu digo: "É tão mais divertido enfeitar a vida!"

Então, o anjo passa assim, como inspiração para um modo de seguir.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Conselho pra seguir

Família enche o saco. Amigos muito íntimos também. Às vezes. Mas, antes que se assustem, vou logo dizendo que são eles também que alegram a vida e a tornam mais leve. O que seria da gente sem família e sem esses amigos? Respondo: Seríamos uns desamparados.

Além domais, só enche o saco quem se importa. E muito. O problema é a dificuldade que temos de ouvir aquilo que sabemos e fingimos que não sabemos, como, por exemplo, que estamos confusos na vida ou meio perdidos. Pior ainda é quando nem mesmo formulamos a pergunta e fingimos ter a resposta. Ocorre quando alguém questiona: "O que você está fazendo da vida? Por que você não faz assim..." E segue a lista de conselhos. Então, o interrogado responde: "Pode deixar que eu sei muito bem o que estou fazendo." Não sabe nada, nem percebeu, está seguindo sem saber pra onde.

Já ouvi tantos palpites sobre o que devia ou não fazer que perdi as contas. Já ouvi tanto conselho, que resolvi parar para ouvir. Vai que o mundo está certo... Então, prometi a mim mesma ficar de boca fechada daqui pra frente. É um avanço e tanto, afinal, foram necessários 47 anos para eu aprender que é melhor me calar do que explodir a minha raiva feita de não saber ou, talvez, de medo.

Espera aí, mas o que é que eu estou dizendo? 47 anos? Preciso de outros tantos. Lembrei agora da minha última reação quando alguém me disse que eu precisava fazer assim ou assado? Ai, que raiva! Precisei de muitas gotas de Impatiens e de reza brava. Mas que fique claro que não falo de uma gente grossa que fere por ferir. Falo de pessoas queridas, dessas que são próximas o suficiente para acertar o alvo. É muito amor e atenção pra engolir. E haja sabedoria para entender que é assim.

Pelo menos eu tenho bons amigos por perto e uma família que me ama tanto a ponto de me ensinar um pouco mais sobre mim.

Quem não gosta de conversa tem outra opção, que é parar para se ouvir de verdade, investigar a fundo seus hábitos e comportamentos, saber com muita convicção dos seus sonhos e valores. Aliás, este é o caminho solitário que muitas vezes temos mesmo que seguir. Em alguns momentos da vida, ou olhamos para dentro, ou ficamos perdidos no caminho.

E assim vamos seguindo... Juntos ou sozinhos, conformados ou inconformados, satisfeitos ou incomodados, vamos seguindo... Para onde? Para o melhor de cada um.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Por exemplo

Ele é um bom exemplo para a palavra surpreendente. O jeito formal esconde descontração. Sabe contar piadas e, quando termina, não dá risada. Então, a gente acha a maior graça. Só porque não tem. Mas se é o contrário, se a piada que a gente conta carrega na gíria ou no português difícil, ele leva muito a sério e só ri quando ouve a explicação e entende. Tempo suficiente pra qualquer um perder graça. Nenos ele. Outro dia, falei sobre um texto que relaciona as vantagens de ser bobo, aquele autêntico, mistura de ingênuo e inteligente, de espontâneo e discreto, um tipo de bem com a vida. Pois ele é assim. Por isso, vale a pena falar desse alemão que eu conheci.

Não exagero. Quer saber o tanto que ele é bobo sábio? No Natal, não gastou nem tempo nem dinheiro com presentes. Em casa, tricotou cachecóis para as filhas que moram fora. Como queria fazer surpresa para a esposa, levou o dela para tricotar no trabalho. Quando soube, me perguntei: "Como assim, esse profissional tão sério? Quando foi que ele aprendeu a tricotar? Será que não ficou com vergonha?" Depois entendi. Autenticidade não copia nem teme os outros, ousa tecer o diferente.

Leitor dos meus textos, a esta hora, ele deve estar pensando: como foi que eu vim parar aqui? Respondo agora: como exemplo. Ele tem atitudes que inspiram. Observando-o, aprendo que não adianta buscar a felicidade sem saber que ela é diferente – a minha é uma, a sua é outra. E a busca é independente. Aprendo também que devemos esquecer os modelos. De tudo. Para a perfeição de um ser, a originalidade tem que falar mais alto. E não pode haver expectativas ilusórias com relação aos companheiros. Não havendo, também não haverá cobrança. A minha graça não tem que acompanhar a sua. O meu dom para mudar o script não pode te incomodar, porque todo mundo tem o seu dom específico. Eu acredito nisso, mas ele mostrou que vive com mais afinco.

Deixei para o final o mais importante: ele tem o dom da conciliação. Para mim, isso significa entender profundamente. Neste homem que surpreende, talvez o coração seja o mais surpreendente. E falo baixo. Pode ser que ele ainda não saiba disso e se assuste. Psiu!

Talvez, um dia, eu conte outros casos interessantes deste meu cunhado. Hoje, paro por aqui. Fica o convite: "Vem tricotar com a gente!"

sábado, 7 de janeiro de 2012

O pão nosso de cada dia

Sábado prometendo chuva. Cadê a vontade de sair de casa? Melhor ir pra cozinha fazer um pão. Mãos na massa, alguma paciência para aguardar a fermentação, o momento certo de modelar e de levá-lo ao forno quente. Em pouco tempo, o cheiro tomou conta da casa e pude contemplar minha obra. Melhor ainda, pude saboreá-la em fatias generosas sobre as quais fiz deslizar boa quantidade de manteiga.

É claro que o ritual deste dia envolveu muito mais do que isso. Ninguém decide fazer um pão como decide fritar um ovo. Não, fazer pão é culinária levada à categoria de jornada. Antes de aventurar-se é preciso saber que serão necessárias quase três horas de preparo. Mas é aí que a gente considera o esforço e se lembra que duas delas serão dedicadas aos estágios de fermentação. Neles, a massa responderá lentamente ao esforço, só exigindo o cuidado de um canto morno.

O mais interessante é que por as mãos na massa é quase como lidar com mágica. Tem-se a farinha, os ovos, o leite, o fermento, às vezes, o luxo de algumas castanhas ou passas, mas os ingredientes sozinhos não significam nada. Eles aguardam o talento da mistura, o passe que leva adiante. Isto é com a gente. E o bom é amassar, amassar, quase perder o fôlego e ir constatando a transformação. Os ingredientes secos e molhados, juntos com nossa vontade, transformam-se em massa elástica. Eis a conquista.

Mas não é só isso. Fazer pão oferece boas analogias com nossas escolhas na vida. O processo evidencia o que a gente sabe, mas não dá muita importância. Não precisa se esforçar e amassar mais do que o necessário, o pão necessita, sobretudo, de tempo. Quem não sabe disso, esforça-se inutilmente. Ingredientes e ideias precisam de pausa para crescer. Aí, a paciência é virtude.

Fazer pão é também reconhecer que nem tudo depende das mãos que amassam. Tantos outros fatores contam... Não é o meu desejo que assa, é o calor do forno. Não é a minha vontade que faz crescer, é o fermento escolhido. No ritual, percebo que comunhão tem muito a ver com realização.

Esqueça as preocupações se pretende fazer um bom pão. Tal qual no dia a dia, é mais gostoso quando a gente se diverte. Saiba alguma receita, mas ouse, misture novos ingredientes. Você gosta de quê? Pegue isso e acrescente. Invente. Misture gengibre ou, quem sabe, um pouco de chocolate. Se der errado, é só tentar de novo. Um dia, pra felicidade da gente, a mágica acontece.

Dito isso, fica a proposta: faça um pão e descubra um jeito muito gostoso de ser zen.
A receita do pão, você encontra aqui.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Um gole otimista

Quem está pensando no fim do mundo? Quem se preocupa com as previsões de catástrofes iminentes? Ser zen não tem nada a ver com isso. Por que colocar o foco no futuro, se tudo o que se tem é o agora? Ah, vamos viver a vida! Dia após dia, hora após hora, minuto após minuto. Agora: o que conta é isso.

O que você está fazendo pelo seu momento? E por que se preocupar com o fim do mundo, se o fim pode estar na próxima esquina? Ser tudo o que se é em cada atitude e a todo momento é a chave do otimismo. É possível a gente se preocupar menos e ser mais. Claro que é.

E quando o cenário ficar obscuro, é bom fazer como manda Duzek: "Levanta, me serve um café"! O cotidiano liberta a alma. Vai um gole aí?

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Eu quero é chá

A receita não tem nada de nova. Vem de longe e todo mundo sabe que um bom chá é a escolha certa para combater dores, mal-estar, insônia, indigestão e até mau-olhado. Eu também sei. Mas será que dá mesmo para acreditar? Só provando.

Ontem mesmo acordei com uma ligeira indigestão e a primeira coisa que fiz foi esquentar um litro d'água e fazer chá de camomila para tomar o dia inteiro. Depois dos primeiros goles, pensei: Se o chá não cura, pelo menos consola. E é isso mesmo. O líquido desce morno pela garganta, aquece, relaxa, exala um aroma bom e o melhor é a sensação gratificante de estar cuidando de mim. É como o prazer de uma comida boa e gostosa. É prazer ao quadrado. Manga, goiaba, uva, kiwi, banana, abacaxi... Pensando bem, vamos elevar o prazer a outra potência, porque a beleza também conta.

Chá é manso, é devagar, é pra quem tem tempo. Ao contrário de outros remédios e tratamentos. Há alguns meses, por exemplo, fiz um tratamento – por conta própria – que previa tomar suco de limão em jejum por 19 dias e a quantidade aumentava dia a dia, até chegar a 10 limões. Depois, decrescia. Como sou disciplinada, cumpri à risca. Deveria dizer obstinada, porque não gostei, mas continuei. O resultado foi um princípio de gastrite. Quanto a isso, há controversias. Uma amiga me disse que o mal-estar não tem nada a ver com a quantidade de limões ingeridos. A médica disse que sim. Pelo sim, pelo não, não engulo mais uma dessas. Eu quero é chá. E, se tiver que apelar, tomo logo umas drágeas!