quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Cultivo esperança

Primeiro, foi simpatia pelo aroma. Peguei um galhinho no canteiro, levei ao nariz e aspirei com os olhos fechados. A sensação foi boa. Depois, pensei em batatas na manteiga com alecrim picadinho. Imediatamente, quis uma mudinha. Plantei e deu certo. Meses depois, na floreira da minha sala, um pé de alecrim me alegrava. Porque não tem alegria mais singela do que ver uma planta crescer.



Durante anos, ousei alecrim. Inclui no tempero de carne de porco, aves, peixes e batatas sem a menor cerimônia. E foi suportando comidas muito perfumadas que eu descobri a agradável suavidade de uma pitada. Hoje sei a medida certa.

Após os experimentos culinários, o alecrim passou a ser usado para outros fins. Virou remédio para tosse, bastando fazer infusões e tomar o chá. Virou erva purificadora, fervida em um litro d'água e jogada do pescoço para baixo no final do banho. Virou eliminador de impurezas, quando usado para varrer a casa. Usei, ousei e me orgulhei do meu pé de alecrim em muitas circuntâncias.

Um dia, li que o alecrim é um excelente defumador de ambientes e não pensei duas vezes, arranquei dois ou três galhos e queimei, circulando pela casa, enquanto rezava o salmo 66, porque ouvi que era um salmo de proteção. Sou assim, misturo informações e invento rituais para ficar bem. No que diz respeito ao defumador, declaro que a casa fica com um cheiro estranho, não é fumaça fedida nem aroma delicado. É alecrim queimado mesmo. Isso significa que, ao andar pela casa, fui espalhando bons fluidos e cinzas. Não sei dizer se o ritual funcionou. Às vezes, penso que a falta de sinais é bom sinal. É como se o simples fato de nada dar errado nos dias subsquentes significasse que a limpeza deu certo. Valorizo a vida sem sobressaltos.

Mas nenhuma das experiências com o alecrim foi tão poderosa quanto colocar um galhinho na água e tomar ao longo do dia. A receita foi dada por Graça. A indicação foi: "o alecrim nos sintoniza com a alegria, com a energia da alma." E o aval era da medicina chinesa. Nada de místico ou mágico, apenas conhecimento. Ainda assim, eu pensava: "Se tudo for uma viagem, ainda resta a beleza do galhinho na jarra." Definitivamente, a estética me inspira.

Há dois anos, as floreiras do prédio foram retiradas por motivo de segurança e lá se foi meu alecrim. Claro que comprei muitos raminhos no sacolão da esquina, mas sempre achei um desperdiço usar apenas um terço do molho que trazia para casa.

Agora, uma nova muda me chegou embalada para presente e resistiu bravamente aos dias em que me ausentei. Volto a acompanhar o crescimento, volto a pensar em banhos perfumados, fumaça se espalhando pela casa, batatas aromatizadas, pernil tentador, chá calmante e em água mágica. É isto: eu cultivo a esperança de dias melhores num vasinho posto sob a janela.

Obrigada, Graça, pelo presente! E que nome mais adequado, hein?

DIZEM QUE...
- O chá é indicado em casos de esgotamento cerebral, excesso de trabalho e depressão ligeira.
- Pode ser usado na falta de apetite e nos distúrbios intestinais, má digestão e azia.
- O alecrim é tido como um "costurador do plexo solar", pois restitui rapidamente a energia perdida, dá mais estrutura de trabalho aos que lidam muito com o mental.
- Pode ser usado nos casos de tosses, asma, coqueluche e gripe.
- Externamente é indicada para dores reumáticas, contusões, entorses, articulações doloridas, aftas.
- É notável na captura de radicais livres.
- É indicado para desconfiados, nos que não acreditam em si mesmos, que não têm coragem de se lançar em novos projetos.  É a erva da coragem. - O escalda-pés de alecrim tira as energias negativas acumuladas durante o dia.