sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Mudando a receita

Não sigo receitas. Pelo menos não integralmente. Sempre prometo a mim mesma seguir fielmente o disposto, desde a lista de ingredientes ao modo de preparo, mas não adianta. Quase sem perceber, vou  acrescentando um pitada disso, retirando uma dose daquilo. Poucas vezes dá errado e isso serve de incentivo, quando me pergunto, por exemplo, se uma dose de cachaça pode substituir o vinho no risoto de carne de sol.

Às vezes, mudo a receita apenas para ousar o diferente. Mas não é sempre. A maioria das vezes, mudo por curiosidade, mudo por vocação. Sendo redatora, desenvolvi o hábito de buscar um modo diferente de dizer a mesma coisa, de escrever a mesma mensagem de fim de ano todos os anos e, por profissão, descobri que sempre há um jeito de mudar, seja por uma vírgula ou um ponto.

Na cozinha, a vírgula pode ser a pitada de canela na almôndega, o ponto pode ser um raminho de tomilho no cogumelo fresco. Não tenho medo de ousar. Já errei, mas para tudo há conserto, ou pelo menos, um jeito de ocultar o erro. Um dia, fiz um bolo de morango e resolvi inclui-los na massa. Imaginei um bolo cor-de-rosa, lindo. Ficou marrom e feio. E daí? Bastou cortar o bolo em duas camadas, colocar recheio de ganache, umedecer com chocolate ao leite, cobrir com chantily e morangos e pronto: Ficou uma beleza. E gostoso.

Pois bem, chegando ao final do ano, eu me pergunto: Como vai ser 2015? A resposta é: Não sei, não faço a menor ideia, só sei que vou mudar mais um pouco a receita. Talvez eu acrescente uma boa dose de perdão, quando o coração quiser seguir leve. Talvez eu experimente amor no lugar da raiva para o afeto ficar no ponto. Talvez eu mude mais, incluindo riso, alegria e gratidão, ao invés de irritação. Espero gostar da minha nova receita e saborear a vida em colheradas.