terça-feira, 19 de julho de 2011

Confesso que admiro

De tempos em tempos, a vida muda. Sem que haja um plano, assim, de repente, o foco é outro, é outra a rotina, umas pessoas entram para a história, outras dizem adeus, os sentimentos se renovam, a casa fica uma bagunça... Até que a gente entende que viver é isso mesmo, é uma história em capítulos.

Fiquei gripada, me cansei, relutei, até entender que agora vivo um capítulo diferente, apenas isso. Nele, alguns personagens seguem como veteranos, outros fazem sua estreia. Li uns versos de Jorge Luiz Borges neste instante e me deu vontade de falar da minha admiração por alguns personagens da história que vivo hoje. Obviamente, excluo a família e os mais chegados, porque, esses são mais do que personagens, são a alma do meu livro.

Admiro a mulher que conheci no parque, que empurrava seu filho de 12 anos na cadeira de rodas e, por vezes, o pegava no colo, olhando para ele com aqueles olhos do mais puro amor, enquanto enxugava seu queixo com um lencinho muito branco.

Admiro o moço que sobe correndo esta ladeira e ainda tem tempo de acenar para o menino que se posta à janela para ver o lixeiro passar.

Admiro a psicóloga que acredita que está apenas exercendo sua profissão, quando, na verdade, está ajudando a contar uma história mais bonita. Às vezes, enquanto fala, as suas palavras saem embargadas, porque, nessa hora, o verbo vira emoção. Então, ela engole seco, como quem deseja secar  lágrimas, fica envergonhada e não sabe que já declamou o poema.

Admiro a mocinha que pinta as unhas das mulheres com aquela delicadeza extrema. Ela faz do seu dom a arte da cor misturada à felicidade.

Admiro a mulher que todos os dias me pergunta se está tudo bem e, quando respondo que sim, ela diz: "Graças a Deus!", como se eu estar bem fosse assunto muito importante. Então eu ofereço um café, ela toma sem soprar e eu a vejo sorvendo goles de carinho quente.

Admiro tanta gente, mas, agora, vou deixar Jorge Luiz Borges falar, porque admiro esse moço para sempre:

Os Justos
Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mund
o.