segunda-feira, 11 de julho de 2011

Relâmpago

Vive-se e não é sempre que se tem a consciência do viver. Um dia, a gente nota que o tempo passou e que, se houvesse uma espécie de grande livro da humanidade, a história vivida já estaria ali, desafiando a ler o que foi mesmo que se viveu. Se houvesse tal livro, haveria susto, consolo, alegria, tédio, arrependimento, satisfação e uma enxurrada de emoções ao passar de cada página. Mas, o que não haveria, de forma alguma, seria uma forma de apagar o escrito. Não. Uma vez ali, seria impossível trocar linhas, mudar falas, querer outras escolhas. Também não adiantaria saltar páginas tristes, medíocres ou de um tédio insuportável. Mas será que não é assim mesmo? Viver é para sempre, linha por linha.

Pensei nisso hoje. Penso sempre. Basta uma cena, uma fala, um ato ou um pensamento, e um desses relâmpagos surgem no meu céu cotidiano, faz um estardalhaço, assusta e passa. Aí, já viu, não tem jeito, ensimesmo-me.

Penso que quero escrever uma história mais bonita. Isso é difícil. Como Drumond, eu poderia desabafar:

"Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco?"


Mas não é isso. Não me sinto abandonada, sinto-me compreendida e apoiada. Só não me pergunte como.