quinta-feira, 7 de junho de 2012

Uma certa humanidade

Pensei num coração pulsando numa cadência precisa e o som ecoando em cada célula do corpo. Afetado pela frequência do som, o núcleo celular passava a vibrar como um coração pulsante, vivo, preciso. Pensei na semelhança circular do núcleo com um planeta girando no espaço. Preciso também, sem nunca perder a rota. Um planeta ligado a outros e outros e outros por um laço invisível chamado energia ou força. Foi assim que eu inventei o grande organismo a que dei o nome de universo. E foi aí que eu pensei que tudo o que é grande demais está muito próximo do que é absurdamente pequeno.

Pensei que dentro e fora, longe e perto, passado e futuro, tudo está ligado por um laço invisível chamado energia ou força. Foi assim que eu inventei uma realidade a que dei o nome de tempo. E foi aí que eu pensei que tudo o que foi está próximo demais do que é. O passado habita o presente.

Pensei que eu carrego o pavor do homem das cavernas, o medo do homem da Idade Média, a tristeza do homem que foi à guerra e a insensatez do homem moderno. Pensei que os sonhos do mundo estão registrados no DNA que me dá forma. O que é do outro é meu, quando imagino que orbitamos num universo e num tempo únicos, ligados por uma energia ou força, como um grande organismo. E foi aí que eu compreendi o sentido da palavra humanidade.

Pensei que dá para entender porque eu me importo com o homem de grandes unhas sujas que fumava uma ponta de cigarro e segurava uma bíblia junto ao peito, enquanto tomava sol, deitado no banco da praça. Dá para entender porque eu não me esqueço do rapaz estendido na calçada da Praça Sete com a calça suja de tinta, o que denunciava a profissão de pintor de parede, babando feito criança e cheirando a cachaça. Dá para entender porque sinto que o que esses homens estão vivendo tem a ver comigo e porque me pergunto: o que eu posso fazer para mudar isso? Dá para entender, se eu usar a palavra humanidade, cujo sentido acabei de apreender.

Na imaginação, pensei em voar e descobri que podia. Conquistei uma leveza cheia de cores belas, como as asas de uma borboleta. Fios luminosos saiam do meu umbigo e me ligavam ao que foi e ao que será, ao tudo e ao nada, ao grande e ao pequeno, ao mundo e à célula. Voando, ouvi o coração batendo mais forte e o som ecoando dentro de mim. De repende, o som do gongo me fez saltar alguns centímetros no colchonete e quase sair do estado meditativo. Agora, sim, meu coração pulsava forte e eu me sentia mais viva e mais inteira, sentia o mundo em mim.

O que passa pela mente de uma pessoa que medita é um mistério que sempre me intrigou. Se você também já quis saber, agora sabe o que eu pensei durante um relaxamento ao som de um gongo na aula de kundalini yoga. 

Feche os olhos... Inspire.... Expire.... Relaxe, ponha as mãos no peito e ouça o coração do mundo. Ele está bem aí, do lado esquerdo.