sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Cultivo meu jardim

Jardim da casa de Monet

Eu, que apenas cultivo algumas flores em vasos espalhados pela casa, ando admirando os jardins das velhas moradias do meu bairro. Penso na alegria de chegar em casa e passar por um corredor estreito e ir notando aquele emaranhado de folhas, flores, galhos. Imagino os cheiros, as cores, a umidade. Se chegar em casa já tem sua poesia, chegar assim pode ser elevado a outra categoria de arte.

Não falo dos jardins modernos, dos pequenos espaços nas entradas dos grandes prédios, onde se vê um gramado modesto e, no meio dele, uns cactus. Não falo desses ensaios paisagísticos que até tem sua beleza, mas que não têm a poesia de flor em festa. Quando paro para olhar e aspirar, é sempre um jardim confuso, a que se chega depois de subir uns quatro degraus e que, ao chegar, o olhar se perde numa desorientação alegre. Veja o jardim de Monet, como não se inspirar? Haja tempo para olhar.

Falo de um jardim assim, antigo, moldado no tempo, que vai se completando com mudas vindas de não se sabe quantas mãos amigas. Essa é outra beleza que se soma e vem com o gesto. Jardim bonito tem tanta informação em meio a luz e sombra que a gente não se acostuma, tem sempre que parar para crer. Num canto tem jasmim, no outro margaridas, orquídeas, hortênsias ou roseiras. Alguns encantam mais e instigam furtos, porque dão frutos. Já vi pé de amora, de pintanga e até de jabuticaba. É desse tipo de jardim que eu gosto.

Mas a onda agora é ser verde. Só. Então, os jardins exibem arecas, bambus, bromélias, pândanos, dracenas. Fecho os olhos e revejo jardins e canteiros de outros tempos. Onde foram parar os gerânios perfumados? E os beijos de colorida singeleza? Por que não se plantam mais hortênsias? E os cantos com o verde úmido das avencas e samambaias? Só resistem nos jardins das casas mais antigas.

Eu não tenho um jardim e não terei. Mas, pensando bem, acho que, ao meu modo, cultivo um jardim e o faço com os cuidados e a sensibilidade de quem lida com arte.

Aí estão as orquídeas e a flor-de-maio que hoje enfeitam minha casa.