quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Confissões de ano novo

E eis que a página foi virada. Começa a história do ano de 2014. Hoje é apenas o primeiro dia e leio nos escritos dezenas de propostas, de desejos e de promessas de mudanças misturadas aos votos de felicidades. Ouço nas mensagens incentivos aos novos passos e aclamações às novidades. A sintonia é o novo. Assisto a isso como quem assiste a uma reprise. Então, acostumada por Urano ao movimento contrário, cismo em olhar para o outro lado.

Volto minha atenção para o passado, para o velho e bom da vida. E digo: este ano, vou valorizar meus ganhos, meus guardados, meus bons hábitos, meus velhos amigos do peito, meu baú de memórias, minhas conquistas, a força cultivada pelo tempo e os meus rastros.

Claro, é preciso seguir em frente, dar espaço para novidades estimulantes, desafiadoras, engrandecedoras. Essas, vou investigar bem de perto, lembrando que tudo o que é grande de verdade  não elimina – até enaltece – a força do velho. Um novo negócio exige a velha experiência; um novo passo exige a firmeza do passo consolidado.

Sim, optei por mudar a sintonia. Sintonizei com o antigo, com o guardado, com o que é velho, agradável ao corpo, à alma e aos olhos. Fiquei aliviada. Mais do que isso, fiquei grata. Deve ser bom começar o ano assim. Começo rica, começo vencedora, começo firme, começo sábia.


A pequena capela vence o tempo sempre que reverencio o passado. 

Para variar, não vasculhei o guarda-roupa atrás do que eliminar. Já passei da idade dos acúmulos, não precisei jogar nada fora, porque hoje tenho o necessário. Deixei bem guardados o pijama velho, a camiseta larga, os chinelos com a forma dos meus pés, o batom que não é na cor da moda, a pantalona cor de cereja que nem sei se "está usando", só sei que, quando visto, meu reflexo sorri para mim do outro lado do espelho. Deve ser porque fico mais eu e, por isso, mais bela. Essas coisas eu não joguei e não vou jogar fora. Elas me confortam e carregam o consolo de uma boa história: a minha.

É por causa dessa história que também não vou reciclar os valores e crenças que sustentam meus alicerces. Levei muitos anos para construir o que sou hoje e posso dizer que a minha identidade se sustenta pela fé, pelo amor, pelo perdão, pelo otimismo e por uma certa inocência, sinal de sabedoria e alguma mansidão. Se há traços de braveza, mágoa, frustração e derrota, é porque a minha construção ainda não está acabada. Além disso, aprendi que não é preciso demolir o prédio para corrigir uma infiltração. Minha estrutura já se revelou bem sólida.

Viverei com o velho hábito de tomar café com leite, de fazer três coisas de uma vez, viverei com o velho hábito de olhar pela janela e achar o dia lindo, mesmo quando chove, só porque acordo de bem com a vida, seja ela colorida ou cinza. Viverei com o velho hábito de acreditar nas pessoas, porque se tem algo bom de renovar é o amor e o afeto. Viverei com o velho hábito de não desistir, de ir até o fim, de não deixar restos no prato. Este ano, vou além das convenções, vou preservar o meu ser.

Em 2014, valorizarei a história. Isso é novo.