Hoje, 21 anos depois de abandonar o ofício de cigana, sinto-me quase em paz com os meus pedaços – ou papéis. Vai chegar uma hora em que direi para mim: “Agora, sossega. Está tudo aí, a menina, a estudante, a cigana, a publicitária, a namorada, a andante sem rumo...” Dizer isso e não ter medo das consequências, porque, definitivamente, só assim eu serei inteira. E grande.
Consciente disso e na tentativa de perceber todas as evidências, outro dia, resolvi voltar aos florais. Sim, eu tomo floral de tempos em tempos. O que é outra história. E já que eu tenho tempo, vou contar.
Comecei numa época louca, de muito trabalho, muita animação, amigos em volta, natação todo dia, meditação e, como pano de fundo, um desejo de definição. Isso atormentava. Então, quis sair do forward e apertar o pause. Indicaram-me um profissional chamado Marcos Guião. Achei o máximo. Quem não acharia? O aumentativo dava o maior poder ao cara.
Não sei bem porque o procurei, já que sua especialidade era fitoterapia. Mas foi ele, sim, quem me receitou o primeiro floral. Não me lembro das essências da fórmula, apenas de uma: Impatiens glandulifera. Todo mundo que eu conheço – que toma floral – já se defrontou com essa essência, indicada para os irritáveis, inquietos, intolerantes, frustrados e tensos com situações que não ocorrem na velocidade que gostariam e como gostariam. Parece feio, mas todo mundo tem dessas coisas (Ok, isso eu aprendi outro dia mesmo).
O final do meu primeiro vidro de floral foi trágico. Impaciente como estava, comecei a implicar com as 4 gotas 4 vezes ao dia. Estando o vidro com um pouco menos da metade, num momento mais afobado, virei o gargalo e tomei num gole só. Depois, esperei por um fenômeno como do marinheiro Popeye, esperei uma apoteose, esperei que, num efeito potencializado, eu me tornasse uma Super-Iêda. É, eu disse que foi trágico e foi mesmo. Ser ridícula é uma tragédia.
Não sou mais assim, tá bom? Tenho muitas horas de terapia. Já tomei vidros e vidros de florais, gota por gota. Agora, quando percebo um descompasso, paro, sinto, pesquiso nas vísceras, nos sonhos, na fala e mando aviar minha própria receita. Claro, eu prescrevo. Dá certo.
O último tem nove essências. E estar escrevendo aqui é sinal de que funcionou. Jamais me exporia tanto se não fosse a Mimosa Puddica, uma essência indicada para “aflorar os aspectos da alma relativos à coragem e à confiança, a virtude oposta ao medo, a fé que o indivíduo precisa cultivar” (copiei daqui). Eu acredito e acho lindo. É o meu sossego numa gota...
Minha história com floral é essa. É claro que não acredito que resolveu a minha vida, mas acho que a tornou, no mínino, mais pausada. Cada vez que pingo uma gota, o meu pensamento vai para mim. E esta é a mágica: eu entro em foco!
Por fim, confesso: quando a dor aperta, tomo Neosaldina. E não se fala mais nisso.