O ano já ia pelo meio e nada decolava. Aliás, só o namorado (o que não foi tão ruim assim). A saúde exigia cuidados, o melhor trabalho foi cancelado, o dinheiro ficou escasso... Nem reza brava adiantava. Uma amiga, vendo a situação inglória, indicou-me uma consultora de feng shui. Por que não? “Pior do que está, não pode ficar” – foi o que pensei.
Mas ficou. Já na entrada, a moça não gostou da minha casa. A porta principal era numa diagonal impensável, a disposição dos móveis impedia a circulação da energia (ch’i), áreas importantes do ba-guá simplesmente não existiam na planta rabiscada diante dos meus olhos incrédulos.
Uma semana depois, ela voltou com o diagnóstico definitivo e boas notícias. Eu podia resolver o problema da entrada, bastava usar – eu e todo mundo – a porta da cozinha, levar a geladeira para a área de serviço (só não sabia o que fazer com a máquina de lavar), pendurar um sino de vento na janela da sala, afixar hexagramas nos armários, encher uma taça d’água e colocar ao lado da cama com três pedrinhas... A lista era imensa.
Eu cumpri quase todas as tarefas, porque sou boa nisso. E esperei. Não sentada, porque cansa. Continuei trabalhando, criando, acreditando e, principalmente, entrando pela porta de serviço.
Um mês, dois meses, três... E alguma coisa começou a mudar. Não, muitas coisas mudaram. Comecei a ficar com raiva toda vez que entrava pela porta da cozinha. Comecei a me irritar com o barulho dos sinos. Enchi o saco de trocar a água das pedrinhas. E o sal grosso na sala de visitas, que esqueci de mencionar, transformou-se em obrigação de limpeza. Essa não!
Sou crédula, mas não sou boba. Resolvi conferir o diagnóstico, fiz outras consultas na internet e era isso mesmo. A profissional tinha sido competente na análise. O que fazer? Mudar de casa? Não mesmo! Sentei-me um dia no centro da sala, respirei fundo, fechei os olhos e pensei no que me faria bem. Meia hora depois, eu já sabia.
Voltei alguns móveis para o lugar de origem, retirei outros, passei com passo firme pela porta da frente, deixei a geladeira na cozinha, coloquei o sino do lado de fora, comprei flores frescas para a sala, dei lugar para plantas, aromatizei a casa, abri as janelas, iluminei meu espaço, espalhei fotos pelos cômodos... Era como se eu mandasse um recado pra sorte (ou azar, sei lá!): “Quem ocupa este espaço sou eu e vou em frente.” Fui.
Mentira. Estou indo. Só que, agora, bem-acompanhada, com disposição, otimismo e coisa e tal. Só falta um detalhe: alguém aí conhece técnicas para ganhar muito dinheiro que não seja muuuuiiiito trabalho e que não bagunce a minha casa?