É difícil ser zen nos momentos bons ou simplesmente banais do cotidiano. É difícil encher-se de coragem para enfrentar o mundo, mesmo que o enfrentamento tenha a ver com a posição numa fila. É difícil ser uma pessoa correta e boa nos pequenos gestos do dia-a-dia. É difícil ser uma pessoa íntegra, que não tem que se envergonhar de pequenos crimes. É difícil manter o humor em situações corriqueiras. É difícil ser otimista quando a vida anda nos trilhos.
Quando tudo vai bem, quando o tédio é o único e pior castigo, quando o controle está nas nossas mãos, é difícil manter uma conduta reta, otimista, em paz e amorosa. Por isso tropeçamos nas boas intenções, fazemos planos que não cumprimos, damos respostas das quais nos arrependemos, por isso não falamos toda a verdade e contamos a história pela metade. Eu, você e todo mundo, vivemos nossas imperfeições o tempo todo. Porque é difícil ser diferente.
E é quando os piores momentos chegam que nos conscientizamos que aquela água que corria calma, dia após dia, no fundo da alma, ia polindo a coragem, o caráter, a bondade. É quando a vida exige gestos grandiosos que notamos a grandeza de que somos capazes.
Vivo um desses momentos. Estou no profundamente triste da vida. No entanto, agora, exatamente agora, nesse trecho tortuoso do caminho, eu me assusto, não com o desafio, mas com a minha capacidade de reafirmar o meu otimismo e a minha fé. O tempo não passou em vão por mim. Nas minhas invenções, no meu jeito de inventar remédios, patuás e credos, moldei uma Iêda melhor.
E posso contar que não andei sozinha. Indizíveis vezes, nesses últimos dias, meus olhos encheram-se de lágrimas, porque pessoas queridas me ligaram, não para me questionar, mas para me amarem caladas. Por todas essas pessoas e por outras tantas que fazem do amor e do respeito sua bandeira, hoje, eu acredito mais na vida e sou mais otimista.
Ouvi Isabel Allender dizer numa palestra: “precisamos manter o coração destemido”. É com grande gratidão por tudo o que me aconteceu, e que forjou em mim o coração que carrego, que eu digo: tenho um coração destemido. A partir de hoje, é ele que vai falar, não mais o meu medo de desagradar, não mais a minha fantasia de pessoa perfeita, não mais a escrita rimada e de alma acanhada. Sempre acreditei no maior, melhor e mais justo. Portanto, faço desses ingredientes o tempero do meu texto. Zenhumorada e apaixonadamente forte.
Vencer pequenas batalhas pode ser difícil, mas a guerra eu não perco. Só porque entro nela com o coração destemido.