O processo é longo. Precisa de um ano inteiro e muita dedicação. Há que se regar, adubar, buscar boa luminosidade e a ventilação ideal. “Vigiai o tempo todo!” – parece dizer a planta, após um descuido ou distanciamento. E lá se vai o viço. Então, porque a natureza não sabe de mágoas, basta um copo d’água para que ela recupere a boa forma. Tanto trabalho para quê? Para vê-la florescer.
Um dia, a gente acorda e tudo parece adormecido na mesmice. Nenhum broto, nem mesmo uma folha morta dando um tom diferente. Então, a promessa do verde se cumpre: há um broto. Inicia-se o acompanhamento expectante. Cada dia, uma olhada. Nada. Só resta dar tempo ao tempo, relaxar na espera, acreditar no curso da natureza. Tanta espera para quê? Para vê-la florescer.
E hoje, exatamente hoje, segunda-feira sem charme, ânimo ou esperança, ela deu o ar da graça. A minha orquídea já tem flor. Várias. Há um cacho de pequenas flores brancas com matizes de marrom, amarelo e rosa. Perfeita na forma, sutil nas cores, surpreendente no perfume. Olho e fico extasiada diante do extraordinário. Depois, reparo que outros cachos se revelam. Ela ficará cheia, plena de ser orquídea.
Nesta segunda-feira vazia, uma planta iluminou meu canto. Não há esforço ou esperança que não valha este espetáculo.
A orquídea me inspira. Penso em raízes fortes para me sustentar nos bons e nos maus momentos, penso em ter calma para realizar minha obra, penso sem seguir mais leve, levando apenas o essencial para o corpo e para a alma (o resto, são superficialidades que o vazio inventa), penso em cumprir as promessas da semente. Gostaria de ser como esta planta cujo destino se concretiza dia após dia, em silêncio, sem estardalhaço, sem porquês, apenas seguindo para florescer. Gostaria de enfeitar meu lugar no mundo. Quero florescer o belo que carrego.
Será que esse incômodo é um broto?