Certas coisas não deviam passar despercebidas. O sol numa manhã de inverno é uma delas. E se tem céu azul e o ar limpo, porque chuvou à noite, é para se perceber com alegria imensa. Ontem foi assim. Sai de casa, andei, curti o sol, aspirei o ar fresco, senti o vento no rosto, olhei árvores, pássaros, pessoas, abri os braços, e o céu estava azul, o dia estava lindo... Não deviam passar despercebidos. Para muitos, isso não tem a menor importância, eu sei.
Afinal, há tantos assuntos urgentes, tantas discussões aguardando ouvidos atentos, tantas providências a serem tomadas e tantas previsões alarmantes, há tantos compromissos de cidadão, eleitor, há necessidade de pessoas conscientes e tão poucos para exercerem este papel. Mas eu ouso perguntar: Pra que o sol neste cenário?
Já ficou doente, sem poder andar, entediando-se com o mesmo filme na TV, sem saco para ler, com dor, sem sono? E já aconteceu de você sarar e sair de casa achando tudo lindo? Comigo é assim. Só que eu não espero ficar doente. Eu vivo todo dia. Há algum tempo, eu vivo por viver. Não vivo para trabalhar, não vivo pra, não sou aquela que vai golpear a idiotice do mundo, nem vou fazer sucesso. Quero é ser boba, como escreveu Clarice Lispector (leia aqui), um desses bobos que ousam ser felizes apesar de.
E quanto à pergunta lá em cima, respondo: o sol não tem pra quê. O Sol é. Já percebeu o quanto?
O que eu quero dizer com isso? Certas coisas não deviam passar despercebidas. Então, pare e ouça uma música de vez em quando. Tem um arco-íris te esperando...