sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A palavra que não vem

Palavras têm força. Sabem disso os incautos que falam pelos cotovelos e, quando se tocam, contrariaram até mesmo as suas crenças. Como quem acredita na bondade e numa palavra fere a quem mais ama.

Palavras têm força e sabem disso também os monges budistas que afirmam que pensamentos geram palavras, palavras geram atitudes, atitudes geram hábitos e os hábitos formam a personalidade.

Lido com as palavras. O dia todo e aqui também. Lindo ofício e, por exercê-lo, é de supor-me uma exímia domadora de verbetes. Não sou. Menos em escrever, mais na hora da conversa, sou exímia em me perder e, confesso, nada é mais irritante do que não conseguir chegar a uma conclusão. Pior, nada é mais irritante do que não conseguir expressar aquilo que me vai na mente ou no coração.

E a grande contradição do mundo é que silenciar piora a interpretação. O mundo quer ruído e eu digo: pior para o mundo.

Eu admiro das palavras. Tanto, que gostaria de embalar as minhas preferidas de tal modo que até a fala mais banal soasse como um poema. Gostaria de escolher as palavras mais bonitas para comunicar as minhas crenças. Mas sou uma aprendiz da comunicação.

Vivendo, vou percebendo que não basta ter palavras, é preciso ter acuidade, tranquilidade, sabedoria e algo mais para tornar os discursos menos vazios, egocêntricos ou pretensiosos. Desconfio que esse algo é amor.

E enquanto o poema de vida não vem, homenageio o talento alheio.

Ai, Palavras
Ai, palavras, ai palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai palavras,
sois o vento, ides no vento,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova!
Ai, palavras, ai palavras,
que estranha potência, a vossa!
Todo o sentido da vida
principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois audácia,
calúnia, fúria, derrota…
A liberdade das almas,
ai! com letras se elabora…
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil como o vidro
e mais que o são poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam…

(Cecília Meireles)