quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Casa e cabelo

Quando minha amiga B usou a metáfora da casa para exemplificar o sentimento de desconforto típico de alguns momentos de mudança, a informação encaixou-se muito bem junto às minhas crenças. E ficou bem guardada até ontem, quando, numa conversa confidente com outra amiga querida, tirei a metáfora dos meus guardados e demonstrei, num misto de consolo, estímulo e afeto, que a casa – que era ela – estava em construção.

A metáfora é boa. Disse a minha amiga B que uma casa em construção pode ser confundida com uma casa em processo de demolição. Basta que se olhe superficialmente, de longe, sem se adentrar, sem perceber as diferenças em cada cômodo.

Quem tem o carinho de olhar de perto, verá que há uma grande diferença. Uma pessoa em processo de mudança, que está saindo da zona de conforto e se arriscando a ser maior, só pode ser confundida com uma pessoa destroçada e vencida por quem não tem o cuidado de se aproximar e reparar bem.

Mas isso não é o que mais importa. O meu foco é outro, é a casa. Digo, é a pessoa, o sujeito da evolução. Porque não são os outros que acordam e duvidam da obra, é quem se dispõe a mudar.  Porque, quando tudo começa a sair do lugar, há desconforto, tristeza, incerteza, dúvida e é preciso acreditar que tudo será passageiro. É preciso aguentar se ver mais feio, mais irritado, mais impaciente, mais calado, mais chato. É preciso acreditar que o processo fará enorme diferença, como ser mais feliz, mais seguro de si, mais qualquer coisa que se queira.

É muito simples e não é fácil. Por isso, persistir é o que diferencia os que avançam e terminam sua construção, e abrem as portas e janelas para quem quiser ver, e iluminam os cantos escuros, e jogam fora os entulhos, e ainda finalizam com o esmero de um corte de cabelo ou com o capricho de uma roupa nova.

A minha amiga pintou os cabelos. E eu vi uma bela casa.