segunda-feira, 11 de março de 2013

Aula de mim

Uma mulher de baixa estatura e muita presença. Ela é assim, morena e baixinha, mas há algo no traje todo branco, na postura sempre correta e no turbante que prende os cabelos que acrescenta distinção e a impressão de mais alguns centímetros. Sobretudo, há algo na atitude que a engrandece. Um observador mais atento diria que há mais um detalhe importante, já que os alunos chegam e vão se assentando no chão, enquanto ela se assenta alguns centímetros acima, no pequeno praticável. Ali, estão dispostos tapete, almofada, cronomêtro, equipamento de som e i-pod. Enquanto ela se dirige para a turma – a minha turma –, é comum o olhar de quem está embaixo desviar-se para o retrato afixado logo atrás do praticável. A autoridade daquele olhar impõe respeito e dá poder às palavras.

Hoje, olhando em volta, eu podia ver mais três mulheres, três idades diferentes, três personalidades diferentes, três mistérios e o mesmo convite: decifra-me. Eis um convite que sempre aceito. Na minha imaginação, junto evidências, palavras soltas, o estilo da roupa, a postura, o passo, a voz, os gestos, junto tudo e vou compondo uma história. Por pouco tempo. De repente, olhos fechados, o que há são presenças idênticas, pessoas em busca, mulheres num caminho... Concluo que esta é a força de uma turma: gente sempre soma.

Do espaço que ocupo na grande sala, vejo o mundo lá fora. E o mundo parece distante. A analogia é fácil: aquele mundo fica cada vez mais longe, porque o tempo passa e eu me dirijo para o lado de dentro, lá, onde o mundo se apaga e eu me concretizo.

Além da vista, as quatro janelas amplas deixam passar o vento. Este é perceptível e se integra ao momento com uma sutileza que não desperta, traz cheiro e é carícia. Uns dias úmido, outros dias seco, agradável sempre.

E tem a música tranquilizadora, envolvente e, muitas vezes, pungente. A mente se perde nas notas e a gente se esquece das vozes. Ali, o diálogo interno é mais sensato, comedido e mais bonito.

Cenário e personagens descritos, há que se falar da prática. É desafio, descoberta, satisfação, tentativa, esforço, ganho...

Ganho. Escrevo esta palavra e vejo que ela diz muito. Escolhi praticar Kundalini Yoga em busca de equilíbrio, saúde, autoconhecimento. Um ano depois, posso dizer que ganhei um tanto de tudo isso. Mas, hoje, ouvindo a pequena grande mulher falar, descobri outras coisas preciosas que estou ganhando a cada encontro: o meu ser, a minha voz, a minha projeção no mundo.

Cantávamos um mantra e, de tempos em tempos, ela nos instigava a irmos além da repetição pura e simples: "Ouça sua voz. Conecte-se consigo mesma. Ouça quem você é. Acredite, projete-se nas palavras..." E nós repetíamos: "Humee Hum Brahm Hum!"

Eu sabia o significado daquelas palavras, mas acontece que a repetição com entrega me fez senti que, de fato, "nós somos o espírito de Deus".

No final da aula, restavam algumas palavras a dizer e eu digo agora: Sou grata, Sat Sangat, por ocupar um lugar na sala e nesta história, sou grata por estar conosco no caminho.
Inspiração.