quinta-feira, 11 de julho de 2013

Livremente

Eu não queria ser livre pela força poética da palavra liberdade, embora isso fosse coerente com a minha alma e me bastasse como argumento nos dias de maior entrave. Eu quero ser livre por motivos bem banais e, como se trata de vida – da minha vida –, ouso considerá-los essenciais. E quanto mais o tempo passa, mais banais são meus motivos. Então, descubro que ser livre de verdade requer alguma maturidade.

Posso dizer que escolhi, por exemplo, a liberdade de não ter emprego fixo e uma carteira assinada, arcando com toda a dificuldade que resulta disso, só porque não há dinheiro e estabilidade que paguem a minha fuga de ontem à tarde. Ah, como eu fui feliz vendo as pessoas apressadas, enquanto eu, devagar, observava. Não, eu não era o personagem que move a engrenagem, era espectadora, admiradora, aquela que se distancia para curtir a história.

Ontem eu fugi da rotina. Pois eu quero ser mais livre ainda para isso, para fugir quando for preciso.

Eu quero ser livre para não me importar com a hora e poder ficar mais um tempo olhando para a pessoa querida ou para o cisne. É disto que eu preciso: de pausas para ouvir e para admirar. Eu não preciso de relógio para cronometrar o afeto e o prazer. Ser livre é aprendizado de administrar com cuidado escolha e necessidade, obrigação e diversão. Eu sei disso, aprendi que liberdade é poder – e saber – ouvir o coração.

Eu quero ser livre para dizer sim. Dizer sim à pipoca, ao filme antigo, à roupa colorida, à preguiça; dizer sim à dança, à música, ao desejo e à falta dele; dizer sim ao livro, ao presente, à união e à solidão; dizer sim ao sol e à lua, à noite e ao meio dia; dizer sim aos pés descalços, ao impulso e à caminhada; dizer sim nas despedidas e sim para a saudade que fica; dizer sim aos temperos novos, aos ingredientes diferentes e, em volta da mesa, saborear a vida... Livremente.