Há algum tempo, eu estava assim, assim, sem saber o que fazer da vida, se metia os pés pelas mãos ou se dava um novo passo, se virava a última gota ou entornava o caldo... Para não perder o rumo, resolvi arriscar na sorte e marquei consulta com uma taróloga.
O que eu buscava? Uma solução? Claro que não. Em sã consciência, ninguém acredita mesmo em previsões. Elas são úteis apenas para que saibamos no que queremos acreditar. Já é de grande ajuda.
A primeira frase foi: “O que você anda perdendo?” E a consulta foi por aí, ela tentando me dar uma luz e eu cada vez mais perdida. Dizia: "conhece alguém em cargo de poder? Essa pessoa pode te ajudar.” É claro. Todo mundo sabe que um amigo em cargo de poder pode ajudar. Mas ele precisa querer, né?
Sai de lá com duas coisas a menos: dinheiro e paciência. Mas tudo bem, fui direto tomar cerveja com duas amigas. Porque, às vezes, copos na mesa funcionam mais do que cartas. O rei virou piada.
Horas depois, peguei um táxi, paguei, entrei em casa e a pergunta da moça me voltou:
– O que você anda perdendo?
– Oh, meu Deus!
Corri até a bolsa, olhei, olhei de novo e nada. A carteira havia caido no táxi e o motorista já estava longe. Com ele, foram-se alguns trocados, cartões de crédito, documentos e o humor que me restava.
Demorou quase um mês para que eu retirasse todos os documentos, recebesse novos cartões de crédito e comprasse uma carteira tão bacana quanto a que a minha irmã havia me presenteado uma semana antes da sessão de tarot. Foram horas e horas de filas e andanças.
Então, descobri o que estava perdendo: meu tempo.