Lá ia eu com passo apressado, temendo chegar atrasada ao compromisso. Ia pensando nos argumentos para a conversa, no preço a cobrar pelo serviço, entre outras coisas. Não perco tempo. Ando e trabalho.
Eis que – ôpa! – quase pisei numa fila de formigas. “Oh, lá vão elas apressadas.” O pensamento ia descambar nessa viagem, mas eu não tinha e não tenho tempo a perder. Numa atitude até um pouco zen, pulei a fila, livrei do aniquilamento dezenas de formigas e fui descendo a ladeira. Cem metros abaixo, irritei-me com minha pressa. A menina que fui não perderia de jeito nenhum a chance de observar a movimentação das formigas. Agora não, a pressa acabou com a poesia.
Duas horas depois, estava de volta. E as formiguinhas lá, na incessante tarefa de levar uma carga com duas ou três vezes o seu tamanho. Parei para vê-las. Resolvi reinstalar a poesia e a calma no meu dia. Que mal teria perder uns minutos?
Parei e observei. A fila seguia agitada. Duas formigas se encontraram – "será que elas conversam?". Na entrada do formigueiro, nenhum tumulto. Como são disciplinadas! Giravam o corpinho de formiga e entravam de ré, deixando a folha para fora. Depois, com competência, arrastavam-na para dentro. E vieram formigas, refazendo o caminho em direção a outras folhas.
– “Mas o que é isso?”
Passado o susto, ainda proferi uma palavra antes de dar as costas:
– "Malditas!"
Ao acompanhar o trajeto em direção às folhas, vi o enorme estrago das formigas na árvore mais linda da minha rua. É uma árvore pequenina, mas dá flor. Perdi o humor e fui embora praguejando.
Antes de abrir o portão, olhei para trás, vi a árvore, notei que ela resistiria perfeitamente ao ataque e não pude evitar uma gargalhada. Que ironia eu querer ser zen e não dar conta de ser humorada. Então, me pergunto:
– “Iêda, cadê a poesia?”