– Se alguém chega até você com um presente
e você não o aceita,
a quem pertence o presente? – Perguntou o Samurai.
e você não o aceita,
a quem pertence o presente? – Perguntou o Samurai.
– A quem tentou entregá-lo – respondeu o discípulo.
– O mesmo vale para a inveja, a raiva
e os insultos – disse o mestre.
Quando não são aceitos,
continuam pertencendo a quem os carrega...
e os insultos – disse o mestre.
Quando não são aceitos,
continuam pertencendo a quem os carrega...
As palavras cairam como temporal em solo seco. As boas intenções vieram-me como uma enxurrada. Só me pergunto se algum dia eu aprendo que chuva forte não irriga nada, apenas arrasta e arrasa. Para mudar, é preciso que as palavras caiam como chuva leve. Mas eu me esqueço disso. Quando percebo, estou bebendo lições em grandes goles, com a avidez de quem quer fazer a vida dar certo. E eu quero mais: quero fazer bonito.
Mas fiz feio. Saindo de casa, percebi uma raiva encolhida num canto e quis saber: “Por que estou me sentindo assim?” Vieram-me possíveis explicações: TPM, cansaço, assunto mal resolvido... Não era nada disso. Então, conclui que o sentimento era apenas uma sombra imitando fantasma.
Estava enganada. Após uma pergunta, respondi com um berro, depois outro, outro... Não conseguia me controlar e pensei: “Meu Deus, o que está acontecendo comigo?” Eu queria retroagir, queria transformar o imperfeito em mais que perfeito, queria apagar o "eu errava" e escrever "eu errara". Esforço inútil. Então, aquele que andava comigo, percebendo que o presente não era seu, calou-se e me devolveu a raiva. Tive que carregá-la.
Segui pesada e muda de raiva. De repente, num insight, percebi que ficar calada era a melhor arma. Após uma hora, o silêncio fez sua obra. Descobri que a vontade de ser perfeita era a causa. Faz algum sentido? Para mim fez. Eu quis ser a filha perfeita, a profissional perfeita, a namorada perfeita e, porque isso é impossível, errei. Quanto mais eu errava, maior minha raiva. Ainda bem que, quando se enxerga, resolver fica mais fácil.
Cheguei em casa e tomei um banho com sabonete de mel. Eu queria ficar doce? Ri que sim. Deixei-me perfumadamente imperfeita.
Depois, tomei um chá de verbena, maçã e laranja da marca Tealosophy, que a minha amiga Silvana trouxe de Buenos Aires para mim. Atentei-me para o nome do chá: Calm of silence. Mera coincidência? Só sei que o chá fez o milagre prometido: deixou-me mais calma.
Hoje, repeti a dose e descobri que Ines Berton, a proprietária da loja de chás, lançou um CD com músicas para relaxar. Entre pequenos goles e alguns acordes, delicio-me com a certeza de que erros são perfeitamente suportáveis.
Quer saber? Perfeição é o inferno e a raiva, o diabo que a carregue.