Um dia eu me perguntaram:
– você anda meditando muito?
Respondi que não. E veio-me uma pontinha de culpa. Então, expliquei que o trabalho anda exigindo muito do meu tempo. Não há como encaixar meditação. Já esforço-me bastante para fazer as "sagradas" caminhadas de todos os dias.
Alguns minutos depois, veio-me uma certeza e nenhuma culpa: medito todos os dias, todas as horas, todos os minutos.
Medito quando acordo e me espreguiço como gato. Medito quando fecho os olhos e vou para dentro para ver com que coragem vou encarar o mundo. Medito quando escovo os dentes e quando sinto o aroma do café que pinga lentamente ao ser coado. Há que se ter paciência nessa hora. Medito quando ando em torno da lagoa e vejo as pessoas sendo – cada uma do seu jeito. Medito quando tomo banho e sinto a água escorrendo pelo corpo, levando tudo o que não presta. Sei disso porque, nessa hora, eu medito. Medito quando passo meus cremes e aspiro o perfume, enquanto percebo onde o corpo guardou minhas memórias – ruins ou ótimas. Medito quando massageio ponto suspeitos e penso que alivio minha bagagem.
Medito quando vejo na agenda os trabalhos do dia e me programo para dar conta sem atraso ou descaso. Medito quando encaixo pausas para ver a vida e medir o tempo ganho – e não o perdido. Medito quando quando molho as plantas e quando aspiro o aroma da pseudo-horta. Vou longe nessa hora.
Medito quando almoço e coloco cores diferentes no prato para brincar de arte. Medito quando como um pedaço de chocolate e encho a boca, curtindo o gosto em cada canto – prazer é comunhão com o que há de mais elevado. Medito quando fico sentada diante do computador e leio as coisas do mundo, enquanto traduzo minha percepção para textos sob encomenda. Medito quando não paro de escrever, porque a inspiração está sem freio.
Medito quando saio e converso com os amigos. Medito quando preparo-me para dormir e penso no dia que há de vir.
Agora, respondo com convicção:
– Sim, eu estou meditando muito. Só que a minha meditação não é transcendental, ela é a meditação do aqui e agora, a meditação acidental. Pelo menos por enquanto...