Hoje acordei atenta às palavras. Não sou dos personagens que mais falam. Também não uso sempre a palavra mais certa. Ocorre de usar palavras que ferem. Ocorre de ser frouxa como mel escorrendo pela boca. Ocorrem vômitos de palavras engolidas a contragosto. E também palavrões. Sobra o quê? Confidências suspeitas, mentiras gentis, citações aprováveis, besteiras do dia-a-dia, como o leite derramado... Talvez seja hora de calar para a alma.
Calo-me e cito uma frase de Barry Stevens do livro Não apresse o rio – ele corre sozinho, o mais zenhumorado que eu já li:
“Como criança, eu sentia fome
antes de conhecer as palavras que rotulam tudo isso.
Eu sentia.
Agora, quase só uso palavras
e não sinto quase nada.”
Fiquei com fome de dizer:
Quando eu me calar no coração,
ouça-me com os olhos.