segunda-feira, 15 de março de 2010

Quando eu me calo

Às vezes, são carícias. Outras, são inspiração para algo mais bonito. Acontece de serem como luz em meio a sombras, traçando um sentido, um rumo. É triste quando são vazias. Mais triste quando são flechas lançadas ao acaso. Não existe explicação para as impensadas. Pesam como pedra quando resolvemos carregá-las com fé cega. Na maioria das vezes, são dispensáveis. E a vida faz-se delas. Usamos o tempo todo em pensamentos, atos e omissões. Talvez por acreditar que, como personagens da história, temos que ter roteiro e muitas falas. Ninguém quer ser o coadjuvante mudo. A estratégia é falar muito.

Hoje acordei atenta às palavras. Não sou dos personagens que mais falam. Também não uso sempre a palavra mais certa. Ocorre de usar palavras que ferem. Ocorre de ser frouxa como mel escorrendo pela boca. Ocorrem vômitos de palavras engolidas a contragosto. E também palavrões. Sobra o quê? Confidências suspeitas, mentiras gentis, citações aprováveis, besteiras do dia-a-dia, como o leite derramado... Talvez seja hora de calar para a alma.

Calo-me e cito uma frase de Barry Stevens do livro Não apresse o rio – ele corre sozinho, o mais zenhumorado que eu já li:

 “Como criança, eu sentia fome 
antes de conhecer as palavras que rotulam tudo isso. 
Eu sentia. 
Agora, quase só uso palavras 
e não sinto quase nada.”


Fiquei com fome de dizer:
Quando eu me calar no coração, 
ouça-me com os olhos.