segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Basta este dia

Que importância tem não dormir direito? Que importância tem os pesadelos? Que importância tem acordar no meio da noite, olhar em volta e não reconhecer o próprio quarto? Que importância tem a sensação de estar longe de casa? E, por fim, que importância tem o sentimento de impotência a que se segue o pensar no sentido da vida?

Nenhuma. É um alívio imenso abrir os olhos e ver que o relógio indica a hora de começar a rotina. Quando o dia amanhece, os pensamentos sombrios da noite são vistos à luz da razão. O sol brilha lá fora e aqui dentro.

Por isso, a rotina é libertadora. E lá vou eu para a caminhada matinal, abrir os braços para o sol, respirar fundo, saudar o novo dia que chega.

O dia que começa, este, sim, tem importância. É bom pensar que podsso mudar o rumo, que posso escolher palavras melhores, caminhos mais longos – porém mais certos. Valorizo a importância das possibilidades. Sem elas, o que há são apenas repetições e a inevitável frustração. Enquanto eu ainda tiver uma nova ideia para a vida, o sol irá brilhar após as noites sombrias. E eu sou tão boa em ter esperança, sou tão otimista! Não sei de onde tirei isso. A vida não foi uma maravilha. Nunca é. Ainda assim, tenho prazer com o que vivo e respeito pelo que vivi.

Claro que faria outras escolhas se me fosse dada a chance, claro que não diria tanto sim. Mas, depois da noite ruim a que me refiro – e foi ontem –, veio-me a certeza de que estou em pleno inferno astral e de que ele existe para isso mesmo, para pensarmos no vivido. Posso até usar a balança, como Carlos Drumond de Andrade, para “medir o tempo perdido”. Posso ficar "à espera da manhã que venha trazer leite, jornal e calma”. E daí? A manhã sempre vem.

Viverei este dia com a consciência de sua importância. E basta. É o que desejo pra você também.