quinta-feira, 10 de maio de 2012

Outonos

Olho pela janela e vejo a mesma paisagem, agora, diferente. Há algo mais do que a tonalidade cinza, algo mais do que a névoa que sutiliza o recorte dos prédios. Há o mistério das estações.

O outono chegou com sua bagagem e, a cada dia, vai mostrando uns tons envelhecidos, tons de guardados, como se tivessem esperado calmamente o verão colorir a tela e, já desbotado, sair de cena. Vai mostrando que tem cor e sopra. A brisa que me toca traz um friozinho também. O outono arrepia a pele.

Olho para dentro e vejo a cozinha. Sobre o fogão, imagino uma velha chaleira – o outuno não combina com o novo, isso é coisa primaveril. Na chaleira, imagino chocolate quente, café com leite, qualquer bebida que aqueça, somando líquido, calor e as lembranças mais antigas, mais amigas. O outono tem gosto e textura. O outono é fofo como um bolo saindo do forno na casa da avó da gente.

Outono combina com o Tchekov que estou lendo. Tende um pouco para o sombrio, mas soma elegância e originalidade indiscutível. Passo as páginas e respiro fundo. Obsorvo a literatura e o romance que me circunda. É a vida real, é outono. Os hábitos mudam.

A Terra girou. O tempo passou. Agora, o outono desfila lá fora e dentro de mim. E eu que nem havia pensado que estreio o outono da vida também! O susto passa como a folha que o vento leva. É bom saber que eu passei o tempo. Não foi só o tempo que passou para mim.

Ouço Vivaldi e convido você a ouvir também. Porque é outono.