A moça mal chegou aos trinta, sente-se velha e, no meio da conversa, escapa a irritação com o tempo que passa rápido. É sempre assim.
Então, que papo é esse de que ficar mais velho pode ser uma dádiva? É apenas papo de quem ainda se recupera do susto diante do espelho? Não. Envelhecer pode ser diferente. Acredito na beleza das idades e do vivido. Mas para sabê-lo, é preciso ter saído da casa dos 20, 30 e, em alguns casos, até dos 40. Tem também gente que talvez não vá saber nunca.
Falo com algum conhecimento de causa. Acabei de completar 46 anos. Quando tinha 20, achava que 46 era a beira do precipício da velhice. Não é assim que me sinto agora. Sinto-me algumas coisas mais. Mais próxima de quem sou realmente, mais amorosa com o mundo, mais tolerante, mais intolerante outras horas, mais realista com meus compromissos e realizações, mais calma, mais frágil e também mais dura quando é necessário, mais corajosa e mais medrosa, porque aprendi que o medo tem importância salvadora...
Sinto-me, sobretudo, mais sábia. Agora eu reconheço que o que sei é quase nada. Não sei o sentido da vida, nem como funciona o raio laser, não sei expirar culpas nem se há vida após a morte, não sei como a semente brota nem porque a célula tem memória, não sei qual a solução para a fome nem como se dá poder a tantos imbecis. Não sei e é tão libertador não ter que saber! Isso é fruto da idade. A gente começa a desperdir-se e o primeiro da fila é a pretensão de que sabe muito, depois vem a pretensão de que se é insubstituível. A gente é mais do que isso. Muito mais.
Então, posso concluir que estou mais na vida do que antes. E devo dizer que tenho mais rugas e estou mais flácida. E daí? Se a gravidade leva a vaidade abaixo, a cabeça e o coração dão um up.
Falo a verdade ou não? Vai viver pra saber...