Não tem problema se eu me esqueço de ligar para a amiga que não vejo há semanas. Não tem problema se a minha mãe espera o telefonema que não vem. Não tem problema se encaro o trabalho com uma disciplina férrea e meto a cara sem descanso. Não tem problema se nem cobro o preço justo. Não tem problema, porque eu tenho os amigos, mãe, irmãos, companheiros de trabalho e namorado na mais elevada consideração.
Foi nisso que eu acreditei. Eu só não percebi, que esquecendo a amiga, a atenção com os que amo e o tempo certo para criar, eu me esqueci de mim. Então, fiquei doente, doeu e me lembrei de um amigo que entende muito de leitura corporal. Ele diria que o corpo deu um grito e ficou doente, para que a alma não adoecesse. O corpo adoece para indicar os bloqueios que eu crio e que impedem a paz e a felicidade.
Deitada na cama do hospital, enquanto observava a médica encher a seringa – que para mim e que iria doer muito –, fiquei surpresa com a minha coragem. Agora, eu sei que não gritei, porque o grito já havia sido dado antes. O que eu vou fazer do dia de hoje, em que a dor passou? Vou parar para escutar aquela voz que vem de dentro e saber o que ela quer de mim. Então não sei o que eu mesma quero? Sei, só que me esqueci.