segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Hora de colher

Estava previsto:
"Essa fase de colheita que começa a acontecer em sua vida representa também um período para eliminar o que não fará mais parte do seu processo evolutivo, aquariano."
Considerando as circunstâncias e a semeadura, eu acredito.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Correspondência

Eu queria receber uma mensagem. Quando clico nas quatro letrinhas e fico esperando a caixa abrir, relembro a ansiedade antiga de esperar a carta chegar. Não, ainda não foi hoje. Quem sabe amanhã? Somos assim, queremos a lembrança, o carinho e as palavras. E se elas não vêm, elevamos os ombros em direção à orelhas e os descemos rápido – sinal de desdém. Mas a raposa velha sabe do que desdenha. Na ausência de palavras, fica o silêncio do que era para ser. Ficam as uvas verdes e uma certa frustração.

Outro dia, assistindo a um vídeo com objetivos outros que não filosofar sobre a carência de uma mensagem, ouvi o senhor de longas barbas brancas repetir a frase que está lá, no livro antigo: "No princípio era o verbo." Para mim, ainda é. Preciso das palavras por princípio, por meio e como um fim. Por isso, espero. Por isso, escrevo.

De quem viriam as palavras que espero? Por que viriam? Quais seriam? Ah, isso não importa. Há momentos em que quero apenas corresponder para seguir. E se você também espera aquela mensagem que nem você mesmo sabe do quê ou para quê, faça de conta que estas palavras são para você.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Canto

Preparo um canto para mim e, nele, as coisas não vão além da conta. Só quero alguns enfeites, como velas diferentes, que sugerem noites coloridas; quero cortinas esvoaçantes, só para ver o vento dançar no sopro das manhãs. Nas paredes, quero fotos das pessoas que eu gosto, porque afeto é bom de mostrar. No meu canto, quero um caderno para os registros comovidos e poéticos do viver, quero um tapete, flores, almofada para meditar, livros de poesia para me inspirar, quero o que me move e o que me comove, porque o meu canto vai além do espaço físico. O canto que eu preparo é, sobretudo, uma extensão do meu coração.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Andar com fé

É grande e quase intraduzível a experiência de descobrir a fé. Aconteceu comigo. Sempre fui crédula, otimista, mais dada ao lado claro do que ao escuro. Até que, um dia, anoiteceu completamente. Aí, eu vi sai do meu peito, como luz, a evidência da fé. Foi como luz, porque evidenciou os passos dados e deu a certeza de que posso seguir sem medo de me perder nos descaminhos. Viver ficou mais fácil e bonito, mesmo na dor, porque eu fiquei maior.

Vou seguindo assim, andando assim... com fé.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Faz de conta

Um dia, eu intui a dor da semente quando brota. Pensei que seria como um parto, como abrir o peito e encarar a decisão essencial do momento. Hoje, eu penso que brotar vem com a força do inevitável e do incontrolável e, se tem uma dose de vontade, tem um grau superlativo de destino indecifrável.

Nesse dia de estourar como pipoca ou semente, vale lembrar de Clarice Lispector:
"Faz de conta que estou deitada na palma transparente da mão de Deus."
E não é mais da minha conta.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Instante preciso

Passando, senti o cheiro da flor de murta. 
Foi tão presente.

Começo a aprender a ser zen. Penso que seja gesto, surpresa ou atitude pontuais, simples e que só fazem bem.

Fico tão grata por isso.

sábado, 19 de outubro de 2013

Passando

Deve ser porque andei distraída por aí e muito confiante no meu passo. Ou pode ser porque o trem resolveu acelerar sem aviso prévio. Quando vi, quase tudo estava fora do ritmo. Perdi o rumo, mas foi só por um tempo. Agora, respiro fundo e vou tentando acertar na dança. Mas tudo isso são apenas suposições para esses dias estranhos. Certo mesmo é que é difícil e desafiador abrir o peito, os braços e os olhos para viver a vida que eu quero.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Chegadas e partidas

Soa o apito e os passageiros se agitam. Com ou sem bagagem, preparados ou não, em êxtase ou entediados, ouvem o trem anunciar a partida. Não há tempo para despedidas.

– Senhores passageiros, ocupem seus lugares!
A frase, a mesma de todas as estações, soa como ordem ou convite, conforme a disposição.

E lá se vão os passageiros. É gente entre gente. Multidão, coletivo de olhares, de gestos condicionados e esbarros. Multidão, eufemismo para anônimos, condição dos passageiros. Juntos no mesmo trem, prontos para seguir.

Os curiosos sentam-se à janela e olham. Lá fora, há uma paisagem diferente, há a cena em movimento. Esses não medem distância nem tempo, não pensam onde vão chegar, apenas aproveitam. Oh, viajar pode ser tão estimulante!

Os assustados, aqueles que temem o destino, encolhem-se graves no assento. Há muita incerteza a esconder. Já os presunçosos se agitam, questionando a existência do maquinista, dos trilhos e do trem. Depois, assentam-se altivos como líderes. Só não se sabe líder de quê.

Há os que se divertem. Circulam pelos corredores, arriscam-se, encenam um show e contam casos, falam de outras bagagens, de outra gente, de outros lugares, inventam histórias fantásticas e, no final, aguardam os aplausos. Essa gente teme o descaso.

Há moças tímidas, senhoras distintas, senhores oficiais, homens de bem, homens do mal, há meninos esquecidos, jovens esquisitos, bonecas antigas, idosos aflitos... Há passageiros muito interessantes nesse trem.

Olho em volta e percebo o vagão em que estou. Há gente nova por aqui. Ainda me ajeitando no assento, entristeço-me, porque algumas pessoas não embarcaram comigo. Nem tive a chance de me despedi. Mas a viagem me emociona tanto que, depois da curva, recomponho-me com entusiasmo. Percebo que está tudo certo, cá está a minha bagagem. Trago-a grande e preciosa. Embalei para viagem as lembranças todas, o que foi realizado, o que aprendi, os sonhos antigos e, claro, dei bom espaço para os novos.

Talvez, você que me lê agora, esteja no mesmo vagão desse trem. Então, veja, eu sou a moça ao lado, aquela que olha para fora e vê possibilidades adiante. Sou aquela que escreve num papelzinho o destino, para não esquecer que viajar é outra história.

Antes que o trem nos surpreenda com outra estação, antes que nos separe e convoque para um novo embarque imediato sem que possamos dar adeus num abraço, vamos nos sentar aqui e trocar confidências, vamos somar descobertas, vamos aprender a verdade de que a viagem ainda não chegou ao fim.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Desafio II - Por quê?

– Sim, foi um sábado inteiro – respondi sorrindo para os amigos impressionados com meu ar de cansaço.

Mas a ocasião festiva não permitia que eu me estendesse em explicações e, se permitisse, eu certamente não teria a clareza que tenho agora.

Agora eu sei que não foi só um sábado de silêncio e busca. Não foi só um sábado de mente quieta, espinha ereta e coração tranquilo. Não foi só um sábado de atividades desfiadoras. Descobri, algumas horas depois de chegar em casa, que foram muitos sábados. Naquele sábado, meus sábados se integraram. Estavam ali todos os sábados em que andei sem rumo,  todos os sábados em que perguntei e não tive resposta,  todos os sábados em que me senti magoada, frustrada, ferida, incompreendida, injustiçada. Estavam ali todos os sábados, domingos e segundas-feiras, todos os dias da minha vida. Dias alegres também, dias de conquistas, dias de orgulho, vaidade e cobiça. Estavam ali meus atos, bons e maus pensamentos, estavam ali, sobretudo, meus sonhos e desejos mais profundos. Quando se mexe com a vida, é com ela toda que se mexe, é com a bagagem, com a memória, com o corpo, com a alma, com a história.

De um jeito muito especial, delicado e sutil, no Tantra, encontro promovido pela ABAKY, a minha vida foi mexida. Agora, eu inteira sinto isso. Quando  estava sentada diante da moça que seria minha parceira de meditação, não imaginava que seria uma desconhecida a me estender as mãos e compartilhar comigo a descoberta de que eu aguento um grande esforço mais do que penso, de que me comovo profundamente com o outro e de que acredito em mudanças que dispensam explicações lógicas.

Jamais imaginei que seria capaz de meditar por uma hora inteira, mantendo os braços estendidos à frente, enquanto sustentava as mãos de outra pessoa entre as minhas mãos. Jamais imaginei que não me levantaria, imprecando desaforos de rebeldia contra o gesto de muito esforço e pouca lógica. Também não pensei que colocaria o meu dedo na testa de uma estranha e que sentiria bater no meu peito, como afago, a unidade universal. Por 62 minutos, meu dedo indicador pousou amoroso na fronte do mundo que eu atingi.

Será que eu preciso falar de punhos fortes se sustentando mutuamente? Será que eu preciso falar de um relaxamento profundo, tão profundo que a respiração parecia vir da infância, passar pela adolescência e vir subindo, subindo até que, na boca, saia em suspiro de reconhecimento e alívio? Será que eu preciso falar que aguentei sentada mais uma hora de braços estendidos, mais uma hora de mãos se tocando? Sim e está dito. Foi feito. Dei conta.

E, agora, relembro a outra pergunta que os amigos me fizeram: – Por quê?

Isso eu não preciso dizer. Para saber, é só ler de novo e deixar a emoção das entrelinhas te co-mover.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Desafio I - Pra que te quero?

O convite era tão tentador quanto o meu desejo de algo novo. Então, aceitei e acalentei lá no íntimo uma esperança de milagre. Ao longo de cinco meses, paguei a parcela devida como quem paga o dízimo. Pensei com humor que queria garantir o meu lugar no céu – e, aqui, céu era paz de espírito, clareza, compreensão dos caminhos e força nos descaminhos. Eu queria o tipo de experiência que costuma tornar a vida uma aventura mais digna, quiçá mais bonita. O convite era minha oportunidade.

Eu disse sim e reservei o meu lugar entre as quase 300 pessoas que se vestiriam de branco e circulariam nos intervalos pelo espaço preparado com esmero e que somava mais um trunfo: estar à beira da Lagoa da Pampulha. A cada dois anos, a ABAKY – Associação Brasileira dos Amigos da Kundalini Yoga promove o Tantra, um encontro que reúne praticantes de kundalini yoga de todo o Brasil. Ao dizer sim, eu não sabia exatamente o que esperar. Prática de yoga, meditação, palestras? Eu não sabia, mas também não questionei. Apenas confiei na intuição de algo bom.

Uma semana antes, já podia sentir alguns efeitos da minha participação. Primeiro, percebi desconforto. Quem é que gosta de arriscar-se em algo novo, quando há o aconchego dos hábitos costumeiros? Depois, percebi que a razão não deixava dúvidas, afirmando como senhora de longa estrada: eu consigo.
 
Mas não foi só a razão que orientou minha escolha e os meus passos. Foi também a intuição, aquele sentimento vago que sussurra como advinho: "vai valer a pena".

Na noite anterior, pensei mais de uma dezena de vezes no que podia esperar. No íntimo, eu me perguntava: por que inventei isso? Pra quê? Será mesmo que vai valer a pena?

Sem resposta clara, corpo e mente agitavam-se. Dormi mal, acordei diversas vezes e, se mantinha firme o propósito de ir, também permanecia a pergunta: pra quê? Respirar fundo, tocar o desejo mais íntimo e calar a mente foi o meu primeiro desafio. Venci calada a noite e a dúvida.

No sábado de manhã, vesti-me em paz. Percebi uma certa leveza nos meus gestos e era eu colocando o solene no ritual de preparo.

Foi com firmeza de propósito que cheguei e que cumprimentei a minha professora. Ao receber o  sorriso de boas-vindas, ao olhar em volta e ver beleza e paz no cenário, entendi que ali era o meu lugar.

Pra quê? Não precisava mais saber. Eu já estava vivendo algo bom e diferente. Será assim também com a vida?

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Desarrumada

Desarrumado é o que está fora de ordem, fora do lugar. Mas desarrumado é também o que não tem rumo? Sendo assim, não estou desarrumada. Sei do meu destino e estou num caminho bom. Acontece apenas que eu me mudei e mudar de casa mexe com a alma da gente.

Na mudança recente, o espaço parecia pequeno para tantas caixas. Era olhar e ver bagunça. Mas com bom senso e determinação, somados a muitas horas de dedicação, tudo se arruma. Tudo não. Algumas coisas foram doadas, dispensadas, substituidas. Elas não cabiam mais no novo ou já não serviam.

Olho para mim e penso em bagunça. As minhas caixas de intenções, sentimentos, memória, desejo e escolhas, entre outras tantas, estão expostas agora. Reviro conteúdos, faço escolhas e vou colocando tudo no devido lugar. Tudo não. Há muito o que dispensar, substituir, desapegar. Minhas escolhas mudam comigo.

O difícil é não confundir o tempo da crisálida com tempo parado, com bagunça consolidada. Há um movimento preciso e tudo segue no seu tempo. Eu acredito. É bom tirar tudo do lugar para avaliar, escolher, lustrar e, na calma do meu tempo, arrumar outra vez.

Daqui a pouco, pinto os cabelos, escolho outro esmalte, visto outras cores. E a casa vai ficar bonita.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Mudança de vida

Em dias de mudança, descobrimos as inutilidades da vida. Somam-se caixas com copos, pratos, panelas, livros, roupas, revistas velhas... Nelas, descobrem-se coleções que não são nem enfeites, uma dezena de bolsas de cores diferentes da moça que só ousa preto, sapatos para festas e para longas caminhadas de quem só anda na rotina do perto, blusa para o frio que não vem ou para usar aonde a gente não vai, livros que viram desassossego, por cobrar o tempo de ler ou reler, lembranças amargas guardadas num pedaço de guardanapo, só para não esquecer que já foi pior um dia.

Nas mudanças, a história sai dos seus guardados. Há fotos e, nelas, a ilusão de um momento eternizado. Nos acenos, sorrisos, gestos estudados e poses ensaiadas, revivemos amizade, festa, férias, mais presença e menos saudade. Um brilho no olhar, a mão estendida, o ombro amigo, tudo fica na caixa, separado por ocasião ou misturado como as emoções da gente. São como flashes do tempo, respingos de nostalgia que vem alegrar a bagunça da casa desmontada.

Nas mudanças, há achados emocionantes. Estavam ali, o tempo todo, o bilhete amoroso, a correntinha da sorte que se perdeu, o parafuso da máquina, a tampa da panela, a receita de pão. Há, ainda, achados desastrosos. O brinco que nunca mais será par, a chave da fechadura que já era, a declaração de amor que – descobre-se – tinha prazo de validade, o presente que não agradou, o pé de meia sem par.

Deve ser por isso que a gente oscila nas mudanças. Há tanto da vida que se viveu. E temos que escolher o que guardar, o que doar, o que jogar fora. Não saio apenas de um apartamento para outro, saio de um tempo para outro, de uma escolha para outra, de uma Iêda para outra. Saio mais leve, com algumas perdas e muitos ganhos. Saio renovada.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

À toa

Sem causa, sem porquê, sem aviso prévio. Foi assim. Eu estava desprevenida e quase nem vi quando um sorriso brotou. Acho que veio lá do fundo, das profundezas feitas de sonho, de crença nos homens, de amor incondicional, de aconchego, de família querida, de lembranças amigas. O sorriso brotou e eu deixei essa alegria pequena fazer curva no meu dia.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Acabo voando

Um nova tribo foi descoberta na divisa do Mato Grosso e Amazonas. Vi a mulher andando no mato, vi o guerreiro e o arco. A vida ali parecia andar em ritmo lento. Ora, ora o caos civilizado não entra na mata.

Ninguém ali sabe do SUS, ninguém sabe dos 20 centavos, ninguém morre de pena vendo gente passar fome, ou filhos desaparecidos, ou a vítima do último crime, ninguém tem amigo de Facebook, ninguém sabe de Belo Monte, ninguém sabe da Copa, ninguém sabe de mim.

Eu, que em meio a uma mudança e à bagunça típica do momento, perdi a paciência, o humor e a compostura, sonhei com o sossego da mata. Por um instante, aspirei àquela liberdade. E pensei em pés no chão, corpos nus, ar puro, verde, frutos, ops... espinhos, mosquito, filhos para parir, preguiça, longo caminho, susto, lama, bicho e... Passou! O fio que me conduz exige tecnologia.

Mas fica a inspiração de que a vida pode ser diferente. Não quero ser índio, mas cabe outra estrofe:

"Se Deus quiser
Um dia acabo voando
Tão banal assim
Como um pardal
Meio de contrabando
Desviar do estilingue
Deixar que me xingue
E tomar banho de sol,

Banho de sol
Banho de sol..."


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Seguindo em frente

Em momentos como este, de conquista e cansaço, gosto de me lembrar da crônica Hino Carioca, em que Vinicius de Moraes fala sobre um temporal que alagou o Rio de Janeiro. Naquela noite, ia ele seguindo com água até os joelhos, desafiando o aguaceiro e imprecando nomes feios, quando ouve de um homem que tirava água da garagem:

– "É pra frente que se anda!"

Há algo de reconfortante nessa frase. Mais do que isso, ela soa como um estímulo. Se está difícil, é pior ficar parado. E a vida oferece tantas possibilidades...

Acrescento para mim mesma, como consolo nos retrocessos, que dois para frente, um para trás ainda é seguir em frente.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Filme bom

Entendi de uma vez por todas que nem tudo tem explicação ou faz sentido nesta vida. Não tem explicação a tristeza que chega numa segunda-feira e acaba com uma caminhada na terça. Não tem explicação ficar em paz comendo pipoca e entalar com filet mignon. Foge a qualquer sentido o bem de uma gargalhada. Não faz sentido o mais tolo ser mais sábio.

Por isso, quero viver do modo como vou ao cinema. Lá, envolvo-me completamente e, independente de gostar ou não do filme, saio consciente de que sou dona de uma história e sou livre para mudar a cena, saio consciente de que, se não acabou ainda, o final pode ser feliz.

Quando vou ao cinema, saio em estado alterado e me delicio com a experiência. Apenas quero silenciar-me para curtir o bem-estar. E se alguém pergunta: O que você achou do roteiro? E da direção? Não dá vontade de responder. Explicações e porquês quebram a magia do sentir. Pois eu quero viver assim.

E se ficar difícil, eu digo: não acabou ainda.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Não faz mal

Já li o horóscopo. Parece que os astros estão em bom curso. Já meditei com absoluta confiança. Já dei prioridade para as tarefas que exigem menos entusiasmo. Já larguei tudo e fui resolver pendências na rua, sabendo que era só um pretexto para passear, respirar, sentir o vento no rosto. E nada adiantou. Nem o sol, nem o céu, nem o azul incrível, nem a minha consciência da falta de sentido deste estado de espírito.

Sim, não faz sentido. Tudo vai bem, o final de semana foi tranquilo, a saúde está boa, mas um dia ruim é assim, vem não se sabe de onde, leva-se não se sabe como e some sem porquê.

É quando os mais sábios se isolam e esperam, sabendo que amanhã é outro dia e que um dia ruim não é tão mal assim. Eu espero.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Livremente

Eu não queria ser livre pela força poética da palavra liberdade, embora isso fosse coerente com a minha alma e me bastasse como argumento nos dias de maior entrave. Eu quero ser livre por motivos bem banais e, como se trata de vida – da minha vida –, ouso considerá-los essenciais. E quanto mais o tempo passa, mais banais são meus motivos. Então, descubro que ser livre de verdade requer alguma maturidade.

Posso dizer que escolhi, por exemplo, a liberdade de não ter emprego fixo e uma carteira assinada, arcando com toda a dificuldade que resulta disso, só porque não há dinheiro e estabilidade que paguem a minha fuga de ontem à tarde. Ah, como eu fui feliz vendo as pessoas apressadas, enquanto eu, devagar, observava. Não, eu não era o personagem que move a engrenagem, era espectadora, admiradora, aquela que se distancia para curtir a história.

Ontem eu fugi da rotina. Pois eu quero ser mais livre ainda para isso, para fugir quando for preciso.

Eu quero ser livre para não me importar com a hora e poder ficar mais um tempo olhando para a pessoa querida ou para o cisne. É disto que eu preciso: de pausas para ouvir e para admirar. Eu não preciso de relógio para cronometrar o afeto e o prazer. Ser livre é aprendizado de administrar com cuidado escolha e necessidade, obrigação e diversão. Eu sei disso, aprendi que liberdade é poder – e saber – ouvir o coração.

Eu quero ser livre para dizer sim. Dizer sim à pipoca, ao filme antigo, à roupa colorida, à preguiça; dizer sim à dança, à música, ao desejo e à falta dele; dizer sim ao livro, ao presente, à união e à solidão; dizer sim ao sol e à lua, à noite e ao meio dia; dizer sim aos pés descalços, ao impulso e à caminhada; dizer sim nas despedidas e sim para a saudade que fica; dizer sim aos temperos novos, aos ingredientes diferentes e, em volta da mesa, saborear a vida... Livremente.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Eu canto

Quem canta os males espanta. Ouvi e acreditei. Embora cantar não fosse exatamente o meu maior talento – nem mesmo o menor –, cantei. Cantei para espantar o tédio e para afastar o pensamento renitente; cantei para espantar a preguiça e para esquecer a tristeza; cantei para espantar a raiva e para acompanhar a solidão. Cantei para ir à forra, para a desforra e por pura farra. Aí, um dia, descobri que o ditado tem raíz na sabedoria oriental

Não é de hoje que os mantras embalam o homem no caminho da virtude. Mas foi hoje que eu li o melhor texto sobre mantras a que tive acesso. Gostei e reproduzo abaixo em livre tradução ( o que quer dizer que não foi uma tradução profissional, mas de bom coração). 

Se preferir, vá direto à fonte: site Kundalini Yoga

Mas, se o assunto não te interessa tanto assim, pelo menos cante. Invente a sua moda de ficar bem. 


Mantras
A semente da virtude

By Guru Prem Singh Khalsa

Eu ouvi pela primeira vez o mantra budista Nam Myoho Renge Kyo, quando eu tinha 17 anos de idade. Era o ano de 1971. Foi-me dito que se eu cantasse esse mantra muitas vezes, com boa pronúncia e devoção adequada, a fortuna viria para mim. Eu costumava cantá-lo na esperança de que eu pudesse, pelo menos, encontrar algum dinheiro inesperado. Mas isso nunca aconteceu.

Eu queria dinheiro para comprar coisas para ter prazer em. Como eu tinha pouca luz, precisava de coisas para ser iluminado por. Claro que o dinheiro não apareceu. Então, eu parei de cantar. Honestamente, meu coração realmente não estava nele e eu tinha dúvidas.

Poucos anos depois, outro amigo me ensinou a cantar Sat Nam para ajudar a limpar karmas ruins. Isso eu fiz bem, mas sem efeito perceptível. Na época, eu tinha vinte e um anos e já tinha sido exposto a muitos mantras diferentes. No entanto, o meu coração não estava em nenhum deles. Algo estava faltando na minha prática reconhecidamente limitada. Eu estava cantando mantras para fins de auto-serviço, esperando que eles magicamente manifestassem meus desejos. Eu também tive a falsa ideia de que eu precisava cantar perfeitamente, acordar Deus, para que ele pudesse servir melhor os meus interesses.

Eu era o único que precisava acordar! Eu estava cheio de dúvidas, mas, mais do que dúvida, eu não tinha fé. Eu não tinha fé na eficácia de cantar um mantra. Eu não tinha fé na eficácia ou na potência do mantra. Sobretudo, eu não conseguia manter a minha mente focada e o meu corpo parado, mesmo que por poucos minutos. Os benefícios de cantar mantras exige paciência e uma prática regular, para que seja uma experiência bem sucedida.

Um mantra é uma projeção da mente à divindade (Man = mente, Trang = onda/projeção). É um som, uma forma de energia que tem estrutura e um efeito real sobre a mente, os chakras e a psique. A vibração de um mantra coloca você na freqüência em que está vibrando.

"Cada elemento do universo está em um estado constante de vibração, que se manifesta para nós como luz, som e energia. Os sentidos humanos percebem apenas uma fração da infinita gama de vibração. Por isso, é difícil de compreender que a Palavra mencionada na Bíblia é realmente a totalidade da vibração, que está subjacente e sustenta toda a criação. (ver nota*)

"Uma pessoa pode sintonizar sua própria consciência com totalidade por meio de um mantra. Ao vibrar no ritmo da respiração para um som particular, que é proporcional ao som criativo, pode-se expandir a sensibilidade, captando todo o espectro da vibração. É semelhante ao golpe de uma nota em um instrumento de cordas. Em outras palavras, da maneira como você vibra, o Universo vibra com você. "
Yogi Bhajan

Diz-se que cantar o nome de Deus, mesmo uma vez, desperta a verdade em você. De fato, só mesmo um indivíduo raro e abençoado alcançaria isso. Eu descobrir que, para o resto de nós, ajuda tremendamente a conhecer, ter fé e coragem. Conhecer o que o mantra significa e o que ele faz. Ter fé na possibilidade da experiência. Ter coragem para manter a prática.

Existem muitos mantras e palavras poderosos. Sat Nam é um Mantra Bij (um mantra semente). Significa nome verdadeiro ou a verdade é a minha identidade. Agora, quando eu ouvir o mantra Sat Nam, a compreensão do significado amplia a experiência. Aos poucos, desperta uma fé profunda de que a Verdade é a minha identidade. E é pela graça de Deus que eu alccanço esta experiência. Por isso, devo treinar com paciência.

Todos nós passamos por experiências que trazem à tona o lado sombrio do coração, deixando-o frio, quebrado, sentido, equivocado etc. Isso pode escurecer a nossa mente, bloqueiar a nossa luz interior e ofuscar a nossa consciência. Mas lembre-se, sem a escuridão, como podemos ver a luz?

A fé precisa de dedicação. A devoção fortalece a fé. Além disso, a devoção deve ser dirigida para a personificação da virtude. Em Japji Sahib, Guru Nanak afirma: "Não pode haver verdadeira devoção sem virtude interior". A personificação da virtude é um dos grandes propósitos da experiência humana.

Sat Nam pode ser traduzido como: "Meu coração é verdadeiro” e um coração de verdade dá à luz virtudes, tornando-se compassivo, caloroso, valente, leve... Eu acredito que o mantra semente Sat Nam pode ser plantado no solo fértil do meu coração e, com devoção adequada e um pouco de técnica, crescer em virtudes.

Ao aceitar a fonte – o Guru Nanak, que colocou o selo do Guru no mantra Sat Nam –, começamos a agir com fé. A fé não deve ser cega, deve vir a partir dos fatos sobre o próprio mantra. Se você tem fé nos fatos, então tudo o que resta é a coragem que você deve trazer para a prática. Então, quais são os fatos de Sat Nam?

Porque não basta afirmá-lo em português? Não seria suficiente? Não, a tradução não resulta numa vibração suficientemente potente. Parte da vibração do Sat Nam é "Ahh." Ao cantar este som, ele ressoa na região do peito. Cantar 'Ahh' acalma e traz uma sensação agradável, mas não se trata apenas disso. O objetivo é a escuta profunda, ou Sunia.

Som de Sat começa abaixo do umbigo, movendo-se em direção ao coração, onde o som do 'Ahh' vibra e sobe, acabando com o som do 'T' na ponta da língua (batendo entre os dentes da frente e o palato superior, a pronúncia do “T” final traz um estímulo para as glândulas. O néctar de cantar Nam nos leva a nossa identidade verdadeira, à verdade do coração. É necessário entoar o mantra corretamente, para que o som possa ressoar e vibrar em nossa "Sat Nam".

Eu já não procuro a verdade ou Deus. A verdade real e factual é que eu estou vivo. O propósito da vida é identificar que estamos vivos. Perceba que você está vivo, vivendo honestamente, vivendo em verdade!

Uma das formas mais poderosas de cantar Sat Nam é praticando Sat Kriya!

O vídeo abaixo mostra como praticar Sat Kriya corretamente:

(*) No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.
João 1:1-5

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Leve

Em cena, um homem numa cadeira de rodas. Atento, o menino nem piscava. A questão que me veio: será que ele está chocado? Será que ele entende a dor do homem?

Então, perguntei:
– Por que o homem está na cadeira de rodas?
 A resposta foi imediata:
– Porque ele não tem cavalo.

Vou descobrindo que final feliz é capacidade de imaginação.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Já passou

Passou o tempo, passou o gesto, passou o convite para o almoço, passou o gosto, passou o olhar atento enquanto a gente comia, olhar que era uma pitada a mais de carinho.

Passou aquele momento, passou a alegria de mais uma festa, passou a textura perfeita do doce, passou o estalo do biscoito na boca, passou a hospitalidade, passou a pergunta de como vai a família, passou o interesse, a interrogação, mas também passaram-se as dúvidas.

Passou-se mais um ano, uma década e mais uma. Passamos a página. Atônitos, olhamos o relógio. Constatamos que o tempo gira implacável. Em volta da mesa, já não estão todos. Há perdas.

Mas nem tudo passa. Ficam o amor, as lembranças e a história sempre bonita.

A dor da despedida também fica. Não tem problema, os ponteiros giram, o coração apertado afrouxa, entram novos afetos, novas histórias. A gente recomeça, porque tem força.

Se viver é uma linha que passa, a história é o que deixamos escrito. Algumas pessoas deixam belas obras. Outras, exemplo. Outras, ainda, deixam palavras. Como essas que escrevo agora e que não falam de despedida, falam de vida.

Neste hiato entre perdas e ganhos, como mãe que acalenta um filho, digo para minhas queridas amigas: Vai passar.

Já passou!

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Tudo

Li a frase:

"Há um gosto de vitória e encanto na condição de ser simples.
Não é preciso muito para ser muito".
(Lina Bo Bardi)

Depois, reli a vida. É tão bom achar preciosidade no dia a dia... Isso é tudo.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Sentimento em série

Afeto. Eu nunca tinha imaginado como uma palavra pode ser tão boa e tão ruim. Afetar é atingir, fingir, tocar, alcançar, influenciar... Atenção, senhoras e senhores, façam suas escolhas.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Comovente

Gestos são comoventes. Momentos também. Palavras – escritas ou faladas – comovem. Um minuto de silêncio vai além. Às vezes, lágrimas embaçam a visão de uma foto. É quando a imagem revela-se comovente.

Outro dia, eu vi a foto do casal abraçado em meio aos destroços de um prédio em Bangladesh. Não suportei a dor de olhar.

Depois, eu vi o pé de uma moça que se destacava no corpo coberto por um lençol branco. A fragilidade me comoveu.

Há momentos em que olho um braço largado sobre a mesa, ou costas encurvadas, olho mãos que param o movimento e pousam como borboletas cansadas ou joelhos, olho a perna desnuda ou uma orelha, quando a mão afasta o cabelo. Nesses momentos, fico constrangida como quem observa a intimidade de alguém pela fresta da porta. Mas o constrangimento passa, porque olhar o Ser sendo é comovente.

Então, eu descubro o que mais me comove. É gente.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Instante preciso

Precisão é necessidade. Precisão é assertividade. Escolho a segunda opção para falar da vida. Mais especificamente, para falar do instante em que a consciência capta a essência do viver.

Acontece quando menos se espera. Pode ser numa caminhada até a padaria, quando a mão direita encontra-se com a esquerda do companheiro e o conforto traz a certeza de que andar junto é bom. Instante preciso acontece quando há saudades e a gente liga e ouve uma exclamação de alegria do outro lado. Instante preciso é a alegria da vida compartilhada. Momentos de grande precisão existencial ocorrem em meio à multidão.

Outro dia, andando pelo centro da cidade, me vi atravessando a grande avenida com dezenas de pessoas e tive a certeza de que andávamos juntos. O nome dessa certeza é pertencimento. Pertenci mais à atualidade, dei vida ao conceito abstrato de humanidade, pertenci mais à cidade. Naquele instante preciso, eu me vi como personagem de uma cena que iria passar. Passamos. Tudo sempre passa. A tranquilidade do instante precioso é saber que a emoção salva a cena do esquecimento.

Todo instante preciso, quando passa, deixa marcas. Ultimamente, tenho ficado mais grata.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Desconfio

Desconfio que simplicidade é a melhor escolha. Desconfio que enfeites demais escondem. Desconfio que o bom da vida é estar em família. Desconfio que pertencer é grande. Desconfio que os mistérios se resolvem nas coisas pequenas. Desconfio que prazer é aprendizado. Desconfio que amanhã será lindo.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Confio em ti

Viver é se surpreender. Ou, antes, viver é aprender e reaprender. De vez em quando, em meio às circunstâncias rotineiras, repetindo um velho hábito costumeiro, percebe-se que uma grande verdade estava ali, o tempo todo, e ninguém nos alertou, e a gente não viu. Então, por acaso, decisão ou escolha, a evidência toma conta da casa, da gente, da vida.

Na segunda-feira, durante uma aula de kundalini yoga, fiz uma meditação para despertar a confiança. Sendo bem honesta, achei a postura bela, graciosa, um tipo de gesto e atitude que, em si só, já nos eleva. Mas foi só depois de algumas horas que a força da palavra revelou-se para mim.

Desde então, passei a degustá-la, como quem saboreia uma bala sem querer morder, calmamente, atenta ao gosto do momento. Podemos usar uma palavra em muitas circunstâncias pela vida afora, sem jamais nos atermos ao sentido abrangente, forte e estimulante que ela carrega. Na segunda-feira, sintonizei confiança, percebi confiança, vivi confiança e, a cada dia, descubro algo novo que eu já sabia o tempo todo, mas não tinha consciência. Somando tudo, descobri que a confiança é o que nos move.

E podemos começar lá do princípio mesmo, porque é preciso confiar nas próprias pernas para andar. Depois, é preciso confiar na família para ir e voltar, é preciso confiar no mestre para apontar o novo, é preciso confiar na gente para somar esforço, é preciso confiar no talento para trabalhar, é preciso confiar no homem para uma aliança plena, é preciso confiar na sorte para tentar, é preciso confiar no alívio para aguentar, é preciso confiar na vida para acordar.

Estou muito confiante agora. Tanto que, hoje, confio mais em mim e em ti. Confiança tem a ver com fé. Outra palavra para despertar.
Confiar e desabrochar: é bonito, é bonito e é bonito.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

domingo, 24 de março de 2013

Vida substantiva

A vida é bela. O tempo é generoso. E lá ia eu de novo com meus adjetivos. Mas esta não é a escolha. Hoje, a vida está substantiva. Cáqui colhido no pé. Banana-marmelo cultivada no quintal da casa. Casal de amigos. Torta de banana do tamanho da vontade. Chuva caindo lá fora agora. Janela. O lado de dentro e o lado de fora. Pingos que sutilizam a tarde.

A vida é susbtantiva no fazer e no não fazer nada, porque é domingo, tem preguiça, cama, calma, comida, garfo, faca, gosto, conversa, riso, depois do riso, gargalhada. Domingo feito criança, com filme, pipoca, livro, um convite amigo, rua, despedida do fim de semana. Tem muito no domingo substativo, menos medo da segunda.

terça-feira, 19 de março de 2013

Próxima parada

Quero o tempo de colher fruta no pé.

O tempo gira no relógio, assusta no espelho, passa a jato lá no alto, estica-se no ocaso. Mas não adianta. Nem atrasa. O tempo é sempre o mesmo, a percepção da gente é que muda o dia e a vida toda. Hoje, o dia está longo. Ontem, foi curto, em comum acordo com o fazer apressado.

Mas não tenho pressa, não me importo com a velocidade. Descobri, com o tempo passando, que a gente desacelera. Hoje, quero o tempo de índio deitado na rede, tempo de banho de rio, tempo de deixar pegadas na praia. Quero o tempo de catar grãos, de água fervendo, de transformação, de comida pronta. Quero o tempo de curtir al dente ou ao ponto. Mas quero o tempo sempre bem passado.

Passo diante do prédio onde morei e a árvore pequena, que mal alcançava a janela, está enorme e já não é minha. Paro o tempo de ver crescer.

Paro, às vezes, pela óbvia constatação de que não adianta correr. E paro agora.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Aula de mim

Uma mulher de baixa estatura e muita presença. Ela é assim, morena e baixinha, mas há algo no traje todo branco, na postura sempre correta e no turbante que prende os cabelos que acrescenta distinção e a impressão de mais alguns centímetros. Sobretudo, há algo na atitude que a engrandece. Um observador mais atento diria que há mais um detalhe importante, já que os alunos chegam e vão se assentando no chão, enquanto ela se assenta alguns centímetros acima, no pequeno praticável. Ali, estão dispostos tapete, almofada, cronomêtro, equipamento de som e i-pod. Enquanto ela se dirige para a turma – a minha turma –, é comum o olhar de quem está embaixo desviar-se para o retrato afixado logo atrás do praticável. A autoridade daquele olhar impõe respeito e dá poder às palavras.

Hoje, olhando em volta, eu podia ver mais três mulheres, três idades diferentes, três personalidades diferentes, três mistérios e o mesmo convite: decifra-me. Eis um convite que sempre aceito. Na minha imaginação, junto evidências, palavras soltas, o estilo da roupa, a postura, o passo, a voz, os gestos, junto tudo e vou compondo uma história. Por pouco tempo. De repente, olhos fechados, o que há são presenças idênticas, pessoas em busca, mulheres num caminho... Concluo que esta é a força de uma turma: gente sempre soma.

Do espaço que ocupo na grande sala, vejo o mundo lá fora. E o mundo parece distante. A analogia é fácil: aquele mundo fica cada vez mais longe, porque o tempo passa e eu me dirijo para o lado de dentro, lá, onde o mundo se apaga e eu me concretizo.

Além da vista, as quatro janelas amplas deixam passar o vento. Este é perceptível e se integra ao momento com uma sutileza que não desperta, traz cheiro e é carícia. Uns dias úmido, outros dias seco, agradável sempre.

E tem a música tranquilizadora, envolvente e, muitas vezes, pungente. A mente se perde nas notas e a gente se esquece das vozes. Ali, o diálogo interno é mais sensato, comedido e mais bonito.

Cenário e personagens descritos, há que se falar da prática. É desafio, descoberta, satisfação, tentativa, esforço, ganho...

Ganho. Escrevo esta palavra e vejo que ela diz muito. Escolhi praticar Kundalini Yoga em busca de equilíbrio, saúde, autoconhecimento. Um ano depois, posso dizer que ganhei um tanto de tudo isso. Mas, hoje, ouvindo a pequena grande mulher falar, descobri outras coisas preciosas que estou ganhando a cada encontro: o meu ser, a minha voz, a minha projeção no mundo.

Cantávamos um mantra e, de tempos em tempos, ela nos instigava a irmos além da repetição pura e simples: "Ouça sua voz. Conecte-se consigo mesma. Ouça quem você é. Acredite, projete-se nas palavras..." E nós repetíamos: "Humee Hum Brahm Hum!"

Eu sabia o significado daquelas palavras, mas acontece que a repetição com entrega me fez senti que, de fato, "nós somos o espírito de Deus".

No final da aula, restavam algumas palavras a dizer e eu digo agora: Sou grata, Sat Sangat, por ocupar um lugar na sala e nesta história, sou grata por estar conosco no caminho.
Inspiração.

sábado, 9 de março de 2013

Meus adjetivos

Sempre achei adjetivo próprio do que é bom e bonito. Eles despontam na frase para qualificar o dia lindo, a vida bela, a amizade gratificante, o trabalho perfeito... Estranhava-me que as regras da boa redação indicassem o uso comedido. Adjetivo é exibido. Hoje, eu sei que posso usar bastante, fazendo da transgressão uma nova regra. Aliás, ignoro até que o adjetivo se aplica também ao dia feio, à vida dura, à amizade estranha, ao trabalho ruim... No texto que escrevo, adjetivos reinam fartos e bonitos. Porque, no final das contas, quem escolhe o que entra na história da minha vida sou eu.

Adjetivo é a árvore florida na curva, é a estrada singela, é o céu azul, é o convite bem-vindo, é o passeio completo, é a fazenda da Ana, é um bom fim de semana. E fica aqui o registro com meus sinceros agradecimentos.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

História cotidiana

O menino de camiseta laranja correu atrás do carrinho. O carrinho era um trator bem pequenininho da mesma cor da camisa do menino e sobrava na palma da mão. A mão esticada quase tocou na moça de camisa também laranja, cabelo preto e corte Chanel. Laranja que faltou na logomarca do Banco Itaú, que era toda azul e estava estampada na camisa do rapaz que vinha na minha direção. E eu estava na direção aposta ao nascer do sol. O que não fazia diferença, estando o sol encoberto por nuvens. Nuvens que tornavam mais amena a caminhada.

A caminhada prosseguia e os passos eram largos. Largos como o vestido da velha senhora que não suporta mais vestido apertado e a idade só admite a elegância do conforto. Conforto que faltou ao homem gordo que usa tênis apertando os tornozelos e sua como se estivesse na sauna. Um suor diferente do suor da moça que corre ligeira. Tão ligeira quanto o rapaz que segue à frente e tem pernas fortes.

Fortes mesmo são os braços do rapaz que corta a grama, usando uma máquina barulhenta que solta fumaça e incomoda. Depois, o vento leva a fumaça e fica o cheiro gostoso de grama cortada. Cheiro de verde. Verde de vida. Vida que anda e passa.

Sou eu passando pela cena cotidiana, pesonagem de um momento inteiro que virou passado logo ali, na curva, quando eu olhei para trás e não reconheci mais a grama feia que, agora, está bonita.

O menino de camiseta laranja está chorando. É pirraça. O senhor que medita com a coluna ereta está de branco. Muito calmo. O rapaz de macacão laranja segura a vassoura e assobia na sombra. A árvore está mais verde. Choveu ontem à noite. O cachorro manco corre desengonçado atrás do coco. A moça gorda conversa com o cachorro obeso preso pela coleira desnecessariamente. Fico com pena e passo rápido. Amanhã esqueço.

Hoje é outro dia. Isso é outra história.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Ponte

Respiro e sei que existo. Mesmo de olhos fechados, sei do lugar que ocupo. Se os abro, vejo quem sou agora. E descubro que realidade é uma ponte que liga o que era ao que será. O instante já define-se entre brumas. O resto é história.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Raridade

Ouço a música e fico atenta ao trecho em que o compositor declara: "viver é tão raro!" O pensamento zen que, mais do que tudo, é atitude e tem a ver com o momento presente, com o estar atento para as raridades do viver, leva-me a outras elucubrações.

Penso que é raro a gente acordar para ver o dia nascer e se sentir em paz com o tempo que tem. É raro desfrutar com calma um bom prato, sem preocupações com o relógio, com as calorias ou com agrotóxicos, apenas explorando as alegrias do paladar. É raro acordar no meio da noite, abrir os olhos, ver o ambiente conhecido e voltar a dormir na paz dos que encontram o seu canto. É raro olhar para o lado e se encantar com a beleza e com o afeto de uma presença companheira e amiga. Tambem é rara a percepção da leveza de um andar sem dor, raridade que só o convalescente sabe dar valor.

São raros os momentos em que os braços se alargam para o aconchego de um abraço, quando os ouvidos captam nas palavras costumeiras a tradução de um afeto verdadeiro e quando a boca se cala pelo incomunicável. É rara a percepção da respiração, do ar que entra, revitaliza e dá vida até o último suspiro.

São muitas as raridades. E cada um tem a sua lista. A minha poderia continuar longa, mas o tempo é raro e eu vou ali desfrutá-lo. Deixo a inspiração: "Vai, aproveita a vida! O que há de raro neste momento, se não ele mesmo?"

Raro é o arco-íris depois da chuva e o olhar que eleva-se para ver.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Sinal de vida

A moça estendeu o braço e acenou para a mulher que passava do outro lado da rua. O gesto queria dizer alguma coisa, como: "estou te vendo". Mas o sorriso que se somou ao aceno disse mais: " Que bom te ver!" E o afeto era correspondido. E elas passaram. E o tempo passou. Eu passei. Mas a imagem fixou-se renitente, como uma música que a gente canta um dia inteiro, mesmo sem querer. Comecei a pensar na forma como passamos e como a vida passa. Agora mesmo, penso nisso.

Não, não me refiro ao meu andar ou ao andar da mulher lá do outro lado da rua. Não me refiro ao adeuzinho corriqueiro remetido ao esquecimento. Refiro-me ao passar que deixa marcas, deixa lembranças, deixa registros, como fotos, restos, ruinas e sinais da vida que passou. A humanidade vai seguindo e deixando rastros.

Latas de extrato de tomate somam-se a latas de leite condensado. O papel que limpou o suor carrega a gota seca que revela o esforço, que também passou. A camisa suja de batom, o fio de cabelo e a cama desarrumada. A marca no colchão também fica. Fica a marca da mão que errou o interruptor e foi deixando na parede um tom sobre tom. No alto da cabeceira, permanecerá a marca da cabeça que se encostou, enquanto o homem relia um poema de Drumond ou o Kaputt, de Curzio Malaparte, histórias vividas e inventadas. Num canto do armário, fica a camisa com o colarinho manchado e o sapato gasto pelos pés do morto. Nos trajes, ficam rastros do corpo que não ficou. Vão se as horas, a vivência, o sabor e o suor, vão se os homens e as casas, ficam marcas que o tempo apaga.

Mas não apenas isso. Cismo em acreditar e colocar em evidência outras lembranças, outros sinais e memórias que dão vida, mesmo depois que se passa. Um livro escrito, o DNA e a educação em um filho, os frutos na árvore que se plantou... E, se isso não bastar ou for difícil, ficam os sinais da delicadeza, do bom gosto, do trabalho, do respeito e da gentileza.

Grandes torres gêmeas e até muralhas caem, Wall Street despenca, o mundo entra em colapso, mas as grandezas sutis ficam. Os rastros do belo não se consomem com o tempo. Como memória de alguma humanidade, ficarão os gestos sem importância, como o tropeço e a pedra que o menino carregava nas retinas fatigadas e virou poema, como a mão que a moça não tirou e o toque carinhoso que veio. Se, no fundo dos nossos baús, houver registros de emoção verdadeira, a vida terá sido realmente vivida. Se nos rastros deixados, houver gestos de amor, ela terá sido bela. Agora, a mulher passa e acena. 
Viver não se trata da última gota. Trata-se de gota após gota, após gota.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Livre

Que bom que eu posso voar. Agora mesmo, tirei os pés do chão. Vou pensando e passando de um pensamento a outro sem compromisso ou conclusão. Depois, vou me lançando no vazio de pensamentos, quietinha, em silêncio contemplativo, sem intenção nenhuma e fico mais leve, fico entre o sou e não sou. Nesse estado – de espírito – acabo sendo... Totalmente livre.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

De primeira

Não tem jeito, não dá para começar o ano a 100 por hora. É preciso engatar a primeira, pensar na vida, nos planos e sonhos, renovar o ânimo e, então, acelerar. Sei, por experiência, que fazer uma boa faxina, além de preparar a casa, de dar espaço para o novo entrar, também ajuda a organizar as ideias. Limpando, jogando fora, reciclando, lustrando e renovando... É assim que eu começo o ano. Bem devagar por enquanto.

A novidade de 2013 são as imagens da inspiração. Aqui, a paisagem das férias em momento zen do verão. Inspiro, expiro e recomeço!